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maio 2, 2011
Mostra em SP explora viés tecnológico da arte por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra em SP explora viés tecnológico da arte
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de maio de 2011.
O binômio arte e tecnologia tem se constituído, ao menos no Brasil, num segmento composto especialmente por pesquisadores ligados ao mundo acadêmico.
"Perceptum Mutantis", mostra no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, aponta que essa característica não se restringe ao território nacional.
"Na Argentina também se percebe que grande parte dos artistas ensinam na universidade e possuem forte relação com o mundo acadêmico, pois ele é quem fomenta o experimentalismo", diz Daniela Bousso, diretora do MIS e curadora da mostra.
Ela selecionou para a exposição os argentinos Leo Nuñez, Augusto Zanela, Mariano Sardón e Hernán Marina, além dos brasileiros Katia Maciel e André Parente, que também estão em cartaz na Fundación Telefônica, até 11 de junho, com a retrospectiva "Infinito Paisage", em outra curadoria de Bousso.
As duas exposições foram feitas por meio de uma iniciativa da Fundación Telefônica argentina, que se dedica exclusivamente à pesquisa de arte e tecnologia.
"Para nós faz todo sentido esse intercâmbio com o Brasil, pois a produção de vocês é de ponta, e já vínhamos trabalhando com vários artistas daí, como Eduardo Kac, e os próprios André Parente e Katia Maciel", disse Alejandrina D'Elia, gerente do Espacio Fundación Telefonica, em Buenos Aires.
CENAS ANTOLÓGICAS
Na capital argentina, o casal de artistas brasileiros pode ser visto em 11 trabalhos. Entre eles, está "Circuladô", de Parente, única presente tanto na mostra de Buenos Aires como na de São Paulo, onde ela ocupa o espaço central do MIS.
A obra é composta por uma série de cenas antológicas de cinema com personagens que ficam dando voltas em si mesmo e multiplicadas em formato circular, como o Corisco, de "Deus e o Diabo na Terra do Sol".
O visitante pode, então, acionar um mecanismo no centro da sala, o que costuma ser chamado de arte interativa, escolhendo qual personagem ele quer que gire.
Em Buenos Aires, contudo, está a obra mais complexa de Parente, "Visorama" (2010), uma sala que tem uma projeção com o Gabinete Real de Leitura, no Rio, e que, por meio de um binóculo suspenso por uma grua, o visitante pode percorrer o espaço, como se estivesse voando nele.
De forma geral, nas duas mostras, a técnica é sempre algo surpreendente, mas ela nem sempre consegue escapar de ser apenas um mostruário de novos aparatos sofisticados e complexos usados com boas ideias.