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fevereiro 26, 2009
Artistas captam a imprecisão da realidade cotidiana por Camila Molina, Estado de São Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, em 20 de fevereiro de 2009.
Mostra reúne diversidade de obras de 13 jovens criadores que buscam ultrapassar o automatismo contemporâneo
Primeiro somos falados que vistos; primeiro somos palavra que imagem. A citação lacaniana que o artista Thiago Honório faz cai bem para o mote de Realidades Imprecisas, coletiva que o Sesc Pinheiros inaugura hoje para o público e da qual ele faz parte ao lado de Débora Bolsoni, Fabiana Queirolo, Flamínio Jallageas, Flávia Bertinato, Helena Martins, Marcelo Amorim, Mariano Klautau Filho, Milena Travassos, Nino Cais, Orlando Maneschy, Tatiana Blass e Tatiana Ferraz. Na mostra, com curadoria de Carolina Soares, a diversidade de obras coloca em evidência um campo caro da produção contemporânea: o da "re-significação das coisas", o da criação de ambiguidades a partir de elementos da realidade cotidiana, alguns deles tão banais.
Na entrada da mostra, no térreo, o díptico de fotos de Maneschy já remete a uma ideia que perdurará por todo o percurso da exposição. Uma imagem revela uma porta com cortina esvoaçante na qual um homem adentra e a outra, o local depois dessa ação. Mesmo assim, o curioso das passagens para o "campo sensível", traduzidas em todas as obras da mostra ou nessa especificamente, é que o espectador não vai atravessar o espelho como a Alice de Lewis Carrol. Do outro lado não encontrará fantasia ou maravilhas, mas uma sensação de imprecisão a partir do real.
Evoca-se um mergulho nos trabalhos para que se ultrapasse uma espécie de "automatismo convencional pelas palavras", como diz a curadora. "O enunciado é ampliado em seu caráter conotativo para abarcar outros sentidos", completa. Em À Espera, de Helena Martins, por exemplo, três fotos horizontais mostram grupos de pessoas sentadas, mas não temos o índice de quem são, nem de onde, tampouco de que época e há um banco para que também nos sentemos. As intervenções de Débora Bolsoni, igualmente, traduzem de forma imediata a relação de deslocamento de tempo e espaço: a artista colocou uma porta de casas simples e uma torneira no meio das salas expositivas.
Para um campo mais abstrato, pode-se citar a instalação Amante, de Flávia Bertinato, abrigada no terceiro piso. Um cubo se fecha com suas paredes feitas de cortinas vermelhas e de dentro das camadas de véus sai a música repetida Ad Ogni Costo, de Ennio Morricone, "divertida circense", diz Flávia. Mas mesmo que se especule sobre "alguma manifestação maior" dentro daquele espaço, é difícil chegar ao interior do cubo. É um trabalho que coloca a questão de que "não há brecha para o corpo", mas a proposta de um "exercício para o olhar". Ao lado dessa obra, outro destaque é o vídeo Exposição, de Thiago Honório: na ação, o artista vai despelando um pêssego e promove uma vontade de simbiose com a pele do fruto. Mais uma vez se fala de limites, agora não de interior e exterior, mas de significados de "superfícies".
Serviço
Realidades Imprecisas. Sesc Pinheiros. RR. Paes Leme, 195, 3095-9400, 3.ª a sáb., 10h30/21h30; dom., 10h/18h30. Grátis. Até 19/4