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novembro 13, 2017
Masp trata sexualidade como pornografia em mostra superficial por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Masp trata sexualidade como pornografia em mostra superficial
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 31 de outubro de 2017.
"Histórias da Sexualidade", a mostra que se tornou polêmica antes mesmo de sua abertura, por conta da proibição a visitação por menores de 18 anos, está muito distante do que se pode imaginar a partir da temática prometida pelo título.
A exposição no Masp (Museu de Arte de São Paulo), dividida em oito segmentos, explora a sexualidade, uma área tão vibrante e cheia de contradições na humanidade, de forma classificatória e frígida. Com isso, o conteúdo, apesar de vibrante na individualidade de cada uma das obras, no conjunto se torna superficial.
O primeiro segmento, por exemplo, Corpos Nus, reúne de obras-primas do museu, como "A Banhista e o Cão Griffon" (1870), de Renoir, junto a uma deslumbrante tela de Francis Bacon, "Estudo do Corpo Humano" (1949) e "David 10" (2005), de Miguel Ángel Rojas, entre as cerca de 30 selecionadas. Contudo, a repetitiva sucessão de nus aponta para uma quantidade excessiva que se assemelha a uma mirada cientificista.
BRANCO E NEUTRO
Ora, uma exposição sobre sexualidade merece um ambiente mais quente, mas a curadoria da mostra, tendo à frente o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, tende a ignorar o legado da arquiteta Lina Bo Bardi, tão fetichizado em sua gestão. As paredes brancas e neutras, que suportam as obras, apenas atestam a falta de ousadia ao tratar do tema.
Nesse sentido, o conjunto que se sobressai é o denominado "Religiosidades", ao mesclar o sensual retrato de São Sebastião, realizado por Pietro Perugino, entre 1500 e 1510, do acervo do museu, com uma foto de Robert Mapplethorpe, uma pintura de Leonilson, desenhos de Leon Ferrari e o vídeo de Virgínia de Medeiros, "Sergio Simone", entre outros trabalhos.
Aí, pode-se perceber como artistas ao longo dos séculos trataram de sexo e religião de forma complexa e crítica, o que também falta nos demais segmentos da mostra.
APELO
Finalmente, proibir uma exposição a menores de 18 anos e colar um selo no catálogo como o texto "Sexo explicito, violência, linguagem imprópria" é tratar a sexualidade como pornografia.
Um museu de arte não deveria se acovardar a esse ponto, até porque está apenas sucumbindo a pressões de grupos desinformados e mal-intencionados.
O que se vê no museu está longe de todo o sexo explícito disponível a qualquer um na internet. No atual contexto, "Histórias da Sexualidade" poderia ser um farol sobre o papel da arte e de suas instituições. Entretanto, nem a curadoria nem o Masp estão em condições de exercer o papel que lhes cabe.
HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE (regular)
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h; até 14/2/2017
ONDE Masp, av. Paulista, 1578, tel. (11)3251-5644
QUANTO R$ 30, grátis às terças
CLASSIFICAÇÃO 18 anos