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maio 5, 2021
Obra-Arquivo MAB: Mesa-redonda 2 online
No próximo dia 6 de maio, quinta-feira, às 19h30, acontece a Mesa-Redonda 2 da mostra coletiva Obra-Arquivo MAB, que reúne obras dos artistas visuais que participaram da residência artística realizada durante o período de reforma do Museu de Arte de Brasília (MAB), em 2019. Os artistas Lino Valente, Luciana Ferreira, Mario Jardim, Mauricio Chades, Valéria Pena-Costa e Yana Tamayo falarão de seus processos e dos trabalhos resultantes da residência artística. Com duração de 1h30 e tradução em Libras, a mesa-redonda será mediada pela curadora do projeto, Cinara Barbosa, e transmitida pelo canal do Youtube. A participação é gratuita e livre para todos os públicos. A mostra Obra-Arquivo MAB segue até 20 de maio, com visitação pelo Instagram @obraarquivomab.
MESA-REDONDA 2
Lino Valente
Obra: Cidadão
Série: O mundo é de quem não sente
Técnica: Fotografia impressa sobre folha de acetato, madeira, folha de vidro, acetato, painel de led
Iniciei minha residência no MAB por uma espécie de deriva, guiada por aspectos que provocassem meu imaginário. Os registros eram efêmeros, duravam exatamente um piscar de olhos ou "um click", isso me encantou. Com o passar dos dias, os ruídos e barulhos dos maquinários e ferramentas começaram a fazer sentido, algo extremamente ritmado, coordenado por operários uniformizados, parecia uma grande orquestra. O movimento dos operários com suas ferramentas e maquinários era o meu interesse maior, é o que representava toda imaterialidade. O movimento dos operários com suas ferramentas e maquinários era o meu interesse maior, é o que representava toda imaterialidade. Para captar os "borrões" provocados pela repetição, intensidade e exaustão dos movimentos utilizei a velocidade do obturador da câmera muito baixa, o diafragma da lente bem fechado por conta do excesso de luz, somando movimentos intensos e que muitas vezes imitavam os próprios movimentos dos operários. O momento de seleção das fotos foi mágico, uma real proporção do que realmente foi fotografado.
Com formação livre em Audiovisual, Lino Valente é artista visual, filmmaker e professor. Trabalha com as linguagens e suportes da fotografia e do vídeo de forma híbrida e expandida, propondo micronarrativas visuais de um cotidiano imaginário.
Luciana Ferreira
Título: Visita
Linguagem: Ação performativa
Técnica: Vídeo (com áudio)
Visita é uma vídeo-performance de Luciana Ferreira, com duração de seis minutos, que registra a ação de uma visita ao Museu de Arte de Brasília. A ação ignora o fato de o museu estar em obras e percorre suas paredes e espaços amplos – agora tomados por andaimes, entulhos, ruídos de serralheiras e britadeiras – em busca das obras de arte do seu acervo que deveriam estar expostas, em uma contemplação-testemunho da obra ausente. A ação é finalizada com o gesto de deixar cair no chão – também desconstruído pela reforma – o catálogo do acervo do museu que foi lançado na ocasião da sua inauguração.
Luciana Ferreira é graduada e doutoranda em artes visuais pela Universidade de Brasília. Seus trabalhos envolvem ações registradas em vídeos, intervenções em livros, subversões de leituras e experiências sonoras com ruídos. Todas estas frentes propõem algum tipo de desconstrução narrativa. A surpresa e o estranhamento constituem a experiência comumente vivenciada, convidando à desconstrução de expectativas e conceitos por meio de um olhar que escapa e, portanto, subverte as convenções instituídas, mesmo as mais banais. Neste sentido, sua dimensão é também política.
Mário Jardim
Título: Sem título
Série: Despachos
Técnica: Instalação, pipoqueiras elétricas, pipoca e alguidares de cerâmica
Os trabalhos, desenvolvidos para o projeto obra-arquivo/MAB, remetem à pesquisa sobre arte, religião e tecnologia iniciado na UnB no final dos anos 80 pelo coletivo “eficácia simbólica”. Fazem, também, referência à instalação e à performance, realizada no subsolo do MAB por ocasião do Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plástica. Os objetos e instalações estão voltados ao debate do sincretismo religioso e tecnológico operado no âmbito do imaginário popular, levando-se em conta as tensões contemporâneas entre tecnologia e religião. Importante registrar que a produção decorre da abordagem da experiência religiosa como manifestação estética tomando por premissa a identidade entre o fenômeno artístico e a experiência místico-religiosa. O artista não faz distinção entre Arte e Religião.
Cientista social e artista plástico, Mário Jardim é formado em Antropologia/Etnoestética - UnB/PPGAV-EBA/PPGDesign-UnB. Área de interesse: Arte e Religião - substrato material das manifestações religiosas na cultura afro-brasileira-ameríndia. Produção: reconstruções estéticas baseadas na visualidade própria à parafernália litúrgica/ritualística popular. Linguagens: performances, objetos, instalações, gravuras, desenhos e pinturas. Atuação: curador e/ou artista plástico em instituições como MAM-RJ, Univ. Estácio de Sá, Fund. Athos Bulcão, Museu Nacional da República, Centro Cultural 508 Sul, Fund. Catarinense de Cultural - CIC, Pinacoteca de São Paulo, Galeria deCurators.
Mauricio Chades
Título: Revolução / Raio-bica-banho-verde-de-manjericão no Museu
Linguagem: Vídeo / Performance
A videoperformance Revolução / Raio-Bica-Banho-Verde-De-Manjericão aconteceu durante a residência artística Obra-Arquivo-MAB e foi impulsionada pelo calor e seca extremos que se somavam à configuração insalubre do canteiro de obras. Queria me refrescar naquele ambiente empoeirado, então logo percebi a possibilidade criar uma bica d’água a partir das antigas tubulações do museu em ruínas. O manjericão da horta do condomínio ao lado foi o ingrediente para tornar o banho um raio verde. O trabalho foi inicialmente pensado com uma ação a ser compartilhada com os diversos atores presentes que quisessem se refrescar, operários e artistas. Mas as restrições de segurança não permitiram o evento.
Maurício Chades é artista visual e cineasta, mestre em Arte e Tecnologia e Bacharel em Audiovisual pela Universidade de Brasília. Cursa MFA na SAIC School of the Art Institute of Chicago, no departamento de Film, Video, New Media and Animation. Trabalha com temas como decomposição, rituais de morte, ficção especulativa, relações interespécie e tensões territoriais, em trabalhos que assumem diferentes formas a cada projeto –filme, instalação, escrita, bio-arte-e-tecnologia e performance. Participou de exposições coletivas e exibiu filmes e vídeos em festivais nacionais e internacionais. Em 2019 apresentou sua primeira exposição individual, Pirâmide, Urubu, na Torre de TV Digital de Brasília.
Valéria Pena-Costa
Título: Anonimato 3
Série: Escombros
Técnica: Tecido, cimento e tinta acrílica
O vestido infantil é peça recorrente no meu trabalho. O vestido é a criança e/ou a sua memória que trafega entre capítulos bastante importantes de minha longa narrativa. Novas imagens, novos experimentos. Transformo o vestido infantil em personagem. O vestido se banha (ou se afoga?) num tonel de água que serve à britadeira. Aqui se define um novo rumo para o trabalho. As ideias de tintas, arqueologia, réplicas de cimento, continuidade ao uso dos vestidos infantis se juntaram. Surgem os vestidinhos enrijecidos pela tinta cor de concreto e banhos de cimento. Além dos vestidinhos, galhos de árvore também são pintados, simulando o que já seria um simulacro: galhos de cimento. Minha nova versão dos vestidos em árvores da série “Capítulo dos Contos Encantados”. No MAB, andamos pelo prédio e canteiro, à procura do lugar ideal. Uma pequena sala crua, em cimento bruto, no subsolo, lugar que será um banheiro, tem o tamanho e a penumbra ideais criando a atmosfera que desejo. É um espaço possível de descobertas arqueológicas ou mimetismo do objeto ao ambiente de escombros, ainda que em reconstrução. Ainda é um vão. Ainda é vazio. Ainda é ausência. O objeto é a chave da memória.
Valéria Pena-Costa é artista visual, com bacharelado em pintura, pela Universidade de Brasília. Vem realizando exposições coletivas e individuais, tendo também, em sua trajetória, participação em coletivos de arte, residências artísticas e atuação em curadorias. Utiliza-se de múltiplas linguagens no desenvolvimento do seu trabalho, cujo tema central é Tempo e Ausência. Tempo desdobrado na Decomposição das coisas e na Memória coletada. Decomposição, esta, que se dá ao acompanhamento e observação do fenômeno em andamento - no gerúndio da ação. Realiza o Projeto Fuga, que consiste em movimentos seriados de mostras de arte, oficinas, ciclos de encontros culturais, residências artísticas a partir de seu ateliê, onde também realiza a Feira do Fuga.
Yana Tamayo
Título: Pulso (Ocupação sonora)
Técnica: Lista de músicas selecionadas e executadas ao longo do período da residência, na obra de reforma do MAB.
O trabalho proposto para a Residência Obra-Arquivo MAB buscou investigar o período em que o edifício do Museu de Arte de Brasília teria abrigado o Casarão do Samba, pouco tempo antes de tornar-se um museu de arte. O interesse pela ocupação musical do prédio se dá por sua existência efêmera e conectada à cultura popular, incomum nas divisões sócio-espaciais que marcam a modernidade brasileira. A pesquisa pela documentação dos bailes nos arquivos públicos da cidade, frustrada pela ausência de qualquer tipo de catalogação, terminou levando à observação das dinâmicas intrínsecas à ocupação do território como continuação dos gestos que produzem este espaço e, consequentemente, o apagamento das memórias de resistência na cidade.
[1978, Brasília, Distrito Federal. Reside e trabalha em Brasília]
Yana Tamayo é artista visual, educadora e curadora independente. Desde 2000 trabalha em diferentes frentes no campo da arte, sendo que sua produção como artista sempre esteve intercalada pela prática da curadoria e da educação. Propõe em sua pesquisa artística um diálogo poético entre memórias e imagens que possam conectar histórias, materialidades e narrativas sobre a modernidade. É sócia-fundadora da NAVE, espaço de produção e pesquisa em arte e educação, em Brasília. Entre 2018 e 2020 foi coordenadora do Programa CCBB Educativo – Arte e Educação, no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB/DF.