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outubro 19, 2017

Mostra no Masp sobre sexualidade reforça que censura é inaceitável por Heitor Martins, Folha de S. Paulo

Mostra no Masp sobre sexualidade reforça que censura é inaceitável

Opinião de Heitor Martins originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 17 de outubro de 2017.

Sexo faz parte integral de nossas vidas; sem ele sequer existiríamos. Por isso mesmo, a sexualidade, nas suas mais diversas manifestações, tem desde sempre ocupado um lugar central no imaginário coletivo e na produção artística. "Histórias da Sexualidade", exposição que o Masp abrirá na próxima sexta-feira (20) para o público, traz amplo recorte dessa produção, com o objetivo de promover um debate sério, maduro e inclusivo, cruzando temporalidades, suportes e geografias.

A presente exposição é fruto de intenso trabalho em torno das várias histórias que o Brasil tem para contar.

Em 2016 inauguramos "Histórias da Infância", e nos últimos dois anos viemos trabalhando no atual projeto que foi antecedido por dois seminários internacionais sobre essas questões e que contou com a participação de especialistas e do público geral.

A exposição também se insere no contexto mais amplo da programação do museu, que neste ano vem tratando do tema da sexualidade com mostras de Toulouse-Lautrec, Miguel Rio Branco, Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Tunga, Guerrilla Girls, Pedro Correa de Araújo e Tracey Moffat.

"Histórias da Sexualidade" inclui mais de 250 obras, reunidas em núcleos temáticos e não cronológicos, sendo muitas delas pinturas fundamentais de nosso acervo: Degas, Manet, Ingres, Poussin, Picasso, Gauguin, Renoir, Perugino, Suzanne Valadon, Victor Meirelles.

Também traz trabalhos de artistas como Adriana Varejão, Ana Mendieta, Balthus, Egon Schiele, Francis Bacon, Jac Leirner, Mapplethorpe, Louise Bourgeois, Marta Minujin, Valie Export e Rego Monteiro.

Ainda que concebida em 2015, "Histórias da Sexualidade" não poderia ser mais atual. Episódios recentes, não só no Brasil mas em todo o mundo, trouxeram à tona –por meio de embates públicos, protestos e violentas manifestações nas mídias sociais– questões relativas à sexualidade e acerca dos limites entre direitos individuais e liberdade de expressão.

Não existem verdades absolutas. As fronteiras do que é moralmente aceitável deslocam-se a toda hora e no decorrer da história.

Esculturas clássicas, hoje consideradas símbolos da arte europeia, não poucas vezes tiveram seus sexos tapados por folhas de parreira e outros subterfúgios. Também os costumes variam entre culturas e civilizações.

Em várias nações europeias, a nudez é exposta em parques, praias e lugares públicos; a poligamia é aceita em países islâmicos; prostituição é prática legal em algumas nações e condenada em outras; há países onde o aborto é livre e outros onde não é. Até mesmo o conceito de criança mudou ao longo do tempo, assim como sua especificação etária.

O único dado absoluto, do qual não podemos abrir mão, é o respeito ao outro e o necessário diálogo.

É preciso criar condições para que todos nós –cada um com suas crenças, práticas, orientações políticas e sexualidades– possamos viver de forma harmoniosa e escutando uns aos outros.

Por isso mesmo, a radicalização, a intolerância, o cerceamento da liberdade de expressão, não devem e não podem ser aceitos. O Masp, um museu diverso, inclusivo e plural, tem por missão estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais.

"Histórias de Sexualidade" objetiva justamente promover, por meio da arte, um debate consistente e sólido a partir de um número muito significativo de obras –arte pré-colombiana, asiática, africana, europeia e latino-americana, pinturas e esculturas, vídeos e fotografias, assim como documentos e publicações "" que fazem parte deste catálogo de nuanças e diferenças, mas também de tudo que nos une e nos faz, cada um à sua maneira, humanos.

HEITOR MARTINS é diretor presidente do Masp e ex-presidente da Fundação Bienal

*

HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE
QUANDO de 20 de outubro de 2017 a 14 de fevereiro de 2018; ter. a dom. das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h
ONDE Masp (av. Paulista, 1.578); tel (11) 3149-5959
QUANTO R$ 30 (inteira)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos

Posted by Patricia Canetti at 5:12 PM