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abril 6, 2009
Brasil urbano por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 18 de março de 2009.
Relação do artista com as cidades é tema da quarta edição do Rumos Artes Visuais
Rumos Artes Visuais – Trilhas do desejo/ Instituto Itaú Cultural, SP/ de 12/4 a 10/5
Programa de mapeamento e fomento da produção artística brasileira, com cobertura de todo território nacional, o Rumos Artes Visuais é referencia obrigatória para a identificação dos novos talentos e das diversas tendências da arte contemporânea. Após um ano de pesquisas, envolvendo (tantos) profissionais de diversos estados, que trabalharam em colaboração com o curador geral Paulo Sérgio Duarte, o programa chega à sua quarta edição, apresentando no Itaú Cultural 72 obras de 45 artistas de 11 estados.
A exposição produz um retrato do momento atual. De acordo com essa instantânea, o jovem artista brasileiro faz do perímetro das cidades a sua temática e o seu campo de trabalho. Nessa arte de contornos urbanos, é possível detectar, por exemplo, aqueles que trabalham sobre a recriação e a reconfiguração de espaços arquitetônicos, domésticos e sociais. Esse é o caso do paulista Nino Cais, que ao instalar colunas produzidas com cabos de vassoura na sala de exposição instaura um dialogo entre a arquitetura urbana e o mobiliário domestico. Esta é também a proposta da videoinstalação Contra-muro, da carioca Ana Holck, que insere o espectador entre projeções que alteram imagens de construção e desconstrução de um muro de concreto.
Entre as escolhas desse jovem artista revelado no Rumos apresenta-se também o uso de matéria prima industrial urbana. O capixaba Rafael Alonso prefere os elásticos de escritório coloridos e fita adesiva às tintas e pincéis. Já Yana Tamayo reconstrói a imagem de edifícios de Brasília com objetos plásticos de uso cotidiano.
Embora a curadoria observe que os artistas selecionados revelam um Brasil mais urbano do que rural, deixando de lado a temática social, impossível não detectar esse tipo de preocupação nas fotografias de Barbara Wagner, que mapeiam duas gerações de mestres do maracatu da Zona da Mata brasiliense; ou do paraense Alan Campos, que registra minorias indígenas do Amazonas; ou mesmo na videoinstalação Cronópios, da gaúcha Leticia Ramos, com imagens do Largo de Pinheiros paulistano. Sinais de que o jovem artista tem um impulso documental na abordagem do social.
Roteiros
Meus livros, meus discos
Vânia Mignone/ Casa Triângulo, SP/ até 28/3
Geralmente composta por uma pintura de traços econômicos, cores fortes e textos curtos, a obra de Vânia Mignone tem uma relação de parentesco – ainda que distante – com o universo gráfico dos posters de cinema, dos cartazes de rua, das placas de sinalização. Nesta sua exposição individual na galeria Casa Triângulo, as pinturas de formato quadrado remetem às capas de discos de vinil e apresentam-se como uma coleção de imagens alçadas de um repertório pessoal e intimista. Em cada tela, uma personagem realiza uma ação solitária: uma mulher experimenta um vestido para um baile, um rapaz agacha-se junto ao sofá da sala de sua casa. Cada uma dessas situações poderia significar um fragmento narrativo qualquer: o capítulo de um livro, o prólogo de um conto, um ato de peça teatral, a letra de uma música.
A relação entre a pintura e a narrativa de histórias é evidente na obra desta artista paulista, que atualmente também exibe um trabalho na exposição coletiva Nova Arte Nova, no Centro Cultural banco do Brasil, em São Paulo. “Gosto muito desses jogos de palavras criando imagens”, diz Vânia. “Mas como eu não sei fazer poesia, nem construir uma imagem através das palavras, eu uso o meu recurso, que é a pintura, ou o desenho. Mas incorporo essas palavras porque gosto muito delas”.
Colaborou Fernanda Assef
Vi o Rumos na expectativa de encontrar uma mostra que me desse pistas de rupturas com a modernidade. Fico um pouco chateado em sair para ver uma exposição que se propõe a mapear artistas emergentes e cujo resultado dessa ediçao é tão comum quanto desnecessária aos olhos de quem a percebe. Desnecessária porque sugere modelos repetitivos de uma estética que se torna cada dia mais elementar e repetitiva: será que esta é a cara da produçao artística nacional ou de um pequeno grupo de "curadores" que tangenciam subjetividade para formatar um pensamento em torno dessa modernidade que eles julgam em afirmar ser contemporâneo? Pouquissimas obras expostas nos dão uma abertura para a contemporaneidade, outras sao a cara dos anos 60-70, obedecendo a um padrão que me parece ser a cara do curador-chefe (muito moderno e de uma vaidade ampla e incontida). Para que serve senhores modernos dando as cartas da contemporaneidade? Por que o Itau nao contrata Cauê Alves, Ricardo Resende ou Juliana Monachesi para curador-chefe da referida mostra? Eles sao jovens, dialogam com a arte de seu tempo e nao sao modernos, eles sao contemporâneos... Paula Alzugaray mata a cobra e mostra o pau quando afirma que o Rumos tem ruídos conceituais. Ela foi generosa em colocar poucos exemplos, eu percebí alguns outros.
Posted by: Julio Cesar Gomes at abril 21, 2009 12:14 AMEm tempos de crise vao aparecendo formatos e mais formatos de mostras que são no minimo questionáveis. Nos últimos anos, acompanho de perto algumas mostras que sao referências para artistas emergentes... foco que me chama atenção pela curiosidade de refinar o olhar em direção aquilo que me parece "novo", na cena artística brasileira. Duas mostras me dão as coordenadas dessa "novidade", são elas: O Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo e a Temporada de Exposições do Paço das Artes, ambas aqui em Sao Paulo. Levando em consideração a relação custo/resultado, ambas as mostras me parecem dar bons resultados à cena contemporânea paulistana, o que não é visto no mega espetáculo Rumos Visuais do Itaú Cultural. Imagino o quanto se gastou para "mapear" 1600 artistas e quanto se gastará para intinerar por algumas capitais brasileiras. A Paula Alzugaray elucida uma problematização nesta edição do Rumos pra lá de pertinente, relacionadas ao problema curatorial. Sinceramente, adentrar na arte contemporanea se utilizando de signos armoriais é um retrocesso na produção da arte contemporanea no Brasil. Legitimar isso é numa mostra como o Rumos está sem rumo nesta edição. Utilizar isso com a pecha de urbano é um desrespeito a tantos que produzem uma arte de qualidade, meramente urbana... talvez muitos bons artistas ficaram de fora dessa mostra por conta dessa curadoria míope que assumiu o Projeto Rumos. Lembro-me bem a Bienal do Mercosul, apelidada de Bienal do Amílcar de Castro, lá em Porto Alegre, curadora por este senhor que deu este rumo ao Rumos. Concordo com as palavras acima, que o Rumos tem que ser um projeto curatorial de jovens críticos e nao de seres caquéticos que tem sua trajetória calcada em órgãos públicos como a decadente FUNARTE. Enquanto for assim, prefiro as mostras menos soberbas do Paço das Artes e do Centro Cultural Sao Paulo.
Posted by: Manoel Nobrega at abril 22, 2009 5:26 PM