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abril 8, 2015

Em ano de crise, feira SP-Arte tem quase R$ 6 milhões via Lei Rouanet por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Em ano de crise, feira SP-Arte tem quase R$ 6 milhões via Lei Rouanet

Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 8 de abril de 2015.

Um tanto nervosos, galeristas faziam fila para subir ao topo do hotel Maksoud Plaza, a uma quadra da avenida Paulista, para uma das festas de abertura da SP-Arte, que começa agora no Ibirapuera. Pareciam saber que aquela talvez seja a altura máxima que as coisas vão atingir nesta semana.

Em plena crise econômica, a maior feira de arte ao sul da linha do Equador pediu neste ano R$ 5,7 milhões em recursos incentivados via Lei Rouanet para financiar suas operações –o valor mais alto desde a estreia, há dez anos.

Mesmo faturando até R$ 29 milhões com a venda de estandes e gerando cerca de R$ 250 milhões em negócios para as 140 galerias que levam 3.000 obras ao pavilhão, organizadores da SP-Arte defendem o uso de dinheiro público para a feira, com ingressos a R$ 40.

"Nunca falei que o evento era para o povão, mas incentiva a cultura", diz Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, que conseguiu por ora captar R$ 1,5 milhão pela Lei Rouanet e pode continuar captando mesmo depois do evento.

"Sobre as vendas, há uma arrecadação tributária de R$ 15 milhões. Se isso é permitido por lei, não vejo por que não fazer. É uma isenção que gera retorno, um supernegócio."

Mas talvez não seja um supernegócio para os galeristas.

Temendo um fracasso de vendas, os principais nomes do mercado levaram obras mais baratas à feira. Neste ano de crise, acentuada pela disparada do dólar que passou dos R$ 3, o preço médio dos trabalhos à venda é um dos mais baixos –a obra mais cara é um Picasso de US$ 5 milhões, quando em anos anteriores alguns trabalhos chegavam a cifras de dois dígitos.

"Trouxemos obras de preços menores, como gravuras em vez de pinturas", diz Rose Lord, da nova-iorquina Marian Goodman, uma das maiores casas do mundo. "Vamos ver o que acontece."

Christophe van de Weghe, da galeria que leva seu sobrenome, também de Nova York, diz que está preparado para dar descontos de até 20% em obras que trouxe à SP-Arte, de artistas como Andy Warhol, Picasso e Lucio Fontana.

Enquanto isso, galeristas brasileiros, com artistas que têm obras cotadas em dólar, tentam frear a explosão dos preços adotando um dólar mais baixo –em muitos casos, a moeda foi congelada a R$ 2,80 para os clientes.

"Nunca vi os colecionadores aqui tão retraídos", diz o galerista André Millan. "O país vai parar, quer dizer, já parou."

CONCORRÊNCIA DESLEAL

Mas um motor de peso continua mantendo a feira de pé. Desde 2012, a SP-Arte tem isenção do ICMS que incide sobre as obras, um benefício concedido pelo governo do Estado que deixa trabalhos 20% mais baratos do que fora da feira.

No caso de obras importadas, que encarecem até 50% com taxas, a medida se tornou o principal atrativo para a vinda de galerias de fora, como as americanas Gagosian e David Zwirner, à feira paulistana.

Também tornou comum uma prática que irrita galeristas locais, que dizem enfrentar uma concorrência desleal com as gigantes de fora.

Com a isenção de parte dos tributos, galerias estrangeiras costumam negociar obras com clientes do país antes mesmo do evento, trazendo trabalhos já encomendados só para concluir os negócios na época da feira, contando então com o benefício.

Greg Lulay, diretor da David Zwirner, considerada uma das galerias mais influentes do mundo, diz que envia imagens de obras específicas para colecionadores no Brasil e tenta trazer aquilo que querem, concretizando a venda no país –muitas galerias, aliás, guardam na reserva de seu estande essas peças já negociadas.

"Trazemos o que alguns clientes estão buscando e também pedimos a artistas que façam obras para a feira", diz Lulay. "Estamos em conversa com esses clientes o ano todo."

"Ninguém chega a uma feira sem já ter mostrado os trabalhos", admite Feitosa. "Mas se as galerias de fora já viessem com tudo vendido, não precisariam de um espaço grande na feira, teriam só um estande pequenininho para a entrega. Esses comentários me parecem meio fantasiosos."

Posted by Patricia Canetti at 11:45 PM