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fevereiro 4, 2009
Destinos da pintura, por Paula Alzugaray, Revista Isto É
Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na Revista Isto É edição 2041, no dia 17 de dezembro de 2008
Exposição panorâmica da arte emergente na última década privilegia a pintura realizada por essa geração (Nova arte nova/ CCBB RJ - até 4/01/09 / CCBB SP - de 27/01/09 a 12/04/09)
Se em anos recentes o vídeo e a fotografia têm presença marcante em salões, bienais e coletivas – em certos casos, preponderante até –, temos hoje uma panorâmica em que a pintura é o destaque. Com o intuito de mapear a arte contemporânea produzida por jovens artistas nesta primeira década do século 21, a mostra Nova arte nova reconhece a diversidade de técnicas e propostas dessa geração, apresentando esculturas, objetos sonoros, desenhos, fotografias, vídeos e instalações (poucas). Mas a marca da pintura é aqui incontornável. Um terço dos 56 artistas de 14 estados brasileiros, em exposição no CCBB Rio, apresentam trabalhos em pintura ou obras desenvolvidas a partir de questões próprias do âmbito da representação pictórica. Esse é o caso, por exemplo, das fotografias do amazonense Rodrigo Braga, que elabora arranjos com peixes, frutas e legumes, remetendo ao gênero clássico da pintura de natureza-morta; ou das esculturas do carioca Felipe Barbosa, que faz composições com casas de pássaros, em citação às bandeirinhas do pintor Alfredo Volpi.
Entre os jovens pintores selecionados pelo curador Paulo Venâncio Filho há desde aqueles já inseridos no circuito, como Tatiana Blass, Vânia Mignone, Henrique Oliveira e Marcone Moreira, até artistas que estão colocando seu primeiro pé no mercado, como Bruno Miguel, Gisele Camargo ou Alice Shintani. Ao cercar as várias expressões contemporâneas da pintura, Venâncio assume uma direção bem definida e deixa de se aprofundar em outros campos muito transitados pelos artistas hoje: os terrenos conceituais, imateriais, virtuais ou digitais, que efetivamente representam o “fenômeno novo” perseguido pelo curador. Mesmo diante dessa lacuna – um panorama é, afinal, um recorte que não pode dar conta da totalidade de um contexto –, a exposição enche os olhos pela qualidade e quantidade de suas obras e atesta a vitalidade do que está surgindo no horizonte. Um vigor que a 28ª Bienal de São Paulo, encerrada Sábado 6, definitivamente não apresentou.
Crítica: A possível revoada, por Marisa Flórido Cesar
Fuga/ A Gentil Carioca, RJ/ até 20/12
Um homem, atado a árvores por cordas que atravessam a janela, tentava, em vão, puxar a paisagem para dentro do espaço expositivo. O puxador, de Laura Lima, nos confrontava a questões da pintura: ser a janela rasgando o mundo e o espelho onde esse mundo se refletia. Aquelas cordas, como linhas de fuga convergindo para um ponto ilusório no infinito, ensaiavam inutilmente emoldurar a dispersão da paisagem. No ponto de fuga da perspectiva linear, os horizontes sonhavam ancorar-se no olhar e na medida do homem. Derrisória presunção.
Fuga, em exposição em A Gentil Carioca, lembra O puxador, realizado anos atrás pela artista. Na entrada, desenhos de pássaros, colocados nas mais variadas alturas. Na galeria, transformada em um enorme viveiro, caminhamos entre uns 50 pássaros, algumas esculturas – para pássaros e homens! – (foto) e pinturas de paisagem com os horizontes oblíquos. Em meio ao canto das aves, os “bípedes sem penas” - como Platão chamou certa vez o homem - participam, emoldurados, da obra viva. Coadjuvantes, decerto, pois desenhos e quadros seguem o horizonte dos pássaros, a sinuosidade de seus vôos, a elevação de seus olhos. Somos, ali, matéria pictórica.
Laura Lima trabalha com “coisas vivas”, como costuma dizer, desde os anos 90. Já colocou pavões e faisões no CCBB do Rio de Janeiro, já aplicou plumas de carnaval em “galinhas de gala”. Para essa exposição, a artista, em parceria com um criador, ambientou pássaros, acostumados a espaços pequenos, em grandes viveiros para que “reaprendessem a arte de voar”.
Se O puxador se esforçava para trazer as fugas do mundo para dentro da galeria, em Fuga o viveiro transborda pelas janelas, projetando-se sobre a rua. Talvez os pássaros possam “descobrir a passagem mimética que os conduza à fuga”, como diz o texto de apresentação. E, quem sabe, o bípede implume descubra com seu parceiro de penas, na abertura da janela e no estilhaço do espelho, o infinito das cintilações e dos desvios. Inversão da perspectiva: as fugas irradiando-se para a infinidade de um homem sonhador de vôos. O artista? O que abre a janela e quebra os espelhos para a possível revoada.
A exposição de Laura Lima tem o acompanhamento do IBAMA e de profissionais especializados para o bem estar dos animais e do público.
Marisa Flórido Cesar é crítica de arte e curadora independente
Típico texto de quem fala, e não diz nada!
Posted by: LOBO at fevereiro 10, 2009 12:06 PM