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junho 2, 2010
Experiência mágica por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 28 de maio de 2010
Mais que simplicidade, Zilvinas Kempinas preza pelo mínimo, mas não no sentido do “menos”, já que as leituras conceituais permitidas por seus trabalhos são vastas e não necessariamente complicadas. São instalações? Esculturas? Tentar classificar a produção do artista lituano é, de certa forma, uma celeuma inócua entre aqueles que pensam a produção artística contemporânea em termos de suporte ou estilo. “Existem “coisas” que estão sempre entre as fronteiras convencionais e, por isso, eu as acho mais interessantes”, diz o artista. Enquanto alguns críticos tentam referenciar sua obra se apoiando em gêneros artísticos, como a op art ou o minimalismo, sua maior virtude está na simplicidade da escolha do material de trabalho: a fita magnética.
O artista cria estruturas que utilizam essas fitas, hoje superadas pelo suporte digital, elaborando situações poéticas e altamente lúdicas, que levam o observador a uma experiência sensorial que não se limita à ilusão de ótica, mas beira a imersão corporal. Esse é o caso da instalação “Tube” (foto), criada para a Bienal de Veneza, em 2009. Originalmente, a instalação, um túnel de 26 metros feito de fitas magnéticas, ocupou a Scuola Grande della Misericordia in Cannargio, um edifício abandonado do século XVI, em Veneza. Pela primeira vez no Brasil, na Galeria Leme, o artista adaptou a obra para o espaço projetado por Paulo Mendes da Rocha. Mesmo em três metros de túnel, o efeito criado pelas fitas alinhadas cria a sensação de uma longa passagem e proporciona a visão de uma aura luminosa que aumenta, à medida que nos aproximamos do fim do percurso.
Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, a exposição conta, além de “Tube”, com outras cinco obras, também com a fita magnética em sua composição, como “Lemniscate”, de 2008, em que o artista faz uma releitura da fita de Moebius. Para isso, a fita magnética ganha a forma do símbolo do infinito e flutua suspensa na parede com a força do vento produzido por dois ventiladores. A única exceção à regra é “Suspense”, feita de bolinhas de gude.
Objeto performático por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 01 de junho de 2010
A alemã Rebecca Horn expõe pela primeira vez no Brasil esculturas que replicam movimentos orgânicos e se comportam como pessoas
Em 1970, Rebecca Horn desenhou uma roupa que acoplava à cabeça de uma mulher um chifre de unicórnio. Da manhã até a tarde, ao longo de seis horas, essa mulher caminhou vestida como um unicórnio pelos campos próximos à cidade de Kassel, na Alemanha, onde Rebecca participava de uma Documenta.
"Me interessava como o peso dos chifres produzia uma qualidade de movimento muito diferente naquela mulher", afirma a artista alemã, que durante os anos 70 centrou seu trabalho na produção dessas esculturas corporais, que modificavam os movimentos humanos a partir do uso de objetos escultóricos. O filme "Unicórnio" (1970) está em exibição em uma sala de cinema instalada dentro da exposição "Rebecca Horn - Rebelião em Silêncio".
Duas compilações de registros de performances e dois longas-metragens dividem o espaço do CCBB-RJ com objetos de personalidade tão forte quanto um piano que cospe suas teclas e um leque de plumas que se abre como uma cauda de pavão.
"A exposição é formada por salas de memórias - salas escuras onde são projetados filmes - e salas de luz, compostas por objetos", explica Rebecca. Caminhar entre as 19 esculturas e instalações que compõem a exposição é como estar diante de objetos performáticos, que ganharam autonomia. São como instrumentos musicais que funcionam sozinhos, sem a intervenção direta do músico. A mesma artista que vestia pessoas com chifres de três metros de altura, luvas com prolongamento de dedos em forma de facas e outras próteses surrealistas, colocando-as em situações a serem vividas como "rituais", agora constrói objetos cinéticos que parecem ter vida própria e convidar o público a se comportar como o performer. "Quando o público interage com o objeto, ocorre uma forma de diálogo muito diferente
da relação que ele pode ter com a pintura, que é basicamente visual", afirma a artista.
