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novembro 18, 2016
Inauguração da Carpintaria dá início à ocupação cultural do Jockey Club por Nani Rubin, O Globo
Inauguração da Carpintaria dá início à ocupação cultural do Jockey Club
Matéria de Nani Rubin originalmente publicada no jornal O globo em 18 de novembro de 2016.
Fortes Vilaça, uma das mais importantes galerias de São Paulo, administra o espaço
RIO — O desejo pelo Rio era antigo. Até que, em 2013, um convite para ocupar um espaço desativado do Jockey Club, na Gávea, deu início ao flerte. Neste fim de semana, enfim, a Fortes Vilaça, uma das mais destacadas galerias de arte de São Paulo, finca raízes na cidade e inaugura a Carpintaria. O novo espaço é o primeiro de cinco empreendimentos culturais e de entretenimento previstos para o local: depois dele, serão abertos, até maio de 2017, a Casa Camolese, de Vik Muniz e Cello Macedo, a nova sede da galeria Nara Roesler, e a OM.Art, de Oskar Metsavaht (leia mais abaixo). O quinto empreendimento ainda está sendo discutido. A livraria Blooks chegou a ser convidada, mas não fechou negócio.
— A expectativa é muito alta — diz Marcia Fortes, que aproveita a inauguração no Rio para anunciar que a galeria paulistana também irá mudar de nome: a partir deste fim de semana passa a se chamar Fortes D’Aloia & Gabriel, com o atual sobrenome de Alessanda (D’Aloia) e a inclusão do sobrenome de seu novo sócio, Alex Gabriel. — Este lugar é para ser um point clássico do Rio, e estava abandonado, tomado por gatos e gambás. O Jardim Botânico é o terceiro ponto turístico da cidade, atrás do Cristo e do Pão de Açúcar. Queremos que essa ocupação cultural crie um percurso de transeuntes por aqui.
Para chegar ao novo espaço, o visitante deve entrar pela Rua Jardim Botânico, ao lado do restaurante Rubaiyat, onde há um estacionamento pago. Ou então pelo portão principal do Jockey, em frente à Praça Santos Dumont, e seguir andando. As construções têm a frente virada para o prado, e, quando ficarem todas prontas, irão compartilhar o jardim.
Enquanto os vizinhos não chegam, a Carpintaria movimenta o local. A exposição inaugural, Uma canção para o Rio, reúne trabalhos de mais de 20 artistas estrangeiros e brasileiros, com curadoria de Douglas Fogle e Hanneke Skerat, de Los Angeles. Ela será realizada em duas fases (a segunda abre em 11 de fevereiro).
— Quando penso no Rio, penso em música, sons, grandes músicos em todos os níveis — diz Fogle. — Então, quando começamos a elaborar essa exposição, nos imaginamos escrevendo uma música para o Rio. Pusemos juntos artistas que utilizam o som e outros que não utilizam, mas que se referem a ele visualmente.
No primeiro caso estão obras como “Composition for flutes (II)”, de 2011, uma escultura suspensa, criada pelo galês Cerith Wyn Evans, e que emite sons eletroacústicos, ou “Long gone”, instalação sonora da escocesa Susan Philipsz. No caso dos trabalhos que fazem referência visual ao som, estão telas em que o americano Dave Muller reproduz CDs. Está, ainda, a colagem de capas de vinis do também americano Christian Marclay. Conhecido por sua obra em vídeo, ele ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Veneza de 2011 com “The clock”, filme de 24 horas que será exibido na inauguração do novo Instituto Moreira Salles de SP, em 2017.
— Marclay começou a carreira como DJ, veio da cultura clubber. É muito interessante a maneira como usa os discos de vinil como objetos para criar um corpo — observa Fogle, também associando a cultura clubber a outro artista, o britânico Mark Leckey, que chamou atenção com vídeos no YouTube e atualmente ocupa uma grande mostra individual no MoMA PS1, em Nova York. Na Carpintaria, será exibido seu trabalho “Fiorucci made me hardcore”.
Entre os brasileiros desta primeira fase da exposição, há a dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca, com a videoinstalação “Faz que vai”, e Ernesto Neto, com “Composição para surdos” e “NaveMeditaFeNuJardim”.
O fim de semana de inauguração terá atrações amanhã (para convidados) e domingo (aberto ao público). Amanhã, será exibido às 18h o novo filme da mineira Rivane Neuenschwander, “Enredo” (2016), com Domenico Lancellotti tocando ao vivo a trilha sonora, ainda em elaboração. Em seguida, será projetado o filme “Returning a sound” (2014), da dupla cubano-americana Allora & Calzadilla. No domingo, a programação começa com a performance “Dissimulado”, de Vivian Caccuri, às 18h. A artista cantará o “Samba do avião”, de Tom Jobim, de trás para a frente. Logo depois, haverá a projeção do filme “Conga irreversible”, da dupla cubana Los Carpinteros. Eles filmaram um grande grupo de conga pelas ruas de Havana, dançando, também, de trás para frente. A orquestra que os acompanha toca do mesmo modo.
Marcia deixa claro que a ideia da nova galeria é, justamente, ser um lugar de experimentação:
— É um local para ventilar novas ideias. Queremos tratar de diálogos mais amplos entre várias expressões artísticas, mas sempre tendo como referência as artes plásticas.
O QUE MAIS VEM POR ALI
Casa Camolese
Complexo de restaurante, cervejaria artesanal e jazz club, a casa do empresário Cello Macedo e do artista Vik Muniz abre as portas em janeiro. O projeto é da arquiteta Bel Lobo.
OM.Art
Galeria de arte e ateliê, também com projeto de Bel Lobo, o novo espaço do empresário, estilista e artista Oskar Metsavaht tem inauguração prevista para maio de 2017.
Galeria Nara Roesler
A casa paulistana, que chegou ao Rio em 2014, deixa seu endereço em Ipanema e muda-se para o Jockey Club em abril de 2017. O arquiteto Miguel Pinto Guimarães assina o novo projeto.