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dezembro 4, 2009
Diretores de museus desabafam por Roberta Pennafort, O Estado de S. Paulo
Matéria de Roberta Pennafort originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 4 de dezembro de 2009.
Reunião ontem com o ministro Juca Ferreira, para discutir renovação de acervos, virou um fórum repetitivo de reclamações
A criação de um fundo permanente para a manutenção de museus, o investimento em aquisição de acervo e a possibilidade de instalação de centros de reserva técnica pelo País foram os pontos principais tratados no encontro que o ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o diretor do Instituto Brasileiro de Museus, José do Nascimento Junior, tiveram ontem, no Museu de Arte Moderna, no Rio, com cerca de 40 representantes de instituições, artistas e curadores. O foco inicial era a compra de acervos, mas, diante da complexidade dos problemas por que passam os museus brasileiros, de vazamentos de água em seus prédios à falta de público (menos de 10%da população brasileira já foi a um museu pelo menos uma vez na vida), a reunião, que durou três horas, acabou tocando em outros temas que preocupam a todos os envolvidos no setor.
Não são questões novas, como colocaram artistas e curadores, e conforme reconheceu o ministro. "Sempre surge uma sensação de dèja vu. Um golpe de mão seria mais rápido, mas não teria legitimidade", disse Ferreira, ao citar outras reuniões em que se discutiram os mesmos problemas e se fizeram propostas semelhantes para resolvê-los. O ministro, que anotou o que foi falado, assim como Nascimento, disse que espera ter um documento com as diretrizes para a criação de um fundo para os museus, que entraria no escopo da nova Lei Rouanet, até "março, abril ou maio" do ano que vem. A ideia é que se envie ao Congresso antes das eleições, de modo a garantir sua sobrevida. Tudo vai depender do orçamento do Ministério - Ferreira espera a confirmação do aumento para 1% do orçamento federal até o fim deste ano (hoje é de 0,6%, sendo que o sonho é se chegar a 2%; o entrave é que "a área econômica continua pensando a cultura como gasto, não como investimento", ele lamentou).
Dois pontos cruciais que marcaram as intervenções foram a preservação e a visibilidade da arte no Brasil. Uma proposta interessante defendida tanto pelo curador Marcio Doctors quanto pelo artista plástico Carlos Vergara é a criação de reservas técnicas que guardem obras que não pertençam efetivamente a museu algum, mas que possam ser disponibilizadas para públicos de várias cidades.
"Tenho dúvidas com relação ao modelo atual de museu. Neste momento, deveríamos pensar muito mais em um esquema de reservas técnicas abertas que contemplem um pensamento em rede, onde seria desaguada a produção atual e que tenham condições mínimas de preservação", sugeriu Doctors. "Deveria haver um acervo nacional de arte contemporânea em Brasília. Eu não estou falando de um museu do Niemeyer, mas um galpão mesmo", disse Vergara. Ele também defendeu que o governo subsidie o acesso aos museus, lembrando que sua exposição, no MAM do Rio, custa R$ 8.
Ferreira disse que queria ter feito a reunião há um ano e meio, mas desistiu da intenção inicial, de promover uma conversa conjunta também com galeristas, marchands, artistas e museus públicos e privados, porque percebeu que seria muito difícil chegar a qualquer consenso. O incêndio que, em outubro, destruiu parte da obra de Hélio Oiticica, guardada por sua família no Rio, antecipou o encontro. Ele ressaltou a necessidade de se trabalhar junto com o Ministério da Educação para qualificar os quadros técnicos dos museus, encorpando-os "conceitualmente". Concordou, em vários momentos, que é preciso avançar muito.
"A situação brasileira é muito precária. Não há um sistema que de fato dê conta dessa complexidade, mesmo dentro dos aspectos mais elementares, como a preservação física dos acervos. Não adianta a gente se mobilizar, num espasmo de consciência, quando acontece um acidente", disse. Ferreira anunciou que o orçamento do Ibram, instituído no início deste ano, crescerá em 2010 de R$ 45 milhões para R$ 70 milhões.
À tarde, o ministro anunciou o lançamento de dez editais junto com a Petrobras, no valor de R$ 29,3 milhões, a serem investidos em projetos de artes visuais, restauro de filmes e design, entre outras áreas. Os recursos serão disponibilizados graças aos lucros altos obtidos pela empresa.
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