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maio 3, 2010
SP Arte atesta ebulição do mercado por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 1 de maio de 2010.
Principais galerias comemoram "saldo azulzíssimo" com vendas de pelo menos 80% das obras nos primeiros dias da feira
Com 2.500 obras, evento vai até domingo no pavilhão da Bienal; vendas podem bater marca do ano passado, que foi de cerca de R$ 15 milhões
Podiam ser fogos de artifício o espocar das rolhas de prosecco, espécie de trilha sonora desta edição da SP Arte. "Deu uma sensação dos tempos áureos, está bombando em todos os sentidos", diz Ricardo Trevisan, da galeria Casa Triângulo, que entrou na feira com metade de suas obras já vendidas. "É um saldo azul, azulzíssimo."
Desde que abriu as portas na última quarta, a feira de arte no pavilhão da Bienal tem levado hordas de colecionadores ao Ibirapuera. Chegaram a se dividir em turnos para fazer compras nas 80 galerias representadas ali. Do primeiro para o segundo dia, Fortes Vilaça, Vermelho, Nara Roesler, Luciana Brito e Casa Triângulo já tinham esgotado pelo menos 80% das obras que levaram.
Na ressaca da abertura, galeristas correram para reabastecer seus estandes. A Fortes Vilaça mandou trazer obras da dupla Osgemeos direto do ateliê dos artistas -foram vendidas menos de duas horas depois de chegar ao pavilhão. Na Leme, uma série de Felipe Cama esgotou também na primeira noite e mandaram emoldurar mais obras às pressas.
"Vendeu tudo e colocamos edições no lugar", conta Eduardo Brandão, da Vermelho. "Por causa disso, vendemos também até o que está na galeria."
Uma obra de Julio Le Parc, vendida por 300 mil na Nara Roesler, já cedeu lugar a outra peça do artista, ainda mais cara. No mesmo estande, uma série inteira de Marcos Chaves foi comprada por R$ 425 mil. Só na abertura, a galeria avalia ter movimentado cerca de R$ 2,5 milhões -no ano passado, o faturamento total da feira, com 79 galerias, foi R$ 15 milhões.
Mas é difícil fazer as contas. Muitos valores não são declarados por medo de assaltos e sequestros e receio de fiscalização tributária, já que esse é um mercado de grande informalidade e, dependendo da origem da obra, impostos podem chegar a até 42% de seu valor.
Talvez por isso, não foram vendidas as obras mais caras da feira. "Puerto Metafísico", tela do uruguaio Joaquín Torres-García avaliada em US$ 3,5 milhões, "Tamba Tajá", obra de Maria Martins com etiqueta de R$ 1,5 milhão, "Morto", de R$ 1,1 milhão, de Portinari, e "Ruína e Charque - Porto", peça de Adriana Varejão com valor estimado em cerca de R$ 1 milhão, estão sem comprador.
Enquanto isso, obras de valor menor, como as pinturas de Mariana Palma e Eduardo Berliner, na Casa Triângulo, têm fila de espera de interessados.