|
setembro 27, 2010
"Uma Bienal precisa ser mais ousada" por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 27 de setembro de 2010
Curador espanhol Agustín Pérez Rubio e brasileira Solange Farkas elogiam, no entanto, a montagem e os terreiros
Dupla cita artistas como Cinthia Marcelle e Jonathas de Andrade como alguns dos mais interessantes da mostra
A retomada institucional da Bienal revela-se mais importante do que o próprio conteúdo da 29ª Bienal de São Paulo, segundo os curadores Solange Farkas, diretora do Videobrasil e do Museu de Arte Moderna da Bahia, e Agustín Pérez Rubio, diretor do Museu de Arte Contemporánea de Castilla y León.
Por quatro horas, no dia de abertura para convidados, na última terça-feira (portanto, antes da ação de pichador anteontem), os curadores visitaram a mostra acompanhados da reportagem da Folha e, ao final, fizeram um balanço.
A conclusão: essa é uma Bienal sem risco. "Uma Bienal precisa ser mais ousada, funcionar como laboratório de experimentação, e isso não se vê aqui", disse Rubio.
Farkas, mais contida, concorda que "risco a Bienal não tem", mas justifica no contexto histórico: "Entendo os curadores, pois trabalharam após o trauma da Bienal organizada pelo Ivo Mesquita", disse referindo-se à Bienal do Vazio, que teve projeto ousado, mas fracassado.
Ambos, no entanto, elogiaram a concretização da mostra: "Após as crises, essa Bienal é muito importante e nota-se que a estrutura da Fundação agora é forte e o circuito internacional está presente", disse Rubio.
O curador contou quantos dos 159 artistas da Bienal estiveram na Documenta 11, de 2002, e chegou ao número de 20: "Isso mostra que há pouca pesquisa".
Farkas contemporiza: "Os curadores tiveram menos de um ano para organizar a Bienal; está acima da média".
O eixo da exposição -a relação entre arte e política- também não foi consenso. "Eles o abordaram de forma mais poética, não tão literal. Há obras muito boas, apesar de eu não entender como alguns trabalhos estão aqui", diz Farkas.
"Os curadores abriram tanto esse espectro que ele se tornou um poço sem fundo. Como tema, essa Bienal não traz nenhuma nova contribuição", disse Rubio.
TERREIROS ELOGIADOS
Contudo, a dupla elogiou a montagem e os terreiros: "É a primeira vez que se tem uma expografia tão feliz, que consegue dialogar com a arquitetura de Niemeyer", afirma Farkas. Segundo ela, "os terreiros são onde de fato se cria uma questão política".
Para o espanhol, um dos principais problemas é a distinção da produção dos anos 1960 e 1970 e da atual.
Apesar das críticas, ele elogia alguns momentos da mostra: "Há eixos mais claros, como quando Sue Tompkins é vista próxima de Mira Schendel, ou Leonilson, próximo de Miguel Angel Rojas e Nan Goldin.
Essas contextualizações são importantes".
Se dependesse dos dois curadores, não haveria polêmicas na 29ª Bienal, pois tanto o trabalho do argentino Roberto Jacoby como o do pernambucano Gil Vicente, foram questionados: "São obras óbvias demais, não parecem políticas e nem bem realizadas", conclui Rubio.