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julho 25, 2011
Acervo escondido por Mariana Toniatti, O Povo
Acervo escondido
Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.
FALTAM espaços de exposição ou o problema é de gestão? Ouvimos algumas pessoas da área e fizemos essa pergunta
Por enquanto, só algumas poucas obras do acervo municipal estão fora da salinha que guarda a centena de peças na Vila das Artes e mesmo assim não estão ao alcance do público. Espalhadas nas paredes e salas da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), o privilégio de admirá-las é de quem trabalha por ali ou faz uma visita. “Na minha sala tem uma ‘exposição permanente’ de xilogravuras de Francisco Almeida”, diz Fátima Mesquita, titular da Secultfor. Ela frisa que quem quiser conhecer a coleção é bem vindo. Se quiser, pode fazer a tentativa.
Hoje a Prefeitura tem apenas um local próprio de exposição, a Galeria Antônio Bandeira, um espaço cedido pela Secretaria de Educação no Centro de Referência do Professor. Uma das salas, onde costuma ocorrer o Salão de Abril, está vazia. A outra abriga o único acervo em exposição permanente, o Memorial Sinhá D’Amora, pintora de Lavras da Mangabeira, reconhecida internacionalmente, falecida em 2006. Perto de completar dez anos, a exposição deve ser modificada. É o que planeja a diretora do espaço, Mariana Ratts.
Há outros espaços de exposição na cidade. O Sobrado Dr. José Lourenço e o Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar - equipamentos do Governo Estadual -, o Centro Cultural do Banco do Nordeste, o Centro Cultural dos Correios e o Museu de Arte da UFC (Mauc) – que tem um acervo bastante significativo -, a galeria de arte do Palácio da Abolição e a galeria da Universidade de Fortaleza, lembrando alguns. Seria ainda pouco para a cidade de 2,5 milhões de habitantes?
“Até faltam mais espaços, porém não se pode tentar criar novos enquanto os que existem não funcionam como poderiam. Criar para ser mais um desse jeito? A Galeria Antônio Bandeira parece que é só para o Salão de Abril, o MAC do Dragão faz grandes exposições, traz Picasso, Gary Hill, mas passa, é temporário. É um museu de eventos, não de formação de público. É o problema de muitos museus, a ação educativa é para dizer que cumpre o papel, mas serve mais para garantir um número mínimo de visitantes, do que para formar público”, critica a artista e editora do site especializado Canal Contemporâneo, Cecília Bedê, 28 anos.
Bitu Cassundé, artista e curador independente, vê na falta de continuidade de políticas públicas o maior problema na gestão dos equipamentos culturais de Fortaleza, incluindo aí os espaços de exposição. “Não existe a cultura da continuidade, mesmo os projetos certeiros são abortados pelas novas gestões, é um novela repetitiva, cansativa, mas que faz parte do nosso exercício político. Temos bons espaços com infraestrutura e condições técnicas razoáveis. O fundamental é permitir acesso a uma programação efetiva regida por boas exposições, com um projeto educativo de qualidade e que os espaços sejam apropriados pelos artistas e pelo público, e principalmente, desconstruir a ideia de feudo que existe em alguns espaços”.
Para a coordenadora do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará (Ifce), Dorinha Nascimento, o desafio é chegar em quem não vai ao museu. “Parece que são sempre os mesmos, aquela mesma elite. Hoje o Dragão do Mar é o espaço que mais se insere no dia a dia, mas é o equipamento como um todo, não necessariamente o museu. As galerias, os museus, têm que se mostrar mais atraentes, ter uma política de visitação que envolva mais, que ajude esse público a formar uma leitura da arte. Isso não tem a ver com novos espaços”, diz Dorinha.
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