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maio 13, 2011
Arte S.A. por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Arte S.A.
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de maio de 2011.
Maior feira do gênero no país cresce apoiada em dinheiro captado por meio da Lei de Incentivo à Cultura
O maior evento comercial das artes visuais no país, a SP Arte, abre hoje para o público com aval para captar nada menos que R$ 1,2 milhão por meio da Lei de Incentivo à Cultura. O valor é mais da metade de seu orçamento, de cerca de R$ 2 milhões.
Até o momento, a feira conseguiu captar R$ 300 mil.
Embalada pelo momento econômico positivo, a sétima edição da SP Arte cresce em número de galerias -de 82, no ano passado, para 89-, e em espaço -de 9.000 m2 para 13 mil m2.
Ela ocupa agora também o segundo andar do pavilhão da Bienal, onde foram montadas 24 instalações.
"Não acho justo que um evento que é 100% comercial tenha incentivo. A feira deveria dar ao menos uma contrapartida social", diz José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), vinculado ao Ministério da Cultura.
A SP Arte, que dura quatro dias, tem o ingresso mais caro que qualquer museu público brasileiro: R$ 30.
Os próprios expositores da feira tampouco sabiam que havia lei de incentivo.
Galeristas ouvidos pela Folha se espantaram. "Essa é a feira mais cara do mundo. Mas tudo bem, eu até entendo a Fernanda [Feitosa, diretora da feira], porque hoje o Brasil é mesmo o país mais caro do mundo", diz Márcia Fortes, da Fortes Vilaça.
A maioria dos galeristas, contudo, preferiu não ser identificada, mas as palavras "incompreensível", "inacreditável" e "absurdo" estiveram na boca de vários deles.
Em média, a SP Arte cobra R$ 1.000 (US$ 620) por m2, enquanto Basel, na Suíça, a mais importante, cobra US$ 514 (R$ 830), e a Frieze, de Londres, US$ 470 (R$ 760).
"O Governo não limita que os benefícios da lei sejam concedidos apenas a projetos não comerciais. Se assim fosse, não teríamos Fórmula 1 nem São Paulo Fashion Week", diz Feitosa.
PROCULTURA
Se a nova lei de incentivo (Procultura) já estivesse valendo, no entanto, a SP Arte não teria tanto apoio.
"Pela nova lei, a feira não conseguiria 100% de patrocínio, pois a Procultura tem um sistema de pontuação de acordo com o retorno para a sociedade", diz Henilton Menezes, secretário de Fomento do MinC.
Medidas para tornar a lei em vigor mais justa estão sendo feitas.
Uma delas, aprovada pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, estabelece que o cachê dos artistas não pode ultrapassar R$ 30 mil.
A partir do próximo dia 23, dez agentes do MinC passarão a acompanhar os projetos em vigor em São Paulo, Minas Gerais e Rio para fiscalizar o uso da lei.
Desde 2005, quando de sua criação, a SP Arte se utiliza da lei de incentivo.
Naquele ano foram aprovados para captação R$ 1,1 milhão, valor alcançado por meio do apoio de 20 empresas e gasto em três edições.
Em 2008, ela teve aprovados R$ 685 mil, tendo captado R$ 500 mil, e, em 2010, foram aprovados R$ 1,4 milhão e obtidos R$ 650 mil.
Como contrapartida do evento, Feitosa elenca que gera turismo para a cidade, com seus 16 mil visitantes.
O evento expõe 2.000 obras, promove debates gratuitos, disponibiliza seus catálogos para bibliotecas e possui um programa de estímulo à doação de obras de arte a museus.
PARALELA
Assim como ocorre no exterior, uma feira costuma estimular outras menores.
Em São Paulo, dois produtores organizaram uma feira em outro modelo. A Entretanto teve R$ 400 mil captados por lei de incentivo e também é aberta hoje.
"Não é um evento tão comercial como a SP Arte. O projeto inteiro é em torno dos artistas. É mais semelhante a uma exposição e é gratuita", diz Pedro Igor Alcântara, um dos organizadores.
A mostra reúne 20 artistas sem galeria, com curadoria de Luisa Duarte e Fernando Oliva, num casarão à venda (rua Groenlândia, 448). Todos os trabalhos são novos e podem ser comprados.
"Nós selecionamos os artistas, e a venda não é uma preocupação, já que algumas obras dificilmente serão vendidas, como a piscina do Henrique Cesar", diz Oliva.
"Buraco Negro", do artista citado pelo curador, é uma obra criada para o local, no caso, a piscina da mansão, que teve sua água tingida com nanquim preto.
Ao impossibilitar a visão do fundo da piscina, a obra se torna metáfora do uso da lei de incentivo em vigor.
Muito tem que ser revisto. Porém oque se realiza com sucesso como a SPArte trás benefícios incomensuráveis á sociedade.
Parabéns Fernanda,
Marco Aurelio Jafet
Posted by: Marco Aurelio Jafet at maio 21, 2011 2:29 AM