A agressividade que emana de algumas das obras de Rebecca é definitivamente um elemento que desperta a reação do público. Medo, confronto e espanto são emoções suscitadas por instalações como "Sala de Destruição Mútua", em que dois revólveres, acoplados a dois espelhos, apontam e atiram na direção de espectadores distraídos com a própria imagem refletida. Em "Concerto para Anarquia", um piano de cabeça para baixo pende do teto do espaço expositivo, desafiando as leis da gravidade.
O sentimento de ameaça torna-se ainda mais evidente quando o objeto "desperta" inesperadamente de seu estado de dormência e entra em atividade, despejando as teclas para fora.
Toda a ira que dorme e desperta nos trabalhos parece estar a serviço, em todo caso, de uma espécie de ritual de purificação. "Fiz muitos trabalhos políticos sobre minha relação com meu país. Vivemos um tempo muito duro, dedicado a entender o que aconteceu durante a guerra na Alemanha. Então, comecei a trabalhar com as performances, para transformar energias em espaços onde as pessoas foram mortas", conta ela.
Armas de fogo, armas brancas, conchas, símbolos fálicos, muitas referências ao sexo compõem o universo animado de Rebecca. Em sua maior parte, guardam estreita relação com música e cinema. É o caso da instalação "Concerto dos Suspiros", feita a partir da coleta de vozes de pessoas que contam histórias de sofrimento. Há vozes chinesas, cubanas, francesas, japonesas, alemãs, russas que brotam de funis de cobre. "A artista não teme a teatralidade e encara o lado dramático dos objetos. O diálogo que ela estabelece entre a performance, a escultura e o cinema é pioneiro e antecede, por exemplo, a poética de Matthew Barney", interpreta o curador Marcello Dantas.
No trabalho de tecnologia altamente sofisticada de Rebecca, chama a atenção o fato de que ela sempre tenha preferido os motores aos sensores e nunca tenha experimentado as possibilidades do universo digital - que garantiriam que seu objeto detectasse a presença do público na sala de exposição. "Não trabalho com computadores. Prefiro o modo natural da surpresa", defende-se.
148 formas de fazer política por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 02 de junho de 2010
Curadoria anuncia os artistas selecionados da 29ª Bienal de São Paulo, cujo tema é a relação entre arte e política
No dia em que a opinião pública dos quatro cantos do planeta repudiou o ataque de Israel à frota de barcos com ativistas da causa palestina engajados em missão humanitária, num gravíssimo incidente de política internacional, a curadoria da 29ª Bienal de São Paulo divulgou a lista de artistas convidados para a mostra que, a partir de setembro, pretende discutir as relações entre arte e política.
Apesar do foco da próxima Bienal, anunciado nesta terça feira, 1, os habituais impasses políticos nas zonas de conflito mundiais não são diretamente contemplados pelo grupo curatorial centralizado por Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias. “Nosso modo de entender arte e política se contrapõe à idéia tradicional da relação entre esses dois campos”, anuncia Moacir dos Anjos. ”Não nos interessa a arte como mero transmissor de conteúdos gerados em outros campos do conhecimento. Nossa ênfase é na capacidade que a própria arte tem de fazer política.”
Por mais contundente que tem sido o posicionamento do governo brasileiro frente aos problemas globais, a curadoria da 29ª Bienal não entende que a mostra deva ter um posicionamento frente aos conflitos do mundo. “São os artistas que têm posições definidas sobre os conflitos. A nós, cabe criar condições para que esses discursos sejam ouvidos”, argumenta dos Anjos.
Podemos supor, então, que entre os 148 selecionados para a mostra destacam-se diversas maneiras de fazer política (veja a lista completa de artistas abaixo). Artistas ligados à performance, como a brasileira Anna Maria Maiolino e a espanhola Dora Garcia, utilizam o corpo como linguagem de afirmação de seus posicionamentos sobre o mundo. Artistas ativos desde os anos de chumbo no Brasil, como Carlos Vergara, Carlos Zílio, Cildo Meireles, Paulo Bruscky e Artur Barrio, desenvolveram seus trabalhos como estratégias de sobrevivência cultural contra a repressão.
A política que se faz “sob o signo da poesia”, que segundo o curador Agnaldo Farias define um outro eixo conceitual da mostra, é perceptível nos trabalhos de artistas como o belga David Claerbout, o holandês Aernout Mik, a dupla Marilá Dardot e Fabio Morais, e a brasileira Alice Miceli, que concebeu um sistema de registro de imagens do invisível, ao radiografar a contaminação química da zona de exclusão de Chernobyl. O titulo da mostra, “Há sempre um copo de mar para um homem navegar” – verso extraído de “Invenção de Orfeu” (1952), de Jorge de Lima –, aponta para essa valorização da dimensão utópica na arte e na vida cotidiana.
A política se faz presente, ainda, na anunciada participação do artista e ativista indígena norte-americano Jimmie Durham que, ao que tudo indica, voltou atrás ao seu boicote ao Brasil. Em 2006, após recusar um convite para participar como palestrante do ciclo de seminários da 27ª Bienal, Durham convocou um boicote em massa ao evento “por causa do tratamento que os brasileiros dão aos índios”.
Outro acontecimento – boicotado, abominado e nada discutido pela organização da Bienal –, a invasão de pixadores na abertura da 28ª Bienal, “Em vivo contato”, em 2008, ganha finalmente direito ao debate. O grupo de pixadores paulistanos foi convidado para expor documentações de suas intervenções e contravenções. Resta saber se serão expostos os registros em fotografia em vídeo da invasão à própria Bienal. “Temos que resgatar a tradição do debate como celebração da política”, afirma Agnaldo Farias.
Embora contemple artistas de 40 países, a lista final enfatiza artistas da America Latina e do Brasil e pretende posicionar-se como uma plataforma para o encontro entre esses países, “que não se conhecem muito bem”.
A Lista
1. Adrian Piper / EUA / Germany / 1948
2. Aernout Mik / Netherlands / Netherlands / 1962
3. Ai Weiwei / China / China / 1957
4. Albano Afonso / Brasil / Brasil / 1964
5. Alberto Greco / Argentina / 1931 - 1965
6. Alessandra Sanguinetti / EUA / EUA / 1968
7. Alfredo Jaar / Chile / USA / 1956
8. Alice Miceli / Brasil / Brasil / 1980
9. Allan Sekula / USA / USA / 1951
10. Allora & Calzadilla – Allora / USA / Puerto Rico / 1974 and Calzadilla / Cuba /
Puerto Rico / 1971
11. Amar Kanwar / India / India / 1964
12. Amélia Toledo / Brasil / Brasil / 1926
13. Ana Gallardo / Argentina / Argentina / 1958
14. Andrea Büttner / Germany / Germany / 1972
15. Andrea Geyer / Germany / Germany and USA / 1971
16. Andrew Esiebo / Nigeria / Nigeria / 1978
17. Anna Maria Maiolino / Italy / Brasil / 1942
18. Anri Sala / Albania / Germany / 1974
19. Antonieta Sosa / USA / Venezuela / 1940
20. Antonio Dias / Brasil / Brasil / 1944
21. Antonio Manuel / Portugal / Brasil / 1947
22. Apichatpong Weerasethakul / Thailand / Thailand / 1970
23. Archigram Group / England / 1960s
24. Artur Barrio / Portugal / Brasil / 1946
25. Artur Zmijewski / Poland / Poland / 1966
26. Bofa da Cara - Pere Ortín / Spain / 1968 and Nástio Mosquito / Angola / 1981
27. CADA - Colectivo Acciones de Arte / Chile / 1979
28. Carlos Bunga / Portugal / Spain / 1976
29. Carlos Garaicoa / Cuba / Cuba
30. Carlos Teixeira / Brasil / Brasil / 1966
31. Carlos Vergara / Brasil / Brasil / 1941
32. Carlos Zilio / Brasil / Brasil / 1944
