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janeiro 7, 2006
Desconstruindo o Panorama, por Juliana Monachesi
Desconstruindo o Panorama
JULIANA MONACHESI
Acaba amanhã e nem comecei a entender ainda. O tempo de duração das exposições deveria ser proporcional ao seu grau de complexidade. Curadoria simples, seis semanas. Curadoria complexa, seis meses.
Classificar a produção contemporânea, como o fez o curador do Panorama MAM 2005, Felipe Chaimovic, segundo gêneros acadêmicos (paisagem, natureza-morta, retrato, emblema, cenas históricas, sacras, alegóricas e de costumes) parece anacrônico em uma primeira visada. Com que objetivo um panorama da arte atual nos remeteria ao século 19?
Mas os gêneros em que eram então subdivididas as pinturas não são categorias mais aleatórias do que os temas que organizam a arte contemporânea em qualquer exposição coletiva. A curadoria de Chaimovic configura-se, neste sentido, como uma tomada de partido: o retorno da "mão forte" do curador.
Vejamos se não. Cada artista é representado por uma única obra, ou então por um pequena série. Nada foi feito especialmente para o Panorama: trata-se de uma exposição de obras já expostas anteriormente em contexto diverso.
A força desta mostra vem das aproximações entre as obras e da potência destes núcleos que, levados às últimas conseqüências, organizariam toda a produção brasileira atualmente. Não é uma exposição de obras, em que uma chama mais a atenção que a outra, nem de artistas, não se podendo dizer que um ou outro claramente se destaca na mostra.
A seguir, um comentário sobre as obras respeitando a regra proposta pelo curador. São análises curtas e gerais (sempre referindo-se ao grupo de trabalhos reunídos em cada núcleo temático do Panorama), que mimetizam as máximas curatorias espalhadas pelo MAM em um projeto museográfico e montagem impecáveis.
[As citações de Chaimovic estão reproduzidas entre colchetes, em itálico.]
COSTUME. Os "interiores" conquistam o espaço real. Cotidiano subvertido.
[Uso de ambiente humano. Hábito do dia-a-dia. A comédia de nossos semelhantes.]
Pitágoras
João Loureiro
José Bechara
Marco Paulo Rolla
Diego Belda
Paulo Bruscky
Walda Marques
NATUREZA-MORTA. A TV e outros simulacros.
[O inerte. Arranjo de objetos de mão.]
Elder Rocha
Mário Simões
Valdirlei Dias Nunes
Luiz Sôlha
ALEGORIA. O artista como personagem e os objetos como alteridade.
[Imagem do que não pode ser dito. Ciclo mítico. Tabu.]
José Patrício
Cristiano Rennó
assume vivid astro focus
Rosângela Rennó
José Bento
Daniel Senise
Fernando Lindote
Mestre Didi
EMBLEMA. A escrita como forma e conteúdo. Paráfrases e pastiches.
[Misto de letra e figura. Síntese de mensagem. Escudo, logotipo.]
Yiftah Peled
Mabe Bethônico
Gilvan Samico
Caetano de Almeida
Rodrigo Andrade
RETRATO. Retratística de cunho urbano. Projeção de imaginário popular.
[Semelhança do caráter pessoal. Duplo de si. O outro.]
Paulagabriela
Grupo Empreza
Pazé
Carlos Pasquetti
Walmor Corrêa
RELIGIOSIDADE. Dourados de céu. Corpo e gestos ritualizados.
[A luz e sua natureza. Produção meditativa.]
Franklin Cassaro
Francisco de Almeida
Kboco e Herbert Baglione
Tony Camargo
Miguel Chikaoka
Chiara Banfi
HISTÓRIA. Invenção e obriteração do passado.
[Do Brasil ou da arte. Lembrar ao público.]
Caetano Dias
Marcelo do Campo
Mauro Restiffe
Fabiano Gonper
Júlio Ghiorzi
PAISAGEM. A natureza internalizada. Cultura como segunda natureza.
[Figura de lugar. Construto geológico conforme regra artificial. Composição a partir do horizonte.]
Nuno Ramos
Paulo Meira
Eder Santos
Júlia Amaral
Marilá Dardot
Torreão
Roberto Bethônico