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outubro 29, 2009
Em obras por Gabriela Motta, Istoé
Matéria de Gabriela Motta originalmente publicada na revista Istoé, em 15 de outubro de 2009
Com enfoque em processos de criação, Bienal do Mercosul inaugura com obras inacabadas que serão transformadas durante exibição
A Bienal grita, escuta e se faz escutar. Tudo indica que a intensa movimentação que, desde julho, já se sente em Porto Alegre continuará após a abertura oficial da Bienal do Mercosul. Todo o barulho gerado pela presença de artistas residentes vindos de diversos países e Estados brasileiros será amplificado pelo tema desta 7ª edição do evento, "Grito e Escuta", e fará jus ao eixo central da exposição: a ênfase nos processos de criação. Com curadoria-geral da argentina Victoria Noorthoorn e do chileno Camilo Yañez, a mostra conta com a participação de mais de 200 artistas e se estrutura em sete exposições, uma rádio, um programa editorial e um projeto pedagógico.
Nove artistas foram chamados para participar da formatação da mostra. Saem os teóricos, entra "gente que faz". O resultado é uma equipe formada basicamente por curadores-artistas, em uma mostra marcada por programas que se entrecruzam, se confundem e se contradizem. Positivamente. Essa "dança das cadeiras", como a curadora Laura Lima define a troca de papéis entre artistas e curadores, tem o intuito de romper hierarquias e apresentar novos modelos de exposições. Laura faz a curadoria de "Absurdo", exposição em que 12 artistas são convidados a instalar seus trabalhos em um armazém cheio de terra.
Outra proposta que se destaca é "A Árvore Magnética", em que os trabalhos são programados para serem modificados dez vezes ao longo da exibição. Ao ser convidada para apresentar uma obra que se transformasse, a videoensaísta chilena Ingrid Wildi optou por conjugar, em diferentes telas, filmes realizados na última década e as referências teóricas e diagramas de suas pesquisas. A obra é o making of de um laborioso processo criativo e a afirmação de que, muitas vezes, um artista realiza muitas obras em uma só.
A diversidade de propostas não esconde um sentido comum a toda mostra: pensar os limites formais das exposições de arte. Esse é o intuito da exposição "Texto Público", em que a cidade, suas vias públicas e meios de comunicação são a matéria prima das obras (leia quadro) e do programa de residências, que deu a 14 artistas a possibilidade de se misturar com a população, desenvolvendo atividades em Porto Alegre e em nove regiões do Estado.
Um desses artistas-residentes, o francês Nicolas Floc'h, realizou junto a três comunidades "A Grande Troca - Um Projeto para Desejos Coletivos". Sua proposta foi produzir, com os moradores, objetos que representassem desejos de consumo. Camisetas, latas de tinta, instrumentos musicais e até um microônibus confeccionado em madeira, em escala real, materializam um trabalho que começou a ser feito muito antes de a Bienal inaugurar e se estenderá por tempo indeterminado. Realizadas coletivamente por artistas anônimos, essas obras de arte estão expostas a quem queira trocá-las por objetos reais.
"O projeto só se conclui quando a troca acontece", afirma Floc'h. Bastante representativa da proposta da Bienal, essa obra permanece aberta e inacabada. Como toda Bienal, em constante transformação.
Diálogo entre arte e jornalismo
O ensaio fotográfico da seção de artes visuais desta semana integra o projeto "Fotojornalismo", de Mauro Restiffe. Artista convidado da 7ª Bienal do Mercosul, Restiffe procurou Is toé e se ofereceu como fotógrafo para cobrir pautas jornalísticas definidas pela revista. Proposta aceita, ele foi pautado para cobrir a montagem da própria Bienal.
fotos : Mauro Restiffe
O projeto exigiu de ambas as partes uma negociação: o artista se submeteu às regras do jornalismo - foi pautado e se enquadrou em uma estrutura de prazos rigorosos - e a redação se adequou à regra do jogo do artista, aceitando trabalhar com imagens em P&B, produzidas por um equipamento analógico que há muitos anos já não faz parte dos procedimentos da imprensa. Feliz resultado de uma troca de gentilezas e de restrições, o presente ensaio dá continuidade à série realizada pelo artista para o jornal "Zero Hora", em exibição na exposição "Texto Público", no Cais do Porto (foto). Esta é uma das sete exposições da Bienal, que, segundo o curador Artur Lescher, apresentam trabalhos que ocupam os espaços sonoros, as vias públicas e os meios de comunicação.
Edição Paula Alzugaray
Essa idéia deque saem os teóricos “entra gente que faz” é realmente típica de uma universo profissional provinciano como o brasileiro onde a falta de profissionalismo é sempre privilegiada em relação a competência. Vinda da artista Laura Lima, é menos surpreendente ainda. A exposição curada por ela mais parece uma versão trash dos famosos cenários museográficaos da Brasil 500 anos. Se ela conhecesse um pouco de história das exposições, já que fala tanto na reformulação de modelos, saberia que o que o que fez na Bienal do Mercosul, não foi nada mais do que isso. Alem do mais não é um galpão de terra como diz a matéria, mas sim de areia, uma metáfora bem apropriada talvez, para uma curadoria tão medíocre que faz tanto alarde em “castelos de areia” sem mostrar resultados que de fato sejam consistentes. Sem dizer a que veio ou para onde vai em termos de "modelos"!!!.
Posted by: Marcos Burlamachi at novembro 12, 2009 3:30 PM