33. Chantal Akerman / Belgium / France / 1950
34. Cildo Meireles / Brasil / Brasil / 1948
35. Cinthia Marcelle / Brasil / Brasil / 1974
36. Claudia Joskowicz / Bolivia / USA
37. Claudio Perna / Venezuela / 1938-1997
38. Daniel Senise / Brasil / Brasil / 1955
39. David Claerbout / Belgium / Belgium / 1969
40. David Cury / Brasil / Brasil
41. David Goldblatt / South Africa / South Africa / 1930
42. David Lamelas / Argentina / Argentina and USA / 1946
43. David Maljkovic / Croatia / Croatia / 1973
44. Deimantas Narkevicius / Lithuania / 1964
45. Dora Garcia / Spain / Belgium / 1965
46. Douglas Gordon / Scotland / Germany, Scotland and USA / 1966
47. Eduardo Coimbra / Brasil / Brasil / 1955
48. Eduardo Navarro / Argentina / Argentina /1979
49. Efrain Almeida / Brasil / Brasil / 1964
50. Emily Jacir / Palestine / USA and Palestine / 1970
51. Enrique Jezik / Argentina / Mexico / 1961
52. Ernesto Neto / Brasil / Brasil / 1964
53. Fernando Lindote / Brasil / Brasil / 1960
54. Filipa César / Portugal / Germany / 1975
55. Fiona Tan / Indonesia / Netherlands / 1966
56. Flávio de Carvalho / Brasil / 1899 - 1973
57. Francis Alÿs / Belgium / Mexico / 1959
58. Gabriel Acevedo / Peru / Germany /1976
59. Gil Vicente / Brasil / Brasil / 1958
60. Graziela Kunsch / Brasil / Brasil /1979
61. Gustav Metzger / Germany / England / 1926
62. Guy de Cointet / France / 1934 – 1983
63. Guy Veloso / Brasil / Brasil / 1969
64. Harun Farocki / Germany / Germany / 1944
65. Hélio Oiticica / Brasil / 1937 - 1980
66. Henrique Oliveira / Brasil / Brasil / 1973
67. Ilya Kabakov / Russia / Russia / 1933
68. Isa Genzken / Germany / Germany / 1948
69. Jacobo Borges / Venezuela / Venezuela and USA / 1931
70. James Coleman / Ireland / Ireland / 1941
71. Jeremy Deller / England / England / 1966
72. Jimmie Durham / USA / Italy / 1940
73. Joachim Koester / Denmark / USA / 1962
74. Jonas Mekas / Lithuania / Lithuania / 1922
75. Jonathas de Andrade / Brasil / Brasil
76. José Antonio Vega Macotela / Mexico / Mexico / 1980
77. José Leonilson / Brasil / 1957 - 1993
78. José Spaniol / Brasil / Brasil / 1960
79. Joseph Kosuth / USA / USA / 1945
80. Juliana Stein / Brasil / Brasil
81. Julie Ault and Martin Beck / USA and Austria / USA / 1957 and 1963
82. Karina Skvirsky Aguilera / USA / USA / 1967
83. Kboco e Roberto Loeb / Brasil / Brasil / 1978 and 1941
84. Kendell Geers / South Africa / Belgium / 1968
85. Kiluanji Kia Henda / Angola / Angola / 1979
86. Kutlug Ataman / Turkey / England / 1961
87. Livio Tragtenberg / Brasil / Brasil
88. Luiz Zerbini / Brasil / Brasil / 1959
89. Lygia Pape / Brasil / Brasil / 1927 - 2004
90. Manfred Pernice / Germany / Germany / 1963
91. Manon de Boer / India / Belgium and Netherlands / 1966
92. Marcelo Silveira / Brasil / Brasil / 1962
93. Marcius Galan / EUA / Brasil / 1972
94. Maria Thereza Alves / Brasil / Germany / 1961
95. Marilá Dardot and Fábio Morais / Brasil / Brasil / 1973 and 1975
96. Mário Garcia Torres / Mexico / Mexico / 1975
97. Marlene Dumas / South Africa / Netherlands / 1953
98. Marta Minujin / Argentina / Argentina / 1943
99. Mateo López / Colombia / Colombia / 1978
100. Matheus Rocha Pitta / Brasil / Brasil / 1980
101. Miguel Angel Rojas / Colombia / Colombia / 1946
102. Miguel Rio Branco / Spain / Brasil / 1946
103. Milton Machado / Brasil / Brasil / 1947
104. Mira Schendel / Switzerland / 1919 -1988
105. Moshekwa Langa / South Africa / Netherlands / 1975
106. Nan Goldin / USA / USA and France / 1953
107. Nelson Leirner / Brasil / Brasil / 1932
108. NS Harsha / India / India / 1969
109. Nuno Ramos / Brasil / Brasil / 1960
110. Oscar Bony / Argentina / 1941-2002
111. Oswaldo Goeldi / Brasil / 1895 –1961
112. Otobong Nkanga / Nigeria / France and Belgium / 1974
113. Otolith Group / England / England / 2000
114. Palle Nielsen / Denmark / Denmark / 1942
115. Paulo Bruscky / Brasil / Brasil / 1949
116. Pedro Barateiro / Portugal / Portugal / 1979
117. Pedro Costa / Portugal / Portugal / 1959
118. Pixação SP / Brasil / Brasil
119. Qiu Anxiong China / China / 1972
120. Raqs Media Colective / India / India / 1992
121. Rex Time / Brasil / Brasil / 1966
122. Roberto Jacoby / Argentina / Argentina / 1944
123. Rochele Costi / Brasil / Brasil / 1961
124. Rodrigo Andrade / Brasil / Brasil / 1962
125. Ronald Duarte / Brasil / Brasil / 1963
126. Rosangela Rennó / Brasil / Brasil / 1962
127. Runa Islam / Bangladesh / England /1970
128. Sandra Gamarra / Peru / Spain / 1972
129. Sara Ramo / Spain / Brasil / 1975
130. Simon Fujiwara / England / Germany / 1982
131. Sophie Ristelhueber / France / France / 1949
132. Steve McQueen / England / England and Netherlands / 1969
133. Sue Tompkins / England / Scotland / 1971
134. Superstudio / Italy / 1966
135. Susan Philipsz / Scotland / Germany / 1965
136. Tacita Dean / England / Germany / 1965
137. Tamar Guimarães / Brasil / Denmark
138. Tatiana Blass / Brasil / Brasil / 1979
139. Tatiana Trouvé / Italy / France / 1968
140. Tobias Putrih / Slovenia / USA / 1972
141. UNStudio / Netherlands / 1998
142. Wendelien van Oldenborgh / Netherlands / Netherlands / 1962
143. Wilfredo Prieto / Cuba / Spain / 1978
144. Yael Bartana / Israel / Israel and Netherlands / 1970
145. Yoel Vazquez / Cuba / Germany / 1973
146. Yonamine Miguel / Angola / Portugal / 1975
147. Yto Barrada / France / Morroco / 1971
148. Zanele Muholi / South Africa / South Africa / 1972
Desacordo exclui Lygia Clark da Bienal por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada jornal Folha de S. Paulo em 02 de junho de 2010
Curador considerou que exigências feitas pela instituição mantida pelo filho da artista eram "incompatíveis"
Números de brasileiros na lista oficial cresceu de 51 para 53 artistas em relação a listagem divulgada pela Folha
Apesar de serem confirmados para a 29ª Bienal de São Paulo, os pichadores que invadiram e picharam o andar vazio da última Bienal podem não ser considerados artistas por Agnaldo Farias, um dos curadores.
"Achamos que o trabalho deles é político, mas não sabemos se é arte, o que é uma questão secundária, pois muito artista, quando está em produção, tampouco se pergunta se está fazendo arte", disse Farias, ontem, na entrevista coletiva durante o anúncio da lista oficial de artistas escalados para a próxima edição da mostra.
Moacir dos Anjos, o curador-geral da Bienal, disse que os pichadores serão vistos em registros de suas ações -filmes e fotos-, além de participarem de debates nos terreiros do evento, que tem abertura prevista para o dia 25 de setembro.
