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julho 7, 2009
Natureza inventada por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 10 de junho de 2009.
O fantástico, o exuberante e o monstruoso se combinam na obra de Janaina Tschäpe
Janaina Tschäpe é, como seu nome já aponta, meio brasileira, meio alemã. Nascida em Munique, viveu no Brasil até os 11 anos, parte deles no município de Bocaina de Minas, região montanhosa de matas e cachoeiras no sul do Estado de Minas Gerais. Talvez seja a partir desse contato inicial com a natureza brasileira que brotem as formas orgânicas, exuberantes e misteriosas que povoam suas fotografias, pinturas, desenhos e videoinstalações. Ou, ainda, do encontro entre os contos de fadas do Hemisfério Norte e as lendas afro-brasileiras é que venham a surgir suas criaturas maravilhosas e monstruosas, atualmente em duas exposições individuais, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
As praias, cachoeiras e matas fechadas são os cenários de Janaina. As quatro telas a óleo e as duas aquarelas em grande formato, em exibição na individual no Galpão Fortes Vilaça, parecem ser fruto de um longo processo de conversas e de convivência entre uma natureza real e um mundo interno e imaginário. As telas apresentam paletas que tendem para o verde, o violeta, o rosa e o azul, e foram pintadas ao longo dos últimos quatro meses, no ateliê que a artista mantém no Jardim Botânico, no Rio. No mesmo jardim, Janaina elaborou, em 2005, a série fotográfica "Melantrópicos", em que figuras femininas arrastam-se sobre pedras, troncos e musgos, carregando membros, tentáculos gigantes e outras próteses. Inspirada pela floresta tropical, criou também uma enciclopédia pessoal de plantas, na série "Botânica", em que fotografou pequenas esculturas feitas de massa de modelar.
Nas séries de vídeos e fotografias "After the Rain" (2003), "Melantrópicos" (2004), e "The Sea and the Mountain" (2004), em exposição na Galeria Laura Alvim, no Rio, os reinos vegetal, animal e mineral somam-se à natureza humana, criando situações em algum lugar entre a fábula e a ficção científica.
Circuitos no mundo
Brasileiros criam mundos em Veneza
53ª Bienal de Veneza - Fazer mu ndos/ Giardini e Arsenale, Veneza, Itália/ de 7/6 a 22/11
Há pelo menos 40 anos, desde que Cildo Meireles sequestrou a garrafa de Coca-Cola para fazer dela suporte de estratégia de guerrilha cultural, inscrevendo-lhe a frase "Yankees go home" e devolvendo-a à circulação, diversos artistas invadem espaços alheios a museus e galerias, esquivando- se às expectativas do mercado de arte. Mas muita coisa mudou e hoje são as instituições de arte que incentivam e abrem suas portas para os "formatos não convencionais". Da Documenta 12, em 2007, participou o chefe de cozinha catalão Ferran Adrià. Nesta edição da Bienal de Veneza, entre os convidados da 53ª Exposição Internacional - Fazer Mundos destaca-se o músico Arto Lindsay, apresentando a parada musical e performática "Multinatural (Blackout)". Nascido nos Estados Unidos, criado no Brasil, residente em Nova York durante décadas e hoje radicado no Rio de Janeiro, Lindsay está entre os cinco brasileiros convidados pelo curador sueco Daniel Birnbaum e pelo cocurador alemão Johan Volz para a principal mostra de Veneza.
Cildo Meireles participa de "Fazer Mundos" com uma instalação inédita intitulada "Pling Pling", que joga com a percepção visual das cores primárias em relação às secundárias. A instalação é formada por seis salas cromáticas que contêm seis monitores de tevê exibindo a cor oposta àquela que pinta o ambiente. A artista paulista Renata Lucas, especialista em intervenções urbanas e arquitetônicas, inseriu uma autoestrada sob o solo da alameda que liga os Giardini ao Arsenale. "É uma espécie de arqueologia ao contrário, onde o que se encontra nas camadas subjacentes de uma cidade antiga como Veneza é o futuro", descreve. Sara Ramo, nascida em Madri e residente entre Belo Horizonte e Paris, apresenta duas videoinstalações e um trabalho inédito montado em uma pequena casa do Giardino delle Vergini, "A Casa de Hansel e Gretel". Já a carioca Lygia Pape (1927-2004) é considerada uma das referências históricas da exposição, ao lado de Gordon Matta- Clark e Yoko Ono, e terá remontada sua instalação "Ttéia 1".