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setembro 22, 2010
Quinta Paralela reúne obras de 82 artistas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 22 de setembro de 2010
Diálogo entre os trabalhos é prejudicado por excesso de nomes e amarras da mostra
Na entrada da Paralela, um letreiro em néon reproduz uma frase de cinema. "Nada de mau se perdeu, nada de bom foi em vão." Regina Parra, conhecida por suas pinturas, troca de terreno e busca em "Stalker", de Andrei Tarkovski, um mote para sua instalação. É uma rara sensação de frescor nessa que é a mais tradicional mostra do circuito off-Bienal.
Talvez ofuscada pela edição anabolizada e pós-crise da exposição no Ibirapuera, essa Paralela atesta a verdade da frase na entrada. Nenhum dos maus vícios dos 82 artistas reunidos ali se perdeu, nem tudo que fazem de bom é em vão. São quase todas obras fortes alinhavadas num circuito pelo curador Paulo Reis, mas é inevitável uma sensação de déjà-vu.
Bancada por galerias paulistanas, que reformaram há dois anos o Liceu de Artes e Ofícios, onde acontece a mostra, a Paralela impõe ao curador escolher artistas de todas as casas envolvidas.
Por mais amplo que seja o projeto, a mostra acaba repetindo e misturando obras que pouco conversam, num diálogo muitas vezes truncado.
Está contraposta a nova pintura, de artistas como Tiago Tebet, Mariana Palma, Rafael Carneiro e Rodolpho Parigi, à secura dos cerebrais Felipe Cohen, Iran do Espírito Santo e João Loureiro. Num dos galpões, instalações de Sandra Cinto, Laura Vinci e Thiago Rocha Pitta desencadeiam um pensamento sobre a paisagem. São obras que refutam ou fabricam atmosferas paralelas com ondas, vapores e horizontes movediços de sal.
Esse discurso sustentaria toda a mostra, mas logo se embaralha noutros pontos, como a coerção dos ambientes urbanos, a violência das metrópoles e a fatura da cor.
André Komatsu, com uma pilha de tijolos, Lucas Bambozzi e seu puxadinho, Cao Guimarães com um vídeo do casamento de uma operária parecem entrar nesse segundo discurso, mas a leitura sofre quando entre eles existe uma avalanche de coisas.
Talvez fosse melhor abolir de todo o conceito e mostrar só um salão com todos os bons artistas da cidade. No letreiro lá fora, a frase continua assim: "Uma luz inunda tudo, mas deve haver mais".