"Eles nos procuraram e nos interessa a potência do que eles fazem", contou.
BRASILEIROS
Como a Folha antecipou há dez dias, 148 artistas irão tomar parte do prédio da Bienal e poucos nomes foram trocados em relação à lista prévia. O time brasileiro, por exemplo, cresceu para 53 nomes, em relação aos 51 da lista anterior.
Entre as mudanças, está a retirada da artista Lygia Clark da exposição.
"Decidimos retirar a Lygia ontem [anteontem] pois nos foram impostas tantas condições pela instituição O Mundo de Lygia Clark que as consideramos incompatíveis com a memória da artista", afirmou Farias.
"Queriam até controlar quem poderia escrever sobre ela", completou o curador.
Entre outras condições, a associação teria pedido três passagens áreas e o pagamento dos direitos das imagem dos catálogos.
"Cada um tem a instituição que merece. Hoje, O Mundo de Lygia Clark não tem patrocínio nenhum e precisamos cobrar para poder manter a associação aberta", disse Álvaro Clark, filho da artista e diretor da instituição, à Folha.
"Eu não tenho dinheiro para colocar na associação e não recebo um tostão. De fato, o Moacir me ligou dizendo que estava sem dinheiro, mas não tenho como abrir exceções", afirmou.
Já Heitor Martins, presidente da Bienal de São Paulo, anunciou ontem que o orçamento do evento está confirmado e será de R$ 30 milhões, sendo que a maior parte desse valor vem de leis de incentivo.
"Mesmo assim, conseguimos cerca de R$ 4 milhões diretamente". Ontem à noite, estava previsto um jantar para comemorar a divulgação oficial da lista de artistas, marcado para acontecer no shopping Iguatemi.
junho 1, 2010
Pai violento inspirou mortes simbólicas em várias obras por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
Poucos artistas conseguiram atravessar um século e continuar afinados com a produção contemporânea. Louise Bourgeois é um desses casos raros.
Nascida na França e vivendo em Paris, nas décadas de 1920 e 1930, testemunhou o auge do modernismo em sua capital mundial, chegando a ser assistente de Fernand Léger (1881-1955), uma das personalidades do período.
Contudo, foi em Nova York, para onde se mudou em 1938, que se destacou como artista. Aliás, isso só ocorreu nos anos 1970, já que, por três décadas, o trabalho dela foi praticamente ignorado.
"Toda a minha obra, nos últimos 50 anos, todos os meus temas foram inspirados em minha infância. Minha infância jamais perdeu sua magia, jamais perdeu seu mistério, jamais perdeu seu drama", declarou no livro "Destruição do Pai. Reconstrução do Pai".
Possivelmente aí esteja a chave para a compreensão tardia da obra, afinal, foi só na década de 1970 que a junção entre vida e arte se tornou um modo de produção reconhecido.
As esculturas de aranhas, uma das maiores marcas da artista, têm inspiração tanto na infância -os pais trabalhavam com tapeçaria- como numa visão um tanto perversa do universo feminino. Em São Paulo, uma das aranhas está no Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera.
Bourgeois ainda "matou" o pai em "A Destruição do Pai" (1974), uma jaula com mesa de jantar e cama, lugares vinculados aos prazeres, mas que, no imaginário da artista, também serviam para os filhos destruírem o progenitor, que, no caso dela, era um homem violento.
Numa das imagens mais famosas, uma foto tirada por Robert Mapplethorpe (1946-1989), Bourgeois, sorriso irônico, segura "Fillette" (1968), escultura em formato de pênis de látex. A imagem capta muito da essência da obra da artista: abordar temas complexos com formas simples e orgânicas.
Artista Louise Bourgeois morre aos 98 por Andrea Murta, Folha de S. Paulo
Matéria de Andrea Murta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
A franco-americana se tornou uma escultora conhecida com obras que abordam sexo, nascimento e morte
Bourgeois fez o cartaz da 23ª Bienal de SP, onde exibiu a escultura "Aranha", hoje parte do acervo do MAM, em SP
A artista Louise Bourgeois, nascida na França e naturalizada norte-americana, uma das mais respeitadas escultoras do mundo, morreu ontem aos 98 anos no Centro Médico Beth Israel, em Manhattan (Nova York).
