|
janeiro 14, 2013
Paulo Climachauska volta a voar solo no Rio por Catharina Wrede, O Globo
Paulo Climachauska volta a voar solo no Rio
Matéria de Catharina Wrede originalmente publicada no jornal O Globo em 14 de janeiro de 2013.
Cinco anos após sua última individual na cidade, o artista paulistano abre duas mostras esta semana
Paulo Climachauska:
Re-subtrações, Oi Futuro, Rio de Janeiro, RJ - 15/01/2013 a 17/03/2013
Fluxo de Caixa, Artur Fidalgo Galeria, Rio de Janeiro, RJ - 16/01/2013 a 16/02/2013
RIO - Há, em algum lugar do imaginário artístico, a vontade de criar algo verdadeiramente único. Autoral. Mas o que define um trabalho como autoral no mundo da arte contemporânea? O controle absoluto sobre os processos de feitura, o traço do artista, as formas criadas por ele? O artista plástico paulistano Paulo Climachauska questiona, com humor, toda essa dinâmica pautando sua obra e, mais especificamente, a exposição que inaugura hoje, às 19h, no Oi Futuro Flamengo, pelo acaso e pela apropriação de formas existentes.
— O campo da arte é uma das últimas fronteiras do autoritarismo — afirma Climachauska, há cinco anos sem fazer uma individual no Rio (ele é coautor, com Nuno Ramos, da exposição “O globo da morte de tudo”, em cartaz na galeria Anita Schwartz). — Mario Pedrosa dizia que a arte é um sistema de liberdade. Hoje em dia está tudo tão formatado, instituído, que não se aceita o diferente. A arte contemporânea é muito autoritária. Gosto de tirar o controle do artista em relação a tudo. Existem coisas que não dominamos. O acaso, em vários momentos da História, é determinante.
E é nesse lugar em que o domínio total nos escapa, em que coisas acontecem independentemente dos desejos, que a mostra “Re-subtrações” se encontra. Desenvolvida especialmente para o espaço do Oi Futuro Flamengo e com curadoria de Alberto Saraiva, a exposição é a primeira da trajetória do artista em que os sistemas de contas de subtração não estão desenhados nos trabalhos. A série “Tac-tic”, logo no primeiro andar, dá a ideia do que está por vir: ela é composta por 14 painéis em preto e branco que misturam fórmica e madeira, formando imagens da sombra de um ponteiro de um relógio de sol em posições diversas.
Amanhã na Artur Fidalgo
No segundo piso, na série “Blefe”, versos de cartas de baralhos são reproduzidos em grandes formatos. Garimpadas ao redor do mundo — de cassinos de Las Vegas e da Europa a colecionadores de cartas —, as diferentes e raras padronagens de baralhos estampam oito telas em silkscreen. São losangos, círculos e quadrados que, segundo o artista, remetem às pinturas abstratas construtivas dos anos 1950.
— É arte ou não é arte? — questiona o artista. — Você acha que é pintura, mas não é. É uma brincadeira, um blefe.
Mais adiante, com “Modelo para armar”, Climachauska explora as possibilidades estéticas e conceituais do jogo infantil Pega-Varetas, incluindo uma instalação com 28 varetas gigantes de alumínio dispostas como caíram ao serem lançadas. No jogo, formas geométricas são criadas ao acaso. A série também traz seis desenhos em pastel aquarelado, nos quais as varetas são reproduzidas em diferentes posições sobre fundo branco. Completam a exposição três vídeos inéditos que colocam lado a lado questionamentos lançados pelas séries “Tac-tic” e “Modelo para armar”.
Além da mostra do Oi Futuro, o artista inaugura amanhã, às 19h, a exposição “Fluxo de caixa”, na galeria Artur Fidalgo. O destaque é a série “Catedral”, composta por quatro telas que retratam grandes depósitos e galpões industriais delineados a nanquim por contas de subtração. Diferentemente de trabalhos anteriores, nesta série o artista não se apropria de espaços existentes, mas cria espaços imaginários.