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fevereiro 3, 2010
Olhar Coletivo por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 23 de dezembro de 2009
Grupos de fotografia como o SX70, Cia de Foto e coletivo Rolê colocam em xeque a autoria individual em prol do reconhecimento conjunto
Atuando como agências, bancos de imagens ou plataforma de trocas e interação, os coletivos de fotografia são um novo fenômeno nas artes visuais. Reunidos por identidade ou por complementaridade, os fotógrafos que integram os coletivos têm quase sempre um traço em comum: abrem mão da assinatura pessoal em favor do reconhecimento conjunto. Esse é o caso da Cia de Foto, do coletivo Rolê e do SX70. Este último, grupo que aproxima sete fotógrafos ao redor da paixão comum pela câmera Polaroid modelo SX-70, criado em 1972 e hoje extinto.
“Fotografar é uma coisa meio solitária e essa solidão pode ser um problema, sobretudo num país como o nosso, em que a formação de muitos fotógrafos é tortuosa. Os coletivos no Brasil se tornaram uma forma de debater os rumos da fotografia e isso é muito interessante”, aponta Eder Chiodetto, fotógrafo e curador que já organizou exposições com a Cia de Foto e assina a curadoria da mostra “Persona”, do grupo SX70, em cartaz até 31/12 na Galeria Mezanino, em São Paulo.
om uma proposta próxima da fotografia conceitual e da arte contemporânea, o SX70 foi criado em 2000 por Claudio Elisabetsky, Fernando Costa Netto, Marcelo Pallotta, Paulo Vainer, Roberto Wagner, Armando Prado e Ricardo van Steen. “O SX70 foi uma forma de, juntos, conseguirmos ser encarados como artistas. Cada um era visto como outra coisa – designer, jornalista, etc. Formar o coletivo foi uma maneira de tentar ser assimilado no mundo da arte”, explica Van Steen, que se refere ao design da SX-70 como o “Rolls-Royce da Polaroid”. Como coletivo, o acesso às galerias foi instantâneo e o grupo começou a trajetória com uma mostra na Galeria Vermelho, em São Paulo. Hoje, diversifica seus espaços de exposição, usando também a rua como palco, imprimindo a fotografia como lambe-lambe e disputando com os grafiteiros os melhores muros da cidade.
Não foi falta de galeria, mas de espaço para ideias autorais dentro do mercado editorial, que levou os fotógrafos João Kehl, Pio Figueiroa e Rafael Jacinto a criar, em 2003, o coletivo Cia de Foto. Com um intuito parecido ao que aproximou, em 1947, o francês Henri-Cartier Bresson, o húngaro Robert Capa e os fotógrafos da hoje célebre agência Magnum, os três fotógrafos brasileiros estavam atrás de autonomia. “Queremos que nosso trabalho autoral seja cada vez mais comercial, e que nosso trabalho comercial seja cada vez mais autoral. É uma grande perda de tempo discutir se é possível ter um trabalho comercial e artístico ao mesmo tempo”, diz o fotógrafo Rafael Jacinto. Seis anos depois de montar uma agência de fotojornalismo que preencheu uma lacuna do mercado editorial, a Cia de Foto também se articula dentro do território da arte contemporânea: no começo de 2009 o grupo foi selecionado para o 10º Salão da Bahia e expôs no MAM de Salvador, ao lado de jovens artistas como Fábio Tremonte, Nino Cais, Ana Elisa Egreja e Eduardo Berliner. Com um nome que mais parece de grupo de funk carioca, o coletivo Rolê reúne 13 amigos que se encontram de tempos em tempos num bar e saem para fotografar à noite, usando todo tipo de máquina fotográfica – de snapshots digitais a câmeras analógicas profissionais. “São reuniões para produzir fotografia, sem a intenção de vender. O processo é mais importante que o destino”, diz Ronaldo Franco, participante do coletivo desde sua formação, há cinco anos, numa conversa de bar. Com um despojamento próprio da arte de rua, os integrantes do coletivo Rolê abdicam, como seus similares, da autoria individual das imagens. “A assinatura conjunta é uma opção pertinente. Afinal, tudo – estudo, tema, estética, escolha das imagens e da forma de tratamento – é feito em conjunto, fruto de discussão coletiva”, avaliza Eder Chiodetto.
Colaborou Fernanda Assef