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dezembro 11, 2008
Ministro da Cultura pede a Serra libertação de pichadora da Bienal, por Diógenes Muniz, Folha on line
Ministro da Cultura pede a Serra libertação de pichadora da Bienal
Matéria de Diógenes Muniz, originalmente publicada no Folha on line, no dia 11 de dezembro de 2008
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, pediu ao governador José Serra (PSDB) que ajude a libertar Caroline Pivetta da Mota, 23, presa há mais de 40 dias por pichar as paredes da Bienal, no parque Ibirapuera. Ferreira ligou anteontem para Serra e para o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, pedindo intervenção imediata.
Caroline foi uma das 40 visitantes que, no dia 26 de outubro, atacou com spray o prédio da Bienal em protesto contra o que ficou conhecido como o "andar vazio".
Dependendo do julgamento, pode ficar presa até a próxima Bienal, em 2010. O artigo 62 da Lei de Crimes Ambientais (destruição de patrimônio cultural) prevê pena de um a três anos.
"Caso a menina não seja libertada, teremos que deflagrar uma segunda fase [de ações]. O ministério pode dar assistência jurídica a ela, no sentido de garantir sua defesa", afirmou Ferreira à Folha Online.
Segundo ele, "é um escândalo uma pessoa ficar presa esse tempo todo porque fez uma intervenção gráfica". A advogada da jovem, Cristiane Sousa Carvalho, diz que a Caroline só continua presa por não ter conseguido comprovar residência fixa, tampouco ocupação legal.
As respostas do governador e da Bienal foram "positivas" e "atenciosas", de acordo com o ministro. "O Serra alegou que as coisas não funcionam assim, de mandar soltar e a pessoa já sair, mas me disse que vai ver o que pode fazer", afirmou.
O ministro disse discordar da "agressividade" das manifestações de pichadores. "Enfeiam a cidade, mas são manifestações de grupos que querem fugir do anonimato sinalizando sua existência, sua territorialidade. Confesso que não tenho muita simpatia, mas não acho que seja caso de polícia."
Em comunicado oficial divulgado ontem, a Fundação Bienal negou novamente ter "qualquer ingerência sobre a liberdade da jovem".
"Não cabe à fundação "retirar queixa" ou pedir "relaxamento da prisão", já que a jovem foi presa no ato do delito (flagrante) e a decisão pela sua permanência na prisão, ou mesmo a intensidade da pena aplicada ao caso, é da Justiça."
"A única responsabilidade da fundação, neste caso, foi acionar a polícia e registrar boletim de ocorrência", afirma a nota. O governo não se manifestou até a conclusão desta edição.
O segundo pedido de liberdade provisória de Caroline será julgado hoje.
Em entrevista à Folha Online na última semana, de dentro do presídio, a jovem disse que picha "para o povo olhar e não gostar". "A gente não queria estragar as obras, mesmo porque não tinha obra. A obra nós que íamos fazer."
Curto-circuito na instituição Bienal
A prisão da jovem Carolina Pivetta da Mota é certamente o fato mais importante desta Bienal.
Deixando de lado a questão legal e o argumento de preservação do patrimônio, talvez tenha sido o ato mais conseqüente de uma instituição inconseqüente.
Foi preciso que um grupo de 40 jovens, dos quais 39 “não capturados” para emergir um descontentamento. A meu ver, nenhum dos artistas tomou a atitude que a Fundação Bienal merecia efetivamente. Não apenas pelo formato desta Bienal, mas sim pelo conjunto de atitudes.
Tais atitudes vêm ocorrendo ao longo destes anos onde o artista – principal elemento deste complexo jogo – nunca se manifestou à altura contra o fato de não ser consultado sobre os modelos sugeridos pela instituição, nunca se pronunciou em prol de uma Bienal livre das amarras curatoriais, nunca declinou de sua participação em nome de um coletivo insatisfeito.
Vale destacar poucas exceções como os artistas exemplares como Cildo, Barrio, Nuno que se manifestaram publicamente em situações diversas.
Vale destacar que os artistas do segmento das artes visuais não atuam pelo coletivo quase nunca e isso precisa mudar urgentemente. As críticas sensacionalistas que surgem pelos jornais jamais são rebatidas, não existe troca, não existe reflexão, não existe Arte.
Já a manifestação dos curadores que decidiram não participar desta bienal é mais política e, portanto reforça o seu envolvimento no jogo das artes e os mantém superiores aos artistas.
Caros a Arte precisa ser levada a sério e quem a faz é o principal responsável pelo estado da produção contemporânea. Já é hora de parar com essa coisa de apenas comparecem para mostrar seus rostos, para ter assunto ou mesmo para se fazer presente ao circuito comercial das artes.
H.
Acho anti-ética a falta de posicionamento d@s curadores. Esperava que assumissem um ponto de vista mais estético ao invés de se esconderem atrás de um discurso institucional insípido como o da fundação bienal. Lembro-me o crítico de arte Mario Pedrosa definia a arte, durante a ditadura, como "o exercício da liberdade de expressão", e penso que por oposição, a própria origem da palavra curador - aquele que cuida de um acervo privado, já aponta para esse tipo de apatia crítica e falta de compromisso com a vida da garota.
Posted by: gastao f at dezembro 16, 2008 12:45 PMEstou acompanhando o caso da moça que continua presa e me posiciono radicalmente contra esta prisão. Agora, fazendo um recorte, observo que o povo todo que estava engasgado com a Bienal do Vazio , está aproveitando a situação pra meter pau nos curadores (que não tem nada a ver com isso) e com a direção da Bienal, que não tem autoridade pra mandar soltar a moça. Vamos fazer abaixo assinado paras as instâncias competentes da justiça para resolver esta prisão arbitrária.
Posted by: Mariane Andrade at dezembro 16, 2008 2:40 PMEm entrevista à "Folha Online" a pixadora presa, Caroline, disse: "A gente não queria estragar as obras da Bienal, mesmo porque não tinha obra. Ali, nós é que íamos fazer uma obra".
Eu concordo. Acho inclusive que a curadoria da Bienal deveria se pronunciar de público exigindo a liberdade dos pixadores. Basta ler a conceituação desta Bienal, chamada como "Em vivo Contato", pelo curador Ivo Mesquita: "Considerando que parte das práticas artísticas contemporâneas não se restringe à produção de um só objeto passível de contemplação em um mesmo tempo e lugar, a 28a. Bienal propõe diferentes dispositivos de exposição e difusão (...): Praça: A transformação do andar térreo do Pavilhão Ciccillio Matarazzo numa praça pública, como no desenho original de Oscar Niemeyer para o parque em 1953, sugere uma nova relação da Bienal com o seu entorno - o parque, a cidade -, que se abre como a ágora na tradição da polis grega, um espaço para encontros, confrontos, fricções (...), procurando gerar energia para uma aeração do edifício, assim como para a consolidação da mostra como um espaço social temporário, gerador de uma potência criativa que perpassa tanto artistas quanto público reunidos em seus acontecimentos." Ainda o curador, descrevendo o segundo andar, a "planta livre", o "vazio", o local buscado pelos pixadores para sua interferência: "É nesse território do suposto vazio que a intuição e a razão encontram solo propício para fazer emergir as potências da imaginação e da invenção. Esse é o espaço em que tudo está em um devir pleno e ativo, criando demanda e condições para a busca de outros sentidos, de novos conteúdos".
Em minha opinião a advogada de Caroline poderia utilizar a conceituação da Bienal como argumento de defes de sua cliente: "o confronto, a fricção que geram energias para uma aeração do edifício, a potência criativa... etc. etc." tudo isto poderia estar se referindo ao trabalho dos pixadores, não fossem eles de periferia e sem acesso ao circuito de artes, que a Bienal pretensamente procura discutir.