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novembro 14, 2006
Bienal ETC. Por uma inserção crítica e plural, por Fernando Oliva
Bienal ETC. - Por uma inserção crítica e plural
Projeto on-line lança ensaios inéditos de críticos, artistas e escritores, convocando os leitores à participação, na tentativa de adensar o debate em torno da 27ª Bienal de São Paulo.
Com o intuito de lançar um olhar crítico e abrangente em direção à 27ª edição da Bienal de São Paulo, o Canal Contemporâneo concebeu o Bienal ETC., projeto on-line interativo que se dispõe, por meio de uma série de ensaios inéditos, a dar início a um debate aberto sobre os significados da megaexposição, as inserções que ela efetivamente promoveu no tecido cultural da cidade e do país, e sua relação com o universo da arte no Brasil e no mundo.
Após um mês e meio da abertura ao público de sua "seção expositiva", e a um mês de seu encerramento, parece ser este o momento ideal para se tomar distância crítica e procurar adensar as discussões, na direção oposta à das críticas apressadas, do mero opinismo e dos comentários de bastidor.
Uma vez que estamos falando de um evento de dimensões gigantescas (são mais de cem artistas, ocupando uma área 25 mil metros quadrados a ser percorrida), é possível inventar uma Bienal diferente a cada visita ao Pavilhão. Neste sentido, o Bienal ETC. fez escolhas temáticas pontuais, buscando recortes conceituais que dessem conta da complexidade de um projeto cultural que buscou articular as obras de arte expostas com seis seminários, quatro publicações impressas e o pensamento de Roland Barthes, Marcel Broodthaers e Helio Oiticica, além de Gordon Matta-Clark, Nicolas Bourriaud e Renata Salecl, entre outros.
A escolha do curador por meio de apresentação de proposta e concurso, sistema mais profissional e transparente; a extensão do evento para todo um ano de seminários, no lugar de uma exposição pontual de apenas dois meses; a presença de residentes estrangeiros no Acre, Pernambuco e São Paulo; um colegiado de curadores trabalhando em conjunto com uma curadoria-geral; o deslocamento de artistas e arte-educadores à periferia da cidade; a Quinzena de Filmes; a autonomia curatorial reafirmada com o fim das representações nacionais. É incontornável o fato de que esta edição da Bienal conseguiu promover transformações profundas e necessárias - de certa forma traumáticas - em uma estrutura que se mantinha praticamente inalterada há mais de 50 anos. É necessário agora refletir não apenas sobre o significado destas mudanças, mas também sobre o papel de uma bienal brasileira no momento em que as bienais se transformam em eventos-instituições globais (e 33 novas bienais foram criadas nos últimos 10 anos, especialmente em regiões consideradas culturalmente periféricas), lutando por inserção e ressonância internacional, sob o risco de sucumbirem sob o ostracismo e o isolamento.
Os ensaios serão publicados na seção Arte em Circulação, periodicamente a cada semana. Entre os ensaístas do Bienal ETC., leremos textos da crítica e pesquisadora Heloisa Espada (que se detém sobre a questão da fotografia e do documental na exposição, particularmente as imagens do sul-africano Pieter Hugo, um dos trabalhos mais está chamando atenção do público); da professora de antropologia e estética na PUC-SP, atuando em uma perspectiva transdisciplinar (literatura e artes plásticas), e estudiosa de Roland Barthes, Mariza Werneck (que promete acabar com os mal-entendidos em torno do conceito de "viver-junto"); do escritor Marcelo Rezende (que analisa a obra de Dominique Gonzalez-Foerster e se pergunta: afinal, onde está o moderno?); do crítico e jornalista Daniel Hora (que, à luz dos problemas levantados por Nicolas Bourriaud e Claire Bishop, escreve sobre a arte colaborativa de ações como Eloisa Cartonera e Taller Popular de Serigrafia); além das visões de cunho pessoal dos artistas Carla Zaccagnini, Henrique Oliveira (que entrevista Mauro Restiffe), Rafael Campos Rocha (criador do termo "Bienong"), Ricky Seabra (que publica carta dirigida ao ativista Jimmie Durham) e Alberto Simon.
A coordenação editorial do Bienal ETC. é do crítico Fernando Oliva, colaborador das revistas Lapiz, Contemporary e C, e que escreve sobre a obra da artista holandesa Barbara Visser e suas relações com o conceito de modernismo na arquitetura e no design; sobre a atuação da artista espanhola Lara Almarcegui nos vazios de São Paulo; e sobre a experiência da canadense Susan Turcot no Acre.
Por fim, é fundamental lembrar que o Bienal ETC. é um projeto que está aberto aos posicionamentos e comentários críticos dos leitores on-line, convocando à participação e, de certa forma, ecoando a livre enquete lançada pela seção Fórum do Canal Contemporâneo, em maio do ano passado, quando a votação dos internautas antecipou corretamente o nome do projeto vencedor, da curadora Lisette Lagnado.
Textos publicados no Bienal ETC.:
Pieter Hugo e a fotografia que nos olha, por Heloisa Espada
Bienong - Ou como viver junto do jeito que eu quero, por Rafael Campos Rocha
Farpas - Relatório de um fiscal, por Alberto Simon
As coisas vistas todos os dias, por Marcelo Rezende
Psicologia da paisagem - Uma entrevista com Mauro Restiffe, por Henrique Oliveira
Sobre a subjetividade na era da reprogramação digital, por Daniel Hora
Com Barthes, na Bienal, por Mariza Werneck
Modernidade, credibilidade e ironia - Uma conversa com Barbara Visser, por Fernando Oliva
Mais do mesmo, por Carla Zaccagnini
O espectador não faz a obra, por Paula Alzugaray
Os terrenos baldios de Lara Almarcegui, por Fernando Oliva
O que o Acre tem a nos dizer - Entrevistas com Marjetica Potrc e Susan Turcot, por Fernando Oliva
Jorge Macchi, desejo de permanência, por Silas Martí
Eu só posso louvar o CANAL e o Fernando Oliva por um trabalho tão plural e sério, na pesquisa e nos conteúdos veículados, independentemente das escolhas de cada autor. Não vi nada igual e agradeço a atenção pelo trabalho dos curadores que se comprometeram a mudar o formato da Bienal de São Paulo. Falta debate e vocês estão propondo. E que depois não venham lamentar a falta de espaço para a circulação de idéias.
Valeu! Abs, Lisette