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março 11, 2009
Nada para ver por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 4 de março de 2009.
28ª Bienal de São Paulo, apelidada de "Bienal do vazio", não foi contemplada na retrospectiva sobre o vazio inaugurada em Paris (Vides - une rétrospective /Centre Georges Pompidou, Paris /de 25/2 a 22/3)
O cartaz da exposição Vides - une rétrospective mostra um andar vazio do edifício do Centre Georges Pompidou, de Paris, em fotografia tirada possivelmente quando o museu estava em construção, nos anos 70. A fotografia remete a uma imagem repetida inúmeras vezes na mídia brasileira, no fim de 2008: o segundo andar do Pavilhão da Bienal sem nenhuma obra de arte exposta. Nossa "Bienal do vazio", no entanto, não está contemplada nesta retrospectiva das exposições vazias que aconteceram no mundo ao longo dos últimos 50 anos.
"É claro que nós estávamos cientes da 28ª Bienal e seu projeto ressoa profundamente em nossas pesquisas", afirma Mathieu Copeland, um dos cinco curadores da retrospectiva. "Mas, se me lembro bem, 'apenas' o segundo andar ficou vazio", completa ele, afirmando que um dos critérios de seleção foi o de considerar os eventos que deixaram seus espaços completamente esvaziados.
A mostra propõe um percurso cronológico por nove salas que representam nove exposições em que não havia absolutamente nada a ser visto. O precedente foi aberto pelo francês Yves Klein, que em 1958 pintou de branco a Galerie Íris Clert, em Paris, como uma forma de transpor ao espaço suas pesquisas sobre a pintura monocromática e a sensibilidade pura. Segue-se ao gesto inaugural de Klein uma série de eventos ligados à arte minimalista e conceitual, realizados por Robert Irvin, Robert Barry e pelo grupo Art & Language, nos anos 1960 e 70. "Desde então, o espaço vazio tornou-se um clássico da postura radical e foi reprisado em outros contextos e outros tempos por artistas com intenções similares ou mesmo opostas", explica Copeland.
Segundo o curador, que em trabalhos anteriores também subverte o papel tradicional das mostras de arte (realizou, entre outras curadorias, Une exposition parlée e Une exposition choreographée), "cada um desses vazios tem diferentes naturezas e significados". O de Laurie Parsons, por exemplo, na Lorence Monk Gallery, em Nova York, em 1990, teve a função de anunciar sua renúncia do mundo da arte. Já Maria Eichhorn decidiu dedicar o orçamento de sua individual à reforma da Kunsthalle Bern, na Suíça, em 2001.
"Como acontece frequentemente com os vazios, a Bienal de São Paulo teve uma razão que a legitimou como vazia (financeira, curatorial, arquitetônica...). Mas, sempre que as exposições terminam, o vazio é novamente preenchido com objetos. Esperemos que isso aconteça na próxima bienal", afirma o curador. Embora ausente da mostra, a curadoria de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen é citada no catálogo, uma antologia sobre o vazio, com textos de 45 autores abordando o tema de ângulos tão diversos quanto a arte, a ciência, a religião, a música e o cinema.
Roteiros
Remetentes e destinatários
Cartas/Trajetos / Usina Cultural Energisa, João Pessoa / até 31/3
Diante de uma obra de arte, a tendência é considerar o artista como o remetente (de uma informação) e o espectador como o seu destinatário. É fato que entre autor e público ocorrem relações de correspondência e diálogo e esse é um dos temas de Cartas/Trajetos, que acontece em João Pessoa, na Paraíba. A exposição apresenta obras em que a carta é o suporte para a criação, como nos desenhos de José Rufino (foto). Mas a troca entre duas pessoas não é o único foco. As correspondências escritas também são vistas aqui como um veículo para as relações em rede e como um motivo para se discutir outros temas, como a palavra, a paisagem, a cidade e o corpo. "A carta é um corpo em movimento, formado por palavras que elaboram paisagens particulares e transitam por um coletivo maior: a cidade", explica o curador Bitu Cassundé. Assim, videoinstalações, gravuras, esculturas e fotografias ultrapassam as relações diretas com as cartas enquanto tema e se correlacionam numa rede de assuntos diversos. Entre os "destinatários" dessas cartas, os artistas Yuri Firmeza, Waléria Américo e Bruno Farias.
Colaborou Fernanda Assef
Concordo com a decisão de não incluir a Bienal de São Paulo na mostra do Centre Georges Pompidou. Mas, a justificativa para mim passa muito mais pelo simples fato do andar vazio daqui ser proposta de curador e não de artista, portanto não é arte, é curadoria.
Posted by: Clarissa Borges at março 20, 2009 4:01 PM