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abril 25, 2006
Cartas de Rosângela Rennó e Annelise Davée Llerena para o CCBB em 24 de abril de 2006
Cartas de Rosângela Rennó e Annelise Davée Llerena para o CCBB em 24 de abril de 2006
A artista Rosângela Rennó e a colecionadora Annelise Davée Llerena, proprietária da peça da artista exposta na Erótica no CCBB, