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outubro 19, 2010
Mamam recebe exposição de Tomie Ohtake por Eugênia Bezerra, Jornal do Commercio
Matéria de Eugênia Bezerra originalmente publicada no Caderno C do Jornal do Commercio em 18 de outubro de 2010
Uma das importantes artistas plásticas em atividade no Brasil veio do Japão para visitar o irmão. Impedida de voltar devido à Guerra do Pacífico, ela ficou no País. Fixou-se em São Paulo, casou, teve filhos e iniciou sua carreira artística por aqui. Parte desta produção está na primeira grande exposição individual de Tomie Ohtake no Recife. A mostra Tomie Ohtake – pinturas, esculturas, gravuras será inaugurada nesta segunda, às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). O evento é aberto ao público.
Esta exposição apresenta a trajetória da artista, que completa 97 anos em novembro, através das gravuras produzidas por ela (há obras de 1968 até hoje). O aniversário de Tomie será comemorado com outra mostra no instituto que leva o nome da artista, em São Paulo, com pinturas realizadas nos últimos meses.
Já a do Mamam faz parte do programa de mostras itinerantes do Instituto Tomie Ohtake. Há pinturas que pertencem a coleções particulares, três esculturas de parede feitas em ferro tubular (de 2009) e um painel de 10m x 2m. Esta grande pintura foi feita para a inauguração do instituto, em 2001, e será apresentada ao público pela primeira vez após dez anos.
Tanto nas pinturas quanto nas gravuras, nota-se como Tomie foi trabalhando a relação entre formas e cores ao longo do tempo. A geometria, as linhas curvas, frestas, formas orgânicas. Também é possível conferir exemplos do que ela vem produzindo em gravura desde os anos 1960, usando técnicas como serigrafia, litografia e gravura em metal. Em alguns trabalhos, ela alia desenhos a versos.
Há ainda experimentações com a própria forma das gravuras, que aparecem recortadas ou nas quinas das paredes. “São coisas que ela gosta de ficar inventando, assim como painéis e esculturas que brotam da parede”, resume o presidente do Instituto Tomie Ohtake, Ricardo Ohtake, um dos filhos da artista (o outro é o arquiteto Ruy Ohtake).
As gravuras recortadas e estas esculturas citadas por ele dialogam no Mamam, através dos volumes e sombras. Nas gravuras, Tomie recorta o papel, que é colocado em um vidro afastado da parede (a sombra projetada acaba fazendo parte do desenho).
A fértil produção de Tomie continua. Ricardo conta que a mãe trabalha todos os dias até as 18h aproveitando a luz natural. “Vi quando ela estava pintando o primeiro quadro, eu já tinha nove anos. Lembro perfeitamente disto. Foi aí que eu vi: ‘pô, ela desenha bem (risos)’”, recorda ele.
PARCEIROS - Esta é a segunda exposição da parceria entre o Mamam e o Instituto Tomie Ohtake. A primeira também aconteceu em 2010, com gravuras de Anna Letycia Quadros. “A gente queria há muito tempo (esta parceria), desde a época de Marcus Lontra e Moacir dos Anjos, são todos amigos. Mas não tivemos a oportunidade. Vamos ter outras ainda, não só no Mamam, mas também no Parque Dona Lindu. Niemeyer é amigo de Tomie, eles fizeram trabalhos juntos”, adianta Ricardo Ohtake. Segundo ele, entre os planos para o Dona Lindu está uma exposição sobre Charles Chaplin. Ele também afirma que, em fevereiro, eles devem levar o artista plástico Rodrigo Braga para uma exposição no instituto.
A parceria vai além da retrospectiva em si e conta com um Ateliê de gravura, gratuito, que começa no dia 22 de outubro.
TRAJETÓRIA - Tomie nasceu em Kioto (Japão) em 1913 e chegou ao Brasil em 1936. Desde que começou a pintar, por volta dos 40 anos de idade, ela já realizou cerca de 50 individuais e 85 coletivas. Atualmente, 27 obras públicas da artista estão espalhadas por cidades brasileiras.
O universo onde surgem suas criações é apresentado pelo texto de Marcy Junqueira no folder da retrospectiva: “Quando perguntam a Tomie Ohtake qual a sua profissão, ela prontamente responde: pintora. Afinal, são 60 anos de pensar e fazer pintura. Em seu ateliê, instalado em sua casa, telas, tintas, maquetes, estudos, desenhos, objetos e livros preferidos compõem a atmosfera de um mundo particular. Sobre a sua mesa de trabalho, de organização oriental, repousam cartolinas recortadas, esboços e arames, que serão transformados mais tarde em gravuras e esculturas, suportes que a artista domina ao lado de sua arte seminal, a pintura”.