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março 16, 2009
Rumos mostra nova arte do país por Mario Gioia, Folha de S. Paulo
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada na sessão Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de março de 2009
Mapeamento de 45 artistas realizado pelo Itaú Cultural não encontra regionalismos e política explícita
Mostra, que tem abertura hoje para convidados, é fruto de trabalho coordenado pelo crítico Paulo Sergio Duarte
Mapeamento da nova arte nacional, o projeto Rumos Artes Visuais tem aberta sua exposição hoje no Itaú Cultural celebrando o cruzamento de linguagens -pintura, fotografia, vídeo, gravura, escultura, instalação, desenho e performance- como uma das principais características das 72 obras dos 45 nomes da mostra.
Mas esse não é o único traço comum. O esvaziamento dos regionalismos e a ausência de trabalhos de teor explicitamente político são outros aspectos que surpreenderam a equipe curatorial.
"A arte militante de cunho político-social acabou, ao menos nesse nosso mapeamento", afirma Paulo Sergio Duarte, 62, crítico de arte radicado no Rio e coordenador do grupo. "Nem entre os trabalhos descartados havia esse viés", diz ele, que contou com a ajuda de quatro curadores de outros Estados -Alexandre Sequeira (PA), Christine Melo (SP), Marília Panitz (DF) e Paulo Reis (PR).
Na entrada do último andar da exposição, o diálogo entre linguagens é destacado pelos curadores. Em uma das paredes, quatro fotografias da paulista Sofia Borges, 24, são influenciadas pela luz e pela composição da pintura. E, na frente delas, duas pinturas do paulista Rafael Carneiro se apropriam de imagens registradas por câmeras de um circuito interno de segurança.
"As fotos da Sofia têm uma luz barroca, guardam algo das pinturas dos séculos 16 e 17, de antigas naturezas-mortas", avalia Panitz, 50. "Já as pinturas do Rafael se apropriam dos frames do vídeo, são opacas." Borges concorda com a avaliação de Panitz. "Faço construções fotográficas.
Duplico figuras, faço sobreposições, coloco elementos. De certa forma, o meu método se apropria muito mais do "arbitrário" da pintura que do "instantâneo" da fotografia", diz a artista, um dos 16 nomes de São Paulo, o Estado com mais representantes no Rumos. Logo depois, vem o Rio, com seis, e o Pará, com cinco.
E é do Pará que são exibidos outros bons trabalhos da mostra, como o vídeo "Efêmera Paisagem", de Alberto Bitar, que, em quatro minutos, reconstrói o caminho de 70 km que o artista percorria com a sua família de Belém a Mosqueiro. "Poderia ter sido feito em qualquer lugar, tem uma velocidade próxima do mundo urbano", diz Sequeira, 47. "Por isso acreditamos que os regionalismos mais antigos foram suplantados. O artista usa um discurso que é forte em qualquer ambiente."
Uma noção de precariedade também parece aproximar as obras do paulistano Nino Cais, 39, que faz esculturas com baldes e objetos domésticos, e do gaúcho Ernani Chaves, que exibe tacos empilhados. "Busco o equilíbrio, mas há uma tensão permanente, pois as varas que sustentam o trabalho são frágeis. Um esbarrão mais forte, e desaba tudo", diz Cais.