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março 28, 2011
A arte da ilusão por Nina Gazire, Istoé
A arte da ilusão
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 25 de março de 2011.
A íntima relação entre a arte e o teatro na obra da jovem Tatiana Blass
Tudo na natureza está em constante mudança, tudo é ilusão. A sentença do filósofo Heráclito se aplica perfeitamente ao trabalho de Tatiana Blass. Suas esculturas, de metal e parafina, não são feitas para durar. Elas derretem sob o calor de holofotes e o que resta, ao fim, é a obra incompleta, porém não inacabada. Nessas esculturas, que se comportam como performers, a parafina silencia a música quando é vertida sobre instrumentos em execução. Segundo Tatiana, tudo isso é “lembrança de que o que vale, na arte, é engano dos sentidos ou do pensamento”. Nesse jogo, o que acaba por ser revelado é a própria verdade da arte.
Quem não conhece o trabalho dessa jovem artista que, aos 31 anos, já participou da 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, e foi indicada ao Nam June Paik Awards, em 2008, terá a oportunidade de conhecer trabalhos significativos dos últimos cinco anos, em exposição em São Paulo e depois em Brasília e Salvador. Entre 14 obras – pinturas, esculturas e um trabalho inédito em vídeo – destacam-se as telas “Teatro para Cachorros” e “Tapete Movediço – o Cachorro e o Padre”. Conhecida por invocar a imagem do cão em instalações, fazendo um misto de taxidermia e escultura, a artista aqui transfere a imagem do animal para a pintura.
Posicionados como silhuetas sombrias, os cães aparecem em planos translúcidos criados pela sobreposição de camadas de tinta. “Sempre refleti sobre o teatro; aqui o cão aparece como a figura de um ator impossível”, diz ela. O palco e o espetáculo são panos de fundo recorrentes em produções da artista, como a série “Metade da Fala ao Chão”, um trompete incapaz de emitir sons. Disso é feita a arte de Tatiana: as falhas e os erros como revelação de uma outra possibilidade para se apreender o real.