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fevereiro 6, 2019

Após meses de polêmica, Pollock do MAM é vendido por metade do valor inicial por Nelson Gobbi, O Globo

Após meses de polêmica, Pollock do MAM é vendido por metade do valor inicial

Matéria de Nelson Gobbi originalmente publicada no jornal O Globo em 1 de fevereiro de 2019.

Phillips de Nova York confirma venda para colecionador particular, depois de tela ter encalhado em leilão ano passado

RIO — Quase um ano após ter sua venda anunciada, a tela “Nº 16” (1950), do americano Jackson Pollock (1912-1956), que pertencia ao Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, foi finalmente vendida para um colecionador particular. A informação acaba de ser confirmada pela casa de leilões Phillips, responsável pelo tentativa de vender a obra em novembro do ano passado. Há rumores de que a tela foi negociada por US$ 13 milhões de dólares, quase metade do valor pedido inicialmente (US$ 25 milhões). A casa de leilões novaiorquina não confirma o valor.

No fim da tarde desta sexta-feira, a Phillips emitiu um comunicado no qual confirma a venda, sinalizando apenas que a negociação foi realizada por "um valor comparável a outras obras desta série".

A venda da tela foi uma solução encontrada para enfrentar a crise que o museu atravessa nos últimos anos, com o agravamento da crise financeira e a dificuldade de captar recursos. A proposta é que o dinheiro arrecadado seja convertido num fundo administrado por uma instituição financeira. Seu uso seria gerido por um comitê e submetido a auditoria. Os recursos seriam utilizados para a aquisições de novas obras e uma parte de seus rendimentos poderiam custear as despesas da instituição.

— Claro que, para o museu, o ideal seria atingir o maior valor possível. Mas foi uma boa venda, feita dentro dos parâmetros do mercado internacional, para obras do mesmo período — destaca Paulo Vieira, diretor de relações institucionais do MAM. — O mais importante agora é dar início ao fundo patrimonial, que não será constituído apenas pelo valor do Pollock. Estamos em negociação com várias empresas, criando novas parcerias para o museu. Este fundo também representa uma segurança para os investidores, já que vai colocar o MAM numa posição de balanço saudável, o que é raro para uma instituição cultural nos dias de hoje.

Tentativa frustrada em leilão

Em 15 de novembro do ano passado, a tela estava entre as obras oferecidas no leilão de Arte do Século XX e Contemporânea realizado na Phillips, mas não atingiu o valor mínimo de U$ 18 milhões e não foi vendida. Na mesma noite, estavam à venda obras de Joan Miró (“Femme dans la nuit”, de 1945), Jean-Michel Basquiat (sem título, de 1981) e Robert Motherwell (“Open Nº 153: In scarlet with white line”, de 1970).

Um dos signatários do manifesto publicado em abril do ano passado, que reuniu mais de cem nomes do meio das artes visuais contra a venda da obra, o pintor Carlito Carvalhosa acredita que, se confirmado, o valor da venda seria baixo para uma ação de endowment —a criação de um fundo patrimonial para a renovação do acervo do museu.

— É um valor que pode acabar rapidamente, não dá para ver isso como a solução dos problemas do MAM — comenta Carvalhosa. — Um museu que é particular, embora ocupe uma área pública, deveria atrair o apoio da burguesia carioca, como acontece em outras cidades. Mas isso só vai acontecer se o museu recuperar sua relevância. Não é se afastando da classe artística que vai conseguir isso. Todos estamos do lado do MAM, espero que acertem o passo.

Para Nuno Ramos, outro artista que assinou o texto, a venda do quadro nessas condições representa mais uma tragédia no horizonte brasileiro.

— Nós mesmos criamos tsunamis sobre os moradores de Brumadinho, incendiamos nossos museus, nos desfazemos do nossos acervos. O Brasil é um desastre ambulante — reflete Ramos. — Vender uma obra deveria ser o último recurso, só se o museu dependesse disso para ficar de pé. É o acervo que faz o MAM ser o MAM.

Leia a nota da Phillips na íntegra

Temos o prazer de anunciar que a Phillips vendeu o "Nº 16", de Jackson Pollock, em nome do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em uma transação particular.

Ficamos gratos pela oportunidade de vender esta obra-prima, doada por Nelson Rockefeller ao museu há quase 70 anos.

A venda, efetuada por um valor comparável a outras obras desta série, vai permitir ao museu continuar sua missão de preservar suas 16 mil obras e ampliar sua coleção de arte moderna e contemporânea brasileira.

Posted by Patricia Canetti at 10:38 AM