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agosto 4, 2008
Exposição ressalta "estado de exceção" de imigrantes coreanos, por Silas Martí, Folha de São Paulo
Exposição ressalta "estado de exceção" de imigrantes coreanos
Matéria de Silas Martí, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 4 de agosto de 2008
Os apresentadores de telejornais coreanos surgem na tela para advertir: "Se acordar com o cabelo bagunçado, basta um pouco de água para que ele volte a ser como estava ontem". Bem no meio da sala expositiva, há uma réplica enorme de uma caixa de lámen, o macarrão oriental. É mais fácil definir a mostra em cartaz no Paço das Artes pelo que ela não é. "Estado de Exceção -°Venha Ver a Coréia (Ver Você)" não é uma investigação etnográfica sobre os coreanos em São Paulo. Não é uma exposição de obras de artistas daquele país. Também não é uma tentativa de dar voz à comunidade de imigrantes.
Os trabalhos de dois coreanos e sete brasileiros foram produzidos na zona cinzenta mútua que se forma entre a comunidade coreana e São Paulo. "É uma zona que não é nem lá nem cá", diz o curador, Marcelo Rezende. "A relação com a comunidade coreana é intermitente, diálogos que não se completam."
Longe de tratar a arte como ação social que busca sanar mazelas de um grupo excluído, as obras ressaltam um estado de exceção permanente: em vez de se integrar à cultura local com o passar dos anos, imigrantes coreanos mantiveram a própria tradição.
Com fogo, o artista Marcelo Reginato ilustra o tempo que essa mistura pode levar. Ele queima incenso brasileiro e coreano, misturando a fumaça dos dois e, mais tarde, as cinzas que se acumulam no chão indistintas.
A artista Alice Shintani, neta de japoneses, pesquisou nos mercadinhos do Bom Retiro, reduto de ocupação coreana, para encontrar a caixa de lámen que decidiu reproduzir, mais para embaralhar do que explicitar referências. "Eu sinto esses agrupamentos entre semelhantes. Tem um limbo aí." No mesmo bairro, Raquel Garbelotti e Rodrigo Matheus dão ares de documentário antropológico às vitrines e propagandas de produtos coreanos.
Fora de contexto, as imagens acompanhadas de uma narração teórica questionam o verdadeiro objetivo por trás da arte que tenta usar uma comunidade como matéria-prima.