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julho 19, 2012
Metrô do Nordeste por Fábio Marques, Diário do Nordeste
Metrô do Nordeste
Matéria de Fábio Marques originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 19 de julho de 2012
Mapear a produção contemporânea da Região Nordeste e colocá-la sob os holofotes do grande público. O desafio foi encampado pelo projeto Metrô de Superfície, que há quase dois anos vêm pesquisando esta produção e adquirindo obras produzidas nestes 12 primeiros anos de século XXI para elaboração de um acervo do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). São instalações de vídeos, ensaios fotográficos, fotomontagens, pinturas e outras vias de experimentações, reunindo um total de 30 artistas de estados como Ceará, Pernambuco, Bahia e Maranhão.
Sob curadoria dos críticos Bitu Cassundé, de Fortaleza e Clarissa Diniz, de Recife, o acervo é exposto pela primeira vez ao público na Mostra I do projeto em cartaz desde a última terça- feira, dia 17, no Paço Municipal, em São Paulo, galeria tradicional de artes, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, com foco na produção contemporânea.
Para a mostra, foram selecionados 13 artistas do acervo, sendo eles Marina de Botas, Milena Travassos e Solon Ribeiro, do Ceará, além de Amanda Melo (PE), Bruno Vilela (PE), Carlos Mélo (PE), Cristiano Lenhardt (RS/PE), Juliana Notari (PE), Marcelo Gandhi (RN/SP), Rodrigo Braga (PE), Solange, tô aberta! (RN/Berlim), Thiago Martins de Melo (MA) e Virginia de Medeiros (BA/SP).
"Esta é a primeira vez que mostramos as obras selecionadas ao público. É um panorama da jovem produção do Nordeste que nunca foi mostrado conjuntamente. A intenção é organizarmos outras mostras, com a participação de todos", explica a coordenadora do setor de Artes Visuais do CCBNB, Jacqueline Medeiros. A parceria entre o centro cultural e o Paço Municipal foi intermediada por Priscila Arantes, diretora técnica da instituição, que foi também quem propôs o recorte no acervo.
"Eles optaram por obras que exploram eu do artista em relação ao outro, o corpo. Deram ênfase também em artistas que pensam sua produção atual a partir do Nordeste", detalha Jacqueline. Ela cita exemplos como o de Cristiano Lenhardt, que nasceu no Rio Grande do Sul, mas mora em Recife. "A produção dele é pensada a partir de Recife. Isso é uma coisa interessante entre os artistas selecionados. A maioria está neste trânsito", destaca.
Projeto
Esta mobilidade, ou mesmo, a dificuldade de circulação de artistas que produzem fora dos grandes centros, argumenta Jacqueline, é um dos pontos que justifica a metáfora que dá nome ao projeto. O Metrô de Superfície, argumenta, a medida que cruza cidades, estados, regiões, aponta para essa integração e para a chegada do desenvolvimento.
O projeto, detalha, preenche uma lacuna no acervo do CCBNB, que não dava conta das produções mais recentes. "O centro cultural tem acervo significativo de gravuras, desenho e pintura moderna, em sua maioria do Nordeste. Eu quis dar continuidade, colocando artistas da virada do século até agora", diz.
Para o mapeamento, Bitú Cassundé e Clarissa Diniz utilizaram por base uma pesquisa que já desenvolviam - tendo atuado como assistentes curatoriais do Programa Rumos Artes Visuais 2008/2009 - e realizaram visitas a centros produtores de arte contemporânea como Bahia, Ceará e Paraíba. "A pesquisa durou quase dois anos. Eles conseguiram fazer um panorama desta produção que precisava ser mostrado", reforça.
Fora do eixo
Representando o Ceará, ao lado de Milena Travassos e Solón Ribeiro, a artista paulista (radicada desde criança em Fortaleza) Marina de Botas participa com três vídeo-performances: "Programa para nutrição da pele" (2007), "Entrevista" (2009) e "Centauro" (2010). Graduada em artes visuais pelo Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará (IFCE), ela aponta a dificuldade que há para artistas que residem e produzem fora dos grandes mercados de arte para divulgar sua produção nestes eixos. "Eu expus pouquíssimo em São Paulo. Para qualquer linguagem artística, a realidade continua muito semelhante a de décadas passadas. Você tem que estar lá para poder se inserir", analisa.
Marina destaca a importância de um projeto como o Metrô de Superfície "pelo menos como movimento de denúncia e resistência", mas pondera que, para que haja um efetivo alcance da produção de artistas de regiões como o Nordeste nestes centros, seria necessário uma política cultural descentralizadora.
"É uma iniciativa bacana no sentido de jogar na cara que a produção nordestina é muito boa. Alguns editais do Governo Federal até ajudaram a melhorar a produção, mas a circulação continua local", argumenta. A exposição segue em cartaz até o dia 13 de setembro. No próximo dia 27, os expositores participam de um debate na galeria.
Mais informações: I Mostra do Projeto Metrô de Superfície