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janeiro 20, 2016
Grande celeiro de jovens artistas, Paço das Artes será despejado em março por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Grande celeiro de jovens artistas, Paço das Artes será despejado em março
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de janeiro de 2016.
Uma vez encerradas as mostras que inaugura no fim deste mês, o Paço das Artes, centro cultural que funciona há 22 anos dentro da Cidade Universitária, será fechado.
No fim de março, a programação da instituição deve migrar para o Museu da Imagem e do Som e para a Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, centro da cidade.
Fora da USP, o destino do Paço, responsável por lançar nomes de peso na arte contemporânea e um dos maiores centros de experimentação estética do país, é incerto.
Sua sede na Cidade Universitária será devolvida ao Instituto Butantan, dono do imóvel, que agora pretende usar o espaço para ampliar sua fábrica de vacinas contra a dengue - segundo a Folha apurou, a Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo Butantan, vem pedindo seu prédio de volta há pelo menos cinco anos.
Esse desfecho repentino, de acordo com pessoas próximas às negociações, tem a ver com a pressa do Ministério da Saúde em garantir uma alternativa nacional de imunização contra a dengue. O Butantan fornecerá essas vacinas para o órgão federal.
Fundado em 1970, o Paço das Artes nunca teve sede definitiva, já tendo ocupado espaços na avenida Paulista, na Pinacoteca do Estado e no Museu da Imagem e do Som - até hoje, o centro cultural faz parte da mesma organização social responsável pelo MIS, dirigido por André Sturm.
"Estamos tentando conseguir outra sede [para o Paço]", diz Sturm. "No médio prazo, vamos transferir a programação, mas o museu vai continuar operando."
Locais alternativos estão sendo procurados agora pela Secretaria de Estado da Cultura, responsável pelo MIS e pelo Paço, para abrigar a série de mostras que estavam marcadas para ocorrer neste ano no espaço da Cidade Universitária. A última exposição a ser realizada ali será a do videoartista alemão Harun Farocki, com abertura marcada para 28 de janeiro.
Quando acabar essa mostra, em 27 de março, as atividades programadas vão se dividir entre o MIS, que receberá a Temporada de Projetos, tradicional programa responsável pelo lançamento de jovens artistas, e a Oswald de Andrade, que vai abrigar uma grande exposição de Lenora de Barros, que estava marcada para abril no Paço.
"Isso tudo é temporário, o que tem de concreto agora é que o Paço vai desenvolver suas atividades em outros equipamentos", diz Priscila Arantes, diretora artística do centro cultural. "Eu acho que essa é uma oportunidade de o Paço ter uma sede definitiva. É isso que ele merece."
Mesmo ocupando um prédio inacabado, o Paço das Artes realizou na última década algumas mostras marcantes na história recente da cidade, entre elas individuais do artista chinês Yang Fudong, da suíça Pipilotti Rist e do britânico Francis Bacon.
Também tornou mais conhecida a obra de jovens artistas, como Rodrigo Bivar, Ivan Grilo, Cristiano Lenhardt, Marcelo Moscheta, Henrique Oliveira, Regina Parra e Roberto Winter, além de lançar jovens curadores, como Felipe Scovino e Luiza Proença.
Na esteira do despejo do Paço das Artes, o orçamento de R$ 15 milhões destinado ao MIS e ao Paço no ano passado também deverá sofrer um corte de 10%, embora a decisão de fechar o centro cultural na Cidade Universitária tenha sido confirmada antes da decisão do corte.