Ela estava internada desde a noite de sábado devido a um ataque cardíaco.
Bourgeois ficou conhecida por esculturas de aranhas gigantes e pela abordagem controversa sobre sexualidade, nascimento e morte.
Ela produziu até pouco antes de morrer. Finalizou trabalhos na semana passada, segundo a diretora de seu estúdio, Wendy Williams.
Ela não ganhou fama fora de um círculo especializado até passar dos 70 anos. Em 1982, o Museu de Arte Moderna de NY fez uma exposição exclusiva de sua carreira, tornando-a mais conhecida.
Para o crítico de arte Robert Hughes, Bourgeois era a "mãe da identidade feminina artística americana", cuja "influência em jovens artistas é enorme".
"Eu realmente quero preocupar as pessoas, incomodar as pessoas", disse ela ao "Washington Post" em 1984. "Se dizem incomodados pelas genitálias duplas de meu trabalho. Bem, isso me incomodou a vida inteira."
Bourgeois nasceu em Paris, em 1911, em uma família que se dedicava a restaurar tapeçarias. Mudou com o marido americano, o historiador de arte Robert Goldwater, para Nova York em 1938. Lá, concentrou-se em estudos artísticos.
Na década de 1940, Bourgeois passou a dedicar-se à escultura. Em 1955, se tornou cidadã americana.
"Maman" (1999), uma aranha de nove metros de altura, é um dos destaques de sua obra, exibida na Tate Modern, de Londres.
Outra peça, "Aranha", faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera, em São Paulo, em 1996. A obra foi exibida na 23ª Bienal de São Paulo, da qual ela fez o cartaz.
Bourgeois ganhou em 1997, das mãos do ex-presidente Bill Clinton, a Medalha Nacional de Arte dos EUA.
Viúva desde 1973, ela deixa dois filhos, dois netos e um bisneto. Um terceiro filho, Michel, morreu em 1990.
Museus ficam menores e autônomos por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
Proprietários inauguram novos espaços, com dimensões modestas, em que investem em acervos de arte
São Paulo ganha museu com 500 trabalhos; Fundação Vera Chaves Barcellos (RS) tem Sol LeWitt e Regina Silveira
Foi em 1997, com a inauguração do Guggenheim de Bilbao, que se cristalizou a ideia de que museus não servem apenas para abrigar arte.
O espaço criado na Espanha mostrou que eles podem também cumprir funções alheias à sua natureza, como alavancar turismo ou revitalizar áreas deterioradas.
Desde então, surgiram muitos museus onde a arte cumpre função secundária.
Só nas últimas duas semanas, dois edifícios com características espetaculares foram inaugurados: o Pompidou de Metz (França), dos arquitetos Shigeru Ban e Jean de Gastines, e, em Roma (Itália), o MAXXI (Museu de Arte do Século 21), de Zaha Hadid.
"Esses projetos grandes começaram antes da crise e fazem parte de um modelo que já está sendo alterado. Não dá mais para se apoiar apenas em grandes obras", diz José do Nascimento Junior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro dos Museus).
Assim, com características opostas ao Guggenheim, estão surgindo no Brasil, instituições que têm, com espaços modestos, a arte e o colecionismo como suas principais marcas.
É o caso da Fundação Vera Chaves Barcellos, iniciativa da artista Vera Chaves Barcellos e de seu marido, Patrício Farias, aberta ao público no último sábado, em Viamão, na Grande Porto Alegre.
Apesar de ter como área expositiva apenas 400 m2, a fundação surge com um acervo de cerca de 1.300 obras, entras elas trabalhos de Sol LeWitt, Sean Scully e Regina Silveira, todos presentes na mostra de abertura, "Silêncios e Sussurros".
A microfísica da arte, para Barcellos, é uma vantagem: "Ter essa dimensão nos dá mais independência". Para a construção do novo espaço, foram gastos cerca de R$ 100 mil, custeados pela artista.
