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outubro 19, 2009
Bienal do grito contido por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 19 de outubro de 2009.
A velha oposição museu-computador fica evidente na 7ª edição da Bienal do Mercosul, aberta até 29 de novembro em Porto Alegre. Dividida em sete exposições e com mais de 200 artistas participantes de países da América Latina, América do Norte e Europa, a mostra deixa claro que o mundo processado do computador - com sua fome de apropriação de obras - nem sempre resulta tão atraente quanto peças de arte corpóreas. Elas são as verdadeiras estrelas da bienal, não por acaso acomodadas pela curadora Victoria Noorthoorn num museu, o Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), dentro da mostra Desenho de Ideias, que reúne desde um precursor do expressionismo, o belga Ensor, colocado ao lado de Goeldi, até contemporâneos como Iran do Espírito Santo. É, de longe, a melhor das sete exposições da bienal sulista, que inclui vídeos, performances, teatro, peças radiofônicas, instalações e até um exercício coletivo de pichação com direito a críticas ao presidente Lula.
Aberta na sexta-feira pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, que levou ao palco o novo presidente da Bienal de São Paulo, Heitor Martins, promovendo o intercâmbio entre as duas mostras, a Bienal do Mercosul é marcada pelo reconhecimento de que estamos submetidos a uma antiga herança, como observou o historiador e crítico alemão Hans Belting. Até onde a vista pode alcançar, ainda são as imagens no interior do museu as que adquirem estatuto de arte, ao passo que as de fora estão condenadas a perseguir esse estatuto. Essa divisão, baseada no preceito de seleção, não foi provocada pelos espectadores, evoque-se. Ao selecionar grandes obras corpóreas para a exposição do Margs, os curadores da Bienal sabiam que as imateriais teriam dificuldades para se impor. Prova disso está bem ao lado do Margs, na mostra Projetáveis, instalada no prédio do Santander Cultural, que se propõe a explorar a materialização e localização específica de projetos que utilizam a www como canal. Um fiasco de imagens em movimento.
Numa oposição produtiva, algumas obras de mostras como Ficções do Invisível, Biografias Coletivas e Absurdo, instaladas nos armazéns do cais de Porto Alegre, não dependem da experiência do lugar para serem legitimadas. Mas são poucas entre tantas que traduzem a "estética da impermanência" de Harold Rosenberg.
Isto é apenas a primeira parte da matéria, que segue na página 3 do jornal. Matéria, aliás, que me faz crer que o jornalista foi a Porto Alegre para comer churrasco. Não viu a Bienal, não leu as propostas curatoriais, não entendeu nada.
Posted by: Morris Tecê at outubro 19, 2009 8:40 PMAinda não pude conferir essa edição da Bienal do Mercosul [o que espero fazer em novembro], mas essa leitura da mesma do AGF me parece no mínimo de uma profunda pobreza de espírito. Não espero, claro, que se abrace a proposta curatorial de modo cego [eu mesmo já desisti de tentar aderir conceitualmente ao projeto em sua totalidade, ainda que à distância], mas se posicionar criticamente em relação à mesma à base de reducionismos como "materialidade=qualidade" me soou surpreendentemente equivocado para alguém articulado como o autor do artigo. Além de uma referência ao Belting a meu ver um tanto distorcida - ou ao menos simplória -, a título de referendar o argumento em questão. Terá ele já ingressado no mesmo bonde do Gullar, Affonso et caterva? Espero sinceramente que não.
Posted by: Guy Blissett at outubro 29, 2009 7:31 PMÉ preciso ver a Bienal para concordar, ao menos em parte, com Antonio Gonçalves. A debilidade das exposições dos armazéns pouco tem que ver com os suportes escolhidos - a questão é que há, de fato, poucos trabalhos relevantes em comparação com a mostra no MARGS. Sem contar os problemas técnicos - no dia seguinte à inauguração ainda havia trabalhos sendo finalizados e a sinalização geral estava bastante deficiente. A mostra Absurdo, curada por Laura Lima, cujo trabalho como artista admiro muito, escorrega no exagero e traz à mente as propostas cenográficas espetaculares de Bia Lessa, interferindo maciçamente nos trabalhos dos artistas. Por outro lado, discordo de Antonio Gonçalves quanto a Projetáveis, no Santander Cultural, que considerei positiva, exibindo trabalhos interessantes, como os de Antoni Abad e Oto Hudec, que estabelecem uma ponte com o universo alheio. De qualquer forma, vá.
Posted by: Sylvia Werneck at outubro 30, 2009 10:28 AM