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novembro 4, 2006
Dez motivos para não perder a Paralela, por Juliana Monachesi
Dez motivos para não perder a Paralela
JULIANA MONACHESI
1. Tem só mais duas semanas de duração, reúne obras de 146 dos melhores artistas brasileiros em atuação hoje, consegue -na maior parte dos casos- escolher o melhor de cada um deles (a pesquisa mais recente, a ousadia mais bem-sucedida, o trabalho de virada), e aposta na convivência, às vezes harmônica, às vezes conflituosa, entre as tendências mais díspares da produção contemporânea brasileira. É uma exposição generosa, bem-cuidada e aberta ao debate, sem dogmatismos quaisquer nas entrelinhas.
2. Poder ver, logo na entrada, a crítica ácida de José Damasceno ao mercado de arte, com sua pilha de Credit Carpets. Nada mal para uma exposição patrocinada pelo próprio mercado de arte. Mais democrático e auto-reflexivo do que isso, impossível.
3. Ter acesso ao que há de melhor na pintura contemporânea brasileira e lembrar que a linguagem, cuja morte já foi anunciada ad nauseam, vai muito bem, obrigada. Alguns exemplos disso são a pintura acima, de Paulo Almeida, as telas de Mariana Palma, uma obra novinha em folha (que saudade que eu estava de ver novos trabalhos dela) de Marina Saleme, as pinturas de Luiz Zerbini, Vânia Mignone, Marco Paulo Rolla, Dora Longo Bahia, Carlos Uchôa, Fábio Miguez, Cristina Canale, entre tantos outros.
4. Apreciar, lado a lado, uma escultura-gambiarra de Alexandre da Cunha e uma pintura impecável de Paulo Pasta. Os diálogos estabelecidos pela curadoria são corajosos e, mesmo quando parecem sugerir um confronto (como poderia ser o caso no exemplo citado), acabam por criar novas possibilidades de conversa entre produções distintas.
5. Ter a oportunidade de ver em São Paulo o Pão de Açucar invertido que Carlito Carvalhosa concebeu originalmente para o MAM do Rio; para quem não tem condições de fazer a função-ponte-aérea para ver o que está acontecendo na fervilhante cidade maravilhosa, é um presente poder ver pessoalmente essa obra de grande impacto e presença assombrosa no pavilhão do Ibirapuera. Fora tudo, não deixa de ser uma transgressão do artista recontextualizar o ícone carioca dentro do nosso principal parque.
6. Conhecer mais uma empreitada do incansável Henrique Oliveira, o artista jovem mais promissor e mais cobiçado dos últimos tempos em São Paulo. Outro trabalho dele pode ser visto na Mostra Fiat Brasil, no Porão das Artes da Bienal, a partir da próxima semana. A intervenção de Oliveira estabelece um diálogo com sua produção pictórica (ou seria vice-versa?) e, desta vez, parece mais entranhada do que nunca na arquitetura.
7. Dar um sorrisinho besta ao ver que alguém colocou uma moeda na mão do Pedinte, escultura de Tiago Carneiro da Cunha.
8. Observar o edifício que abrigava a Prodam, ver o parque através das janelas e outras brechas algo capengas que a organização da Paralela optou por não esconder, dando a ver um prédio que está deteriorado, bem no meio do caminho entre um tipo e outro de uso. A fotografia da Camila Sposati, com um sinal de fumaça suave (e verde, como o parque) saindo de um barquinho abandonado, parece mimetizar o contexto onde está exposta.
9. Reencontrar a poesia do trabalho de Cláudio Cretti, da série Onde Há Pedra Aflora, com novas experimentações formais, uma obra que vai sempre se adensando e cada vez mais conjugando matéria orgânica e mármore, o canônino material da tradição escultórica, agora confundido também com lâmpadas, perdendo definição, enveredando por uma pesquisa que ainda vai trazer muitos ruídos para a história da escultura modernista brasileira.
10. Pô, ver videoinstalação nova do Eder Santos. Sempre bom, né?