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junho 22, 2012
'Johns está à margem do pop', diz curador por Silas Martí, Folha de S. Paulo
'Johns está à margem do pop', diz curador
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 19 de junho de 2012.
Exposição relaciona obra do americano a virtuosismo cromático de Cézanne e irreverência de Marcel Duchamp
Instituto Tomie Ohtake abre hoje mostra com gravuras do artista; pinturas não vêm ao país por causa de custos
Jasper Johns, mesmo que não queira, é tido como o pai da arte pop, precursor de Andy Warhol e Roy Lichtenstein. Ele é também o último sobrevivente dessa geração -aos 82, segue trabalhando.
Tudo começou num surto. Depois de destruir, insatisfeito, as primeiras obras que fez, sonhou que pintava uma bandeira norte-americana.
Contou o sonho a Robert Rauschenberg, artista que morava no andar abaixo do seu em Nova York. Johns, aliás, foi descoberto no dia em que o galerista de Rauschenberg, então já conhecido, esteve no prédio e soube que ali morava o jovem artista que estreou com a pintura de um alvo verde numa exposição.
Era 1954, e Warhol ainda não havia imortalizado suas latas de sopa Campbell's.
Mas o recorte da obra de Johns na mostra que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, vai mais fundo que a ligação do artista com o movimento pop.
"Ele está à margem do pop", diz Bill Goldston, curador da mostra. "Você reconhece as imagens que ele pinta, mas ele não quer mostrar isso como imagem pop, e sim como uma imagem pura. São objetos fáceis, que ele usa como um pretexto para pintar."
No caso, Goldston aproxima a obra de Johns do virtuosismo cromático do francês Paul Cézanne e da irreverência de Marcel Duchamp, distanciando sua obra do embate com expressionistas abstratos então em voga e da arte pop que viria a surgir.
Na mostra paulistana, é difícil julgar o talento de Johns como pintor, já que só gravuras do artista foram trazidas ao país -segundo os organizadores, seria caro demais transportar suas pinturas.
Mas o repertório visual é o mesmo. Estão lá suas bandeiras, seus alvos e experimentos em colagem e fotografia.
Da mesma forma que Duchamp, Johns deslocou objetos banais da vida para a esfera da arte. Em vez do urinol, bandeiras e mapas dos EUA. Também se interessou, à maneira de Cézanne, pela construção minuciosa das cores em cada detalhe das obras.
"É como uma sinfonia", compara Goldston. "São milhares de notas para compor um som compreensível, como seus traços na pedra, recortes de papel e pinceladas precisas servem para recriar símbolos reconhecíveis."