A fundação já ganhou editais do Ministério da Cultura para constituição de acervo.
Já em São Paulo, há dois meses, foi aberto um espaço com situação similar, também com cerca de 400 m2 de área expositiva: o Museu Privado de Arte Contemporânea, do colecionador Oswaldo Costa.
Aposentado recentemente, Costa custeou toda a reforma de um espaço em Pinheiros, para abrigar sua coleção com cerca de 500 trabalhos. "Eu não uso a lei de incentivo para não ficar devendo nada a ninguém e não ter constrangimento", diz Costa.
Em 2011, será inaugurado o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, na cidade paulista, também com dimensão modesta, mas tendo o acervo como eixo central.
Premiado, "A Alma do Osso" estreia com atraso de seis anos por Alcino Leite Neito, Folha de S. Paulo
Matéria de Alcino Leite Neito originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 29 de maio de 2010.
Documentário que registra cotidiano de eremita foi vencedor do É Tudo Verdade em 2004
Diretor Cao Guimarães, que também é artista plástico, filmou uma adaptação de "Catatau", de Paulo Leminski
Em 2004, quando foi exibido no festival de documentários É Tudo Verdade, em São Paulo, "A Alma do Osso" arrebatou os dois principais prêmios do evento: o de melhor filme da competição nacional e o da competição internacional.
Em qualquer lugar, essa dupla e prestigiosa premiação seria um incentivo para o longa entrar logo em cartaz. Não foi o caso no Brasil.
"Alma do Osso", que registra o cotidiano de um eremita nas montanhas de Minas Gerais, ficou engavetado.
Seu lançamento nos cinemas do país só ocorreu ontem, quase seis anos após sua exibição no festival.
Enquanto esperava a difusão do filme, o diretor e artista plástico Cao Guimarães, 45, não cruzou os braços.
Fez dez curtas-metragens, outros dois longas ("Acidente", 2006, e "Andarilho", 2007), foi convidado para os festivais de Cannes e Veneza, participou duas vezes da Bienal de São Paulo, realizou várias exposições e acaba de filmar "Ex-isto", a primeira versão cinematográfica de "Catatau", romance do poeta Paulo Leminski (1944-1989).
"O livro de Leminski, na verdade, é infilmável, é um vertiginoso fluxo de linguagem. O que eu fiz foi uma livre adaptação", explica Guimarães, sobre "Ex-isto".
OUSADIA
De fato, "Catatau" (1975) é um dos experimentos mais ousados da literatura brasileira -e também uma reflexão sem amarras conceituais a respeito da cultura do país e da relação entre linguagem e pensamento.
Numa escrita que não faz distinção entre prosa e poesia, Leminski narra no livro as desventuras tropicais do personagem René Descartes-Renatus Cartesius, que ele imagina aportando em Recife, com a esquadra de Maurício de Nassau.
O ator João Miguel (de "Cinema, Aspirinas e Urubus") interpreta o protagonista, cuja crença na razão é colocada à prova pela mixórdia cultural e pelo sensualismo brasileiros -até deparar-se com o fracasso total da metafísica. O filme termina com Descartes-Cartesius inteiramente nu, deitado no colo de uma negra.
Miguel é o único ator de "Ex-isto", feito em 15 dias, por seis pessoas e com orçamento de R$ 200 mil.
ESTRANHAMENTO
Os filmes de Guimarães são diferentes do que costuma ser exibido nas salas de cinema: não se atêm aos esquemas narrativos e estilísticos habituais, nascem de uma linguagem livre e postulam um desejo de experimentação constante.
Se podem causar estranheza no público de cinema e apreensão no mercado cinematográfico, no meio das artes, entretanto, são recebidos com grande interesse.
"As artes plásticas hoje são muito mais abertas a várias formas de linguagem do que o mundo do cinema, cujo sistema de produção industrial se tornou muito pesado, criando um ambiente bastante cruel para os artistas", afirma Guimarães, que já teve seus trabalhos adquiridos por museus como o MoMA (Nova York) e a Tate Modern (Londres).