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outubro 22, 2009
Começa restauro da obra de Hélio Oiticica por Márcia Vieira, O Estado de S. Paulo
Matéria de Márcia Vieira originalmente publicada no caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 22 de outubro de 2009.
Técnicos do Instituto Brasileiro de Museus montaram um laboratório na casa do irmão do artista para recuperar peças danificadas no incêndio de sexta-feira.
Os técnicos do Instituto Brasileiro de Museus começaram ontem a mexer nas obras mais atingidas pelo incêndio que destruiu boa parte do acervo de Hélio Oiticica na noite de sexta-feira, no Rio. "Temos chance de recuperar bastante coisa. Mas ainda estamos cautelosos", explicou José do Nascimento Júnior, presidente do Ibram, que ontem visitou a casa da família Oiticica, no Jardim Botânico, onde as obras eram mantidas.
"É um trabalho lento que precisa ser muito bem feito. Só agora nossos técnicos começaram a mexer nas obras que estavam na área mais atingida pelo incêndio."
Há dois dias , cinco técnicos do instituto trabalham para salvar o que restou do acervo de quase mil obras do artista. Ontem, começou a ser montado na sala da casa do irmão de Oiticica, César, um laboratório de restauro. "A família desmontou a casa para instalar o laboratório. É uma espécie de UTI. Estamos levando desumidificadores, equipamentos de controle ambiental, de secagem, tudo o que é necessário para este trabalho. Só assim poderemos ter condições emergenciais de tratamento e depois de avaliação de cada item da coleção."
Os museus da rede estadual e federal cederam os equipamentos. Os laboratórios de restauro dos museus estão de prontidão para trabalhar nas obras a medida que elas forem sendo examinadas pelos técnicos do Ibram. "A Casa de Ruy Barbosa está cedendo a expertise deles no restauro de papel. Estamos fazendo tudo para recuperar o máximo possível da obra do Oiticica", garantiu Nascimento.
Na noite do incêndio, a expectativa era que 90% das obras tinham sido totalmente destruídas. As esperanças de o estrago ter sido muito menor agora aumentaram, mas a avaliação do Ibram só deve ficar pronta na sexta-feira. "Estamos fazendo o possível para recuperar o máximo de obras. Mas ainda é cedo para dizer quantas."
Nascimento foi até a casa da família Oiticica a pedido do ministro da Cultura, Juca Ferreira, que logo após o incêndio chegou a ser acusado de omisso diante de uma perda de um acervo tão importante.
Segundo o presidente do Ibram, depois da fase de avaliação do que sobrou do acervo, o ministério poderá fazer uma proposta para ajudar Cesar Oiticica a manter as obras do criador dos parangolés. "Nossa ação agora é técnica, de salvamento do bem cultural. Depois vamos ver o desdobramento. O ministro vai avaliar que tipo de proposta o ministério pode oferecer à família."
Depois de conversar com os técnicos que trabalham na recuperação das obras, Nascimento elogiou as condições de armazenamento criadas pela família. "As condições eram boas. Tanto que já conseguimos recuperar várias obras. Havia orientação de técnicos para conservação e cuidados com restauro de obras."
Para Nascimento, o incêndio foi uma fatalidade. "Nós temos que descobrir o motivo da origem do fogo, para que a gente possa inclusive alertar as diversas instituições sobre este tipo de situação. Mas a discussão de culpa nestas horas não ajuda muito."
O sobrinho de Oiticica e a secretária de cultura do Rio, Jandira Feghali, chegaram a trocar acusações sobre a responsabilidade da prefeitura em cuidar da obra de um artista do porte de Hélio Oiticica. Ontem, Ana Durães, diretora do Centro Hélio Oiticica, ligado à prefeitura, ainda esperava que a família concordasse em abrir duas salas lacradas desde fevereiro onde estão obras do artista. "O momento é de dor, mas precisamos desta autorização para ver que obras estão nestas salas e em que condições."