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outubro 20, 2008
Exposição faz panorama da 'nova arte nova', por Suzana Velasco, O Globo
Exposição faz panorama da 'nova arte nova'
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Globo do dia 20 de outubro de 2008
Mostra ocupa os três andares do CCBB com obras de 57 artistas que despontaram na última década
Em cinco meses, o crítico de arte Paulo Venancio Filho tinha a tarefa de ocupar os três andares do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com a mais recente produção artística brasileira. Sem a pretensão de fazer uma mostra conclusiva, ele acabou sendo, mais do que um curador, que propõe um recorte específico da arte, um coordenador entre obras diversas. Ele reuniu mais de cem trabalhos de 57 artistas na exposição “Nova arte nova”, que será aberta amanhã para o público, seguindo para São Paulo em janeiro do ano que vem.
- Procurei suspender um critério curatorial. A mostra não trata de um assunto, não tem um título muito enfático. A idéia é pôr à vista a produção de artistas que se formaram nos últimos dez anos, alguns nem tão jovens, mas que entraram em evidência nesse período - afirma Venancio Filho. - Não é uma exibição de uma geração, como em outros momentos da história da arte brasileira, em que havia uma unidade entre as propostas. Agora há uma diversidade muito grande.
Venancio Filho tentou equilibrar, na seleção, nomes já reconhecidos no meio artístico e outros de visibilidade menor. Assim, artistas como Laura Erber, Matheus Rocha Pitta, Thiago Rocha Pitta, Ana Holck, Alice Miceli, Otavio Schipper, Felipe Barbosa, Sara Ramo e Marilá Dardot - todos representados por galerias importantes - unem-se a nomes como Bruno Miguel, Tatiana Ferraz, Bianca Tomaselli, Maria Lynch, Romano, Gaio Matos e Lívia Moura, que, por enquanto, não têm galeria.
- A arte surgida nessa última década tem uma fluência global, uma contemporaneidade forte que vem desde o neoconcretismo. Os artistas estão mais conscientes da História da arte brasileira - diz o curador. - E acho que isso acontece também dentro do Brasil, não se vê uma diferença regional entre as obras. É claro que ainda há uma concentração de artistas de Rio e São Paulo. Mas a idéia de regionalismos caducou, hoje se podem fazer exposições como esta sem concessões a regiões.
Catálogo terá textos de cinco novos críticos de arte
Para Venancio Filho, o mais importante era usar a mostra para dar visibilidade a uma produção geralmente restrita a instituições de arte. A pluralidade de temas e meios - vídeos, fotografias, pinturas, instalações, esculturas, objetos, desenhos - se mistura pela coleção, que não está dividida por suportes. A escolha das obras, segundo o curador, foi compartilhada, num diálogo com os artistas. E a montagem foi intuitiva, em função do espaço e das relações estéticas entre as criações, e não de um conceito prévio: - Não quis montar uma feira de arte, com apenas um trabalho de cada artista. E procurei espaços livres, para as obras respirarem.
O catálogo de “Nova arte nova”, bilíngüe, será uma espécie de obra de referência sobre cada artista, com biografia e imagens - como nos registros de grandes feiras e bienais. Além de um texto de Venancio Filho, o catálogo terá escritos de cinco novos críticos de arte: Luisa Duarte, Guilherme Bueno, Cauê Alves, Marisa Florido e Daniela Labra.
- Não é a geração em que eu me formei, por isso quis reunir textos de novos críticos, dando a eles toda a liberdade de falar de artistas que não estão na exposição - conta o curador.
Os cinco críticos e Venancio Filho participarão de uma mesaredonda no CCBB, em data a ser definida. Haverá ainda uma palestra de Ann Gallagher, curadora da Tate Modern, no próximo dia 28; e outra de Briony Fer, professora de história da arte da University College London, em 6 de novembro.