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junho 13, 2011
SOS-Museu da Imagem e do Som-SP por Lucia Santaella
SOS-Museu da Imagem e do Som-SP
LUCIA SANTAELLA
Leia também as matérias e respostas que compõem o Dossiê MIS e Paço das Artes: A morte anunciada de um modelo de gestão.
O caso do MIS-SP, caso de calamidade pública, é prototípico do modo como funciona o gerenciamento da cultura neste país, sempre subjugada às jogatinas de políticos obscurantistas. O caso é muito triste, sério e não pode ser calado.
Compreender a complexidade dos processos culturais e artísticos não é questão para leigos. Por isso mesmo é lamentável quando cabem a leigos cargos políticos de delegação cultural, como se a cultura e a arte fossem questões de somenos importância.
Desde o final do século XIX, acentuando-se cada vez mais no decorrer do século XX até atingir um ponto de mutação a partir dos anos 1990, a cultura e a arte foram se tornando fenômenos tão hipercomplexos quanto a física quântica e a biologia molecular.
Do século XIX para cá, já atravessamos cinco revoluções tecnológicas que têm afetado diretamente a produção cultural e artística: a revolução das tecnologias eletro-mecânicas (telégrafo, fotografia, a explosão do jornal e o cinema), a revolução das tecnologias eletro-eletrônicas (rádio e televisão), as tecnologias do disponível (controle remoto, vídeo cassete, xerox, TV a cabo etc.). Estas últimas são tecnologias que foram abrindo o caminho para a grande reviravolta propiciada pela crescente onipresença do computador. Este embaralhou todas as cartas das revoluções anteriores ao introduzir a cultura do acesso e a cultura da conexão contínua permitida pelos dispositivos móveis cada vez mais inteligentes e geolocalizados.
Diante dessa seqüência de revoluções é muito fácil constatar que aquilo que era chamado de Imagem e Som, nos anos 1970, quando ainda reinavam as tecnologias eletro-mecânicas e as eletro-eletrônicas, não é mais aquilo em que se transformaram a Imagem e o Som em plena efervescência da cultura do computador, genericamente chamada de cultura midiática ou novas mídias. De um mero mastigador de números, há algumas décadas, hoje o computador devora todas as linguagens -- palavras, imagens, sons -- e as devolve em misturas inconsúteis (milagre!) na sua forma original para o nosso deleite e transmissão para quaisquer paragens do mundo.
Ora, a arte sempre foi e continua sendo a grande sinalizadora das mutações nas linguagens humanas. Nenhum museu poderia e deveria estar mais sintonizado com essas mutações do que o Museu da Imagem e do Som. Em 2007, Daniela Bousso foi indicada para recolocar esse Museu nos trilhos do tempo, um trilho que havia sido perdido devido às típicas mazelas que afetam as instituições públicas deste nosso país em que o desmando costuma tomar o papel da lei. Ninguém mais equipado do que Daniela Bousso para assumir esse cargo, com uma carreira muitíssimo bem sucedida de curadoria internacionalmente sintonizada e com um doutorado especializado nas artes de ponta da contemporaneidade.
Eis que muda o governo do Estado, muda o Secretário da Cultura e um projeto admirável ainda em curso, deitando suas raízes, de restauração física, ideativa e artística do MIS-SP é violentamente arrancado, do mesmo modo com que, sem piedade, se arranca do solo uma planta em crescimento. Toda essa violência simbólica por quê? Pelo simples fato, sempre ocultado e ideologicamente naturalizado, de que neste país as instituições culturais e artísticas não gozam da mesma autonomia dos países civilizados e ficam à mercê da barbárie, dos humores quase sempre obscurantistas de políticos que, mal conhecendo o b-a-b-a da cultura e da arte, estão sumariamente ignorantes e cegos à sua hipercomplexidade contemporânea.
SOS, como se sabe, quer dizer socorro. A sociedade civil, representada por artistas, pesquisadores, críticos e professores da cultura e da arte, hoje em mais de mil assinaturas que correm pela internet, está pedindo socorro contra o desmantelamento do projeto MIS-SP, perpetrado pelas típicas jogadas políticas, desmantelamento de um projeto que tinha tudo para crescer, frutificar e dignificar a cidade e o Estado de São Paulo.
Lucia Santaella é coordenadora do mestrado e doutorado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital e professora titular na pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
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Leia e participe do abaixo-assinado SOS MIS - Contra a intervenção do Governo do Estado de São Paulo no Museu da Imagem e do Som - MIS-SP no Petição Pública.