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julho 25, 2011
Que Pinacoteca é essa? por Mariana Toniatti, O Povo
Que Pinacoteca é essa?
Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.
A PINACOTECA Municipal existe por lei desde 1997, mas ainda está longe de se materializar. Até lá, que lugares existem para fazer o acervo chegar ao público e que instituições vão cuidar de reunir e preservar obras significativas?
A coluna Vertical, publicada de segunda a sábado no O POVO, provocou: “Pouca gente sabe, mas o município de Fortaleza tem uma pinacoteca. Ela se resume a uma sala guardando quadros, mas tem diretora nomeada e tudo”, dizia uma das notas da edição de 14 de julho. A diretora é Cecília Ximenes, servidora da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e dos órgãos da pasta que antecederam a secretaria, há 16 anos. Há mais de dez, ela cuida do acervo municipal que hoje contabiliza 140 obras, especialmente pinturas, gravuras e desenhos e algumas esculturas. “Me considero a guardiã das obras. Não pode deixar tudo largado sem ninguém tomando conta”, diz Cecília.
No começo de 2010, depois da reforma do Paço Municipal, onde estavam muitas obras do acervo, as peças foram reunidas, catalogadas e guardadas numa sala da Vila das Artes, o equipamento de formação da Secultfor. De acordo com Cecília, tudo está muito bem embalado numa sala climatizada. A Secultfor preferiu não mostrar a sala, “para não confundir o leitor”, segundo a secretária Fátima Mesquita. O plano é restaurar todas essas peças. Entre as relíquias, há telas de Raimundo Cela, Chico da Silva, Aldemir Martins, Barrica e Sergei de Castro, xilogravuras de Francisco de Almeida e peças de Sérvulo Esmeraldo.
Fátima planeja que todas as peças estejam restauradas até o próximo Salão de Abril, no primeiro semestre de 2012, para serem exibidas durante a mostra. “O restaurador já começou a fotografar as obras, é todo um processo, tem que ter um ‘antes e depois’, tem que ver a técnica de restauro de cada peça, algumas precisam só de uma limpeza”, diz Cecília. Mas e a Pinacoteca!? Essa não tem previsão de sair do papel, mesmo sendo “o desafio dessa reta final”, segundo Fátima.
“Desde o início da primeira gestão queremos esse equipamento. Está colocado como prioridade pra gente ver se consegue avançar”, diz a secretária mostrando um mega projeto fechado em 2006: o Complexo Cultural Estação João Felipe, que prevê a construção da Pinacoteca, do Museu da Cidade, do Arquivo Público, da Biblioteca Dollor Barreira e de um auditório no terreno ao lado da estação, onde estão os antigos galpões da Rffsa. “São duas coisas antigas, criadas por lei, que podem e devem ter uma direção, mas que a Prefeitura nunca conseguiu instalar: o Museu da Cidade e a Pinacoteca”, diz Fátima.
O projeto da Pinacoteca, nos galpões da Rffsa, no terreno ao lado da Estação João Felipe, curiosamente também é apresentado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult) como aposta dessa gestão. “Mas a área pretendida é tão grande que cabem também outros equipamentos. São mais de 100 mil m² de terreno. O Museu da Cidade é muito bem vindo na região. Consolidaríamos esse espaço como eminentemente cultural. O projeto do Município só vem a colaborar”, contemporiza Carlos Macedo, coordenador das Artes Visuais na Secult. Para Fátima, a administração da Pinacoteca e dos outros equipamentos e o “plano diretor do espaço, no coração do Centro, devem ficar a cargo do Município”. “A Prefeitura sempre colocou que quer a posse disso”.
Por enquanto, o terreno, ponto final do chamado corredor histórico da rua dr. João Moreira, permanece sendo patrimônio da União e nem Município nem Estado têm verba garantida para a construção da Pinacoteca. “Colocamos no PAC das Cidades Históricas (Programa de Ação das Cidades Históricas), é um dos projetos da Copa do Mundo, estamos tentando em todas as frentes”, diz Fátima. Mas e até lá? Onde o público pode ver as preciosidades do acervo municipal e estadual, esse com três mil obras catalogadas, mil só de Antônio Bandeira? O Vida & Arte Cultura de hoje faz essa pergunta. Que espaço de exposição temos em Fortaleza e a quantas anda a gestão e o uso deles?
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Eles podem lançar uma espécie de "Mausoléu das Artes", está tudo bem obscuro mesmo. Será que eles emprestam essas obras do acervo para os amigos mais chegados adornarem suas salas em dia de visita? Falta museu no Brasil todo, assim como a educação básica.
Posted by: Daniel Qadós at julho 26, 2011 2:07 PM