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maio 15, 2013
Magela Lima responde a Yuri Firmeza: Que salão queremos?, O Povo
Magela Lima responde a Yuri Firmeza: Que salão queremos?
Texto do secretário de Cultura Magela Lima originalmente publicado no jornal O Povo em 15 de maio de 2013.
64º Salão de Abril - Inscrições
Em resposta ao artigo de Yuri Firmeza publicado ontem no Vida & Arte, o secretário de Cultura Magela Lima defende o atual formato do Salão de Abril
Um salão caduco por Yuri Firmeza, O Povo
É fato: a arte sobrevive sem tudo. Quase tudo, aliás. Ela respira sem recursos, inclusive os financeiros. É capaz de prosperar até na escassez de criatividade. Só não tem perspectiva, no entanto, sem opinião. É fundamental que a arte proporcione a quem a produz e também a quem a consome alguma inquietação. Na edição de ontem do O POVO, o artista plástico Yuri Firmeza, um dos vates da nossa cena contemporânea, publicou texto em que expunha críticas severas ao Salão de Abril, projeto atualmente tocado pela Prefeitura de Fortaleza, que comemora 70 anos de sua primeira edição agora em 2013.
Em linhas gerais, o texto de Firmeza é muito assertivo. Opinião, ao contrário de talento, é algo que, a priori, todo e qualquer um pode ter. A questão é que opinar requer segurança de argumentos. Li o artigo com entusiasmo. Há tempos, não via um intelectual da cidade se posicionar com tanta vontade e intensidade diante da nossa programação cultural. Yuri, entretanto, se atropela. Erra, por exemplo, ao julgar que o Banco do Nordeste, um dos apoiadores do evento este ano, arque com todo o volume de recursos. Isso não procede. Dos R$ 500 mil investidos na programação que segue até novembro, apenas R$ 100 mil são aporte do BNB.
Mas isso é preciosismo. O artista se equivoca, essencialmente, ao não se permitir ser propositivo. Para Yuri Firmeza, o Salão de Abril é velho, moribundo. E aí? O que mais é possível ser dito? Que saídas se colocam para o evento? Ou é certo que o Salão de Abril não tem perspectiva alguma? Questiono isso porque, ao longo desta edição festiva, o futuro do Salão de Abril está literalmente em debate. Entre as muitas atividades pensadas pela curadoria de Ricardo Resende, está justamente um encontro para discutir novas possibilidades que possam ser agregadas à programação nos próximos anos.
Firmeza, entretanto, trabalha com ideia de falência. E faz isso com uma argumentação tacanha e equivocada. Em nome do novo, se apega a uma das lógicas mais perversas e frágeis do panorama cultural local. Fortaleza se acostumou a dividir migalhas. Aqui, fala-se muito que, com o dinheiro X usado para fazer tal atividade, seria possível fazer outras coisas mil vezes mais interessantes. Somos, pois, irresponsavelmente desapegados. Desapegados e ingênuos. Acreditamos num devir imaginário e nos recusamos a mudar e transformar nossa realidade. É mais fácil, sempre, abrir mão do que se tem em busca de uma novidade supostamente melhor.
Eu espero tudo de um artista jovem como Yuri Firmeza, menos essa retórica do “não presta, então acaba”. Não! Que tal ressuscitar o Salão de Abril apontado como morto? Onde, de fato, está o problema? Eu, por exemplo, concordo que o caráter competitivo é delicado. Como curador do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, fui um dos mais aguerridos defensores do fim da competição no evento. Entretanto, reconheço que essa opção trouxe lacunas à programação da mostra, tão importante para as artes cênicas locais como o Salão de Abril para as artes visuais. Se premiar um único artista com R$ 70 mil é marketing, o que seria o ideal então?
Nas muitas conversas que aguçaram a realização do Salão de Abril de 2013, uma das fragilidades mais recorrentes apontadas por diferentes artistas, curadores e programadores era a timidez da nossa premiação, já que é praxe dos eventos do gênero esse tipo de fomento. Mas isso também é preciosismo. O fundamental é saber identificar os problemas e se dispor a enfrentá-los. Para uma cidade com 287 anos, uma ação cultural, seja ela qual for, que envergue 70 anos é digna, no mínimo, de zelo. Negar a importância do Salão de Abril é se omitir diante de uma realidade cultural que, apesar de, é nossa. Sim, de tão velhas, as coisas apodrecem. Mas as sementes não se vão e, com carinho e cuidado, podem vingar. Basta acreditar.
Magela Lima é secretário de Cultura de Fortaleza