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novembro 7, 2008
Artista francesa ganha obra em MG, por Mario Gioia, Folha de São Paulo
Artista francesa ganha obra em MG
Matéria de Mario Gioia, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 03 de novembro de 2008
Dominique Gonzalez-Foerster tem instalação sonora em centro de artes; "É um ambiente puramente sonoro que funciona como uma longa seqüência cinematográfica", diz ela, que está em cartaz na Tate
Propor experiências. Esse parece ser um dos eixos principais da obra de Dominique Gonzalez-Foerster, artista francesa de destaque na cena contemporânea mundial e que acaba de ter sua primeira obra permanente em uma instituição brasileira.
"Promenade" é um trabalho sonoro, instalado em uma grande sala retangular de uma das galerias do Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), que apresenta desde a última quinta novas obras de sua coleção -uma das mais destacadas do Brasil, com trabalhos de artistas como Steve McQueen, Olafur Eliasson e Jorge Macchi, entre outros (leia abaixo).
Foerster também acabou de inaugurar uma exposição na Tate Modern, "TH.2058", espalhada na enorme Sala das Turbinas do museu londrino, onde propõe um ambiente futurista em que esculturas famosas de Louise Bourgeois, Alexander Calder e Claes Oldenburg tiveram "mutações" e ganharam uma dimensão gigantesca. Em Inhotim, seu trabalho fica na mesma galeria de Eliasson e Macchi, artistas também com trânsito internacional.
"Conheço melhor a obra de Olafur, e acho que é uma boa proximidade. Existe uma proximidade no desejo de propor experiências", conta ela à Folha, por e-mail. Sobre "Promenade", Foerster tem como um dos seus principais objetivos provocar um impacto na percepção do espectador. "Trata-se de um ambiente puramente sonoro que funciona como uma longa seqüência cinematográfica sem imagens. É a dimensão do espaço que garante a experiência.
Ou seja, a aparição de imagens, recordações e visões ligadas à chuva. O estímulo é puramente auditivo -nenhum suporte visual exceto o espaço vazio do museu, repleto de chuva", explica ela. A instalação foi exposta pela primeira vez em Paris, em 2007, e já passou pelo Museu de Arte Contemporânea de León, na Espanha, e pelo Guggenheim, em Nova York. "Há ajustes feitos em cada espaço, mas o conjunto e a ordem das fontes sonoras continuam os mesmos", diz Foerster.
A artista francesa tem bastante proximidade com o Brasil, pois mora parte do ano no Rio e conheceu mais o circuito brasileiro de arte contemporânea depois de ter participado da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006. Ela apresentou uma obra em que fazia uma intervenção nas estruturas de apoio do prédio da Bienal, que exemplifica outra vertente do sua obra: fazer trabalhos que se relacionem com a arquitetura dos locais onde são expostos. "Gostei muito de dialogar com essa arquitetura que produz espaços muito estimulantes, mas gostei também de dialogar com Lisette Lagnado [curadora da 27ª Bienal], com quem a conversa não parou mais desde então", conta ela.
Bienal
Sobre a "Bienal do Vazio", ela tem acompanhado de longe o debate sobre a proposta do evento. "Estou a par dessas discussões. Existe na França um filme dos anos 70 intitulado "L'An 01", cujo slogan é "paramos tudo, recomeçamos, e não é triste". Gosto muito dessa idéia -a gente poderia estendê-la a todas as áreas. É bom fazer uma pausa para estimular a pesquisa", comenta. Foerster também tem uma importante obra audiovisual e fez videoclipes para artistas franceses, em especial Bashung. "Com Bashung aprendi muitas coisas, mas sobretudo que, mesmo num contexto de grande difusão, é possível preservar a radicalidade e o gesto artístico", diz ela.
Mostras coletivas destacam videoarte, com obras de McQueen e Cao Guimarães
Para apresentar novas obras de sua coleção, o Centro de Arte Contemporânea Inhotim fez um recorte diferente do que vinha sendo apresentado. Duas de suas galerias exibem exposições coletivas, com curadorias que criam conexões entre os trabalhos expostos.
O vídeo ganha destaque. "Um dos objetivos das exposições é a expansão para novas mídias ", conta o alemão Jochen Volz, um dos curadores do centro. Assim, "Lugares" exibe um filme em super-8 dos mineiros Rivane Neuenschwander e Cao Guimarães, um vídeo do albanês Anri Sala e outro de teor muito político da dupla radicada em Porto Rico Allora & Calzadilla. Mas o destaque acaba sendo "Once Upon a Time", do britânico Steve McQueen.
O artista projeta 70 minutos de imagens que a Nasa enviou ao espaço pela nave Voyager 2. Elas sintetizariam o que é a humanidade. McQueen vai encadeando visualmente tais imagens e cria uma trilha sonora perturbadora, com línguas que não existem realmente.
A obra híbrida de pintura, vídeo e instalação de Alessandro Pessoli é outra surpresa do espaço. "Ele é pouco conhecido mesmo na Itália e tem uma obra muito interessante", avalia Rodrigo Moura, curador do centro e da Paralela, atualmente em cartaz em São Paulo. Em "Pontos de Vista", há trabalhos de Olafur Eliasson, Jorge Macchi e Dominique Gonzalez-Foerster, entre outros