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outubro 30, 2008
Circuito off-Bienal movimenta SP, por Mario Gioia, Folha de São Paulo
Circuito off-Bienal movimenta SP
Matéria de Mario Gioia, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 30 de outubro de 2008
Espanhola Cristina Iglesias é principal atração internacional na cidade; jovem Sara Ramo participa de quatro exposições; Galerias Nara Roesler, Millan, Raquel Arnaud e Luisa Strina, entre outras, apresentam trabalhos de nomes como Tunga e Rainer
A Bienal ficou conhecida como "do Vazio", mas, em torno dela, museus, instituições e galerias de São Paulo apresentam uma quantidade de boas exposições capaz de encher a agenda de qualquer pessoa interessada em arte. No chamado circuito off-Bienal, a atração internacional de mais destaque é a espanhola Cristina Iglesias, 50, que fez uma grande intervenção especialmente concebida para a Pinacoteca do Estado.
Renomada artista no circuito internacional, Iglesias apresenta 22 obras em São Paulo, entre instalações, maquetes, gravuras de grande escala e fotografias. Ela é autora de um monumental trabalho realizado no Museu do Prado, em Madri, no ano passado, e tem peças em coleções prestigiadas, como a do Centro Georges Pompidou, em Paris.
"Desde 2005, estamos conversando para tentar montar uma exposição da Cristina aqui. É um privilégio que uma artista de ressonância mundial, com uma obra tão elegante, monte algo especial para o museu", diz o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araujo. "E conseguimos que a exposição acontecesse nessa época de Bienal."
Iglesias desenvolve o projeto desde o ano passado. "Vim ver o espaço e percebi que é um edifício especial. Meu trabalho lida muito com a arquitetura, com a história das construções", conta ela. No Octógono da Pinacoteca, centro do edifício, Iglesias criou uma instalação com grandes placas de ferro que compõem um "corredor suspenso".
Um texto recitado de autoria do escritor britânico J.G. Ballard serve de trilha sonora. Sons urbanos e do campo também acompanham o espectador em dois ambientes que servem de preâmbulo à instalação do Octógono.
"Minha obra é a articulação do espaço escultórico, da intervenção na arquitetura, dos estudos que vêm antes e do registro da obra finalizada. Quis criar um sentido de labirinto no local, fazendo com que o público se guie por referências sensoriais", afirma a artista.
Sara Ramo participa de quatro mostras
Sara Ramo, 33, é uma das artistas com mais visibilidade no circuito paulistano. Tem individual na galeria Fortes Vilaça, fotografias na Paralela, vídeo na coletiva "Cover", no MAM-SP, e ainda é uma das premiadas com o prêmio Marcantonio Vilaça, em cartaz na Fiesp.
"A Sara tem uma grande liberdade em se expressar por diversos meios e com belos resultados. Faz de seus registros intimistas em vídeos, fotografias, colagens e instalações algo performático, mas também misterioso, pois às vezes não está em cena", avalia Rodrigo Moura, curador da atual Paralela.
Na Fortes Vilaça, ela apresenta colagens, instalação e vídeos, entre os quais se destaca um realizado em Saconia, bairro madrileno onde viveu até a adolescência. "A câmera está colocada em uma escala mais baixa, que remete ao olhar que eu tinha quando era criança e andava por lá. Isso gera um certo deslocamento", diz ela.
A narrativa do vídeo percorre as ruas de concreto e tijolos e é pontuada por elementos como uma esfera e uma caixa de papelão, além de flocos de isopor. "Eles nunca se encontram. Há um desencanto, uma impossibilidade, presente em outros trabalhos também."