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março 18, 2010
Depois da estrutura, o conceito por Pollyanna Diniz, Diário de Pernambuco
Matéria de Pollyanna Diniz originalmente publicada no Caderno Viver do Diário de Pernambuco em 17 de março de 2010.
No ano que vem, o Mamam deve receber a itinerância da Bienal de São Paulo, que acontece no segundo semestre de 2010 na capital paulista. "Foi uma sinalização do curador Moacir dos Anjos e já tivemos uma reunião", explica Beth. O curador que agora está no comando da Bienal já foi diretor do Mamam e é creditado como um dos grandes responsáveis por colocar o museu no circuito nacional. "Na época de Moacir, o museu fez ótimas aquisições para o acervo, que, aliás, ele começou a organizar", complementa.
Enquanto a itinerância da Bienal não sai, a expectativa é que o museu consiga movimentar o cenário das artes plásticas na cidade e ser reinserido no cotidiano cultural da população. "A reabertura de um museu é muito problemática, o prejuízo de um fechamento é grande, já que o público deixa de frequentar o local".
Para retomar o processo de formação de espectadores, a primeira exposição do Mamam pós-reforma (mesmo que inacabada) propõe a participação do visitante e um olhar crítico sobre o acervo do museu, que foi adquirido a partir dos anos 1990, mas herdou obras de décadas anteriores.
Contidonãocontido foi dividida em cinco blocos, de acordo com as décadas em que as obras foram produzidas. "A nossa ideia era mostrar a arte produzida em Pernambuco no século 20", explica a curadora Clarissa Diniz, que trabalhou ao lado de Maria do Carmo Nino e do educativo da instituição. "Temos um acervo irregular, que não cobre a historiografia da arte", comenta Maria do Carmo. "Há obras de nomes como João Câmara, Samico, Vicente do Rêgo, mas temos também 110 obras de Luiz Carlos Guilherme, um artista que não é conhecido. Em contrapartida, não temos Montez Magno, Daniel Santiago", pontua Clarissa.
A mostra terá quadros que representam as décadas e uma relação de artistas "não-contidos" na coleção. Caberá ao visitante pesquisar a vida e arte desses que não estão retratados, para ampliar os materiais disponíveis. "Nós teremos um computador, acesso a internet, scanner. Quem souber de um artista que não é representado, pode trazer documentos, materiais de jornais, fotografias das obras", diz Clarissa Diniz.
A mostra tem trabalhos de Cícero Dias, de integrantes da Oficina Guaianazes, como Luciano Pinheiro, de João Câmara, Samico, Gato Félix, da única obra do pintor José Claúdio, um desenho da década de 1950. Nesta noite de abertura da mostra será realizada ainda uma performance idealizada por Carlos Mélo, a única do acervo do museu.
De dois em dois meses, os trabalhos expostos serão modificados, para que várias peças do acervo (que possui 1.100 obras) possam ser vistas pelo público.
Além da exposição Contidonãocontido, o Aquário Hélio Oiticica (na entrada do prédio, pela Rua da União - antes só utilizada por funcionários, agora aberta ao público) recebe documentos, cartas, que tratam da visita de Oiticica ao Recife, em 1979, um ano antes do artista falecer. "Foi uma das únicas cidades onde ele apresentou os parangolés", explica Beth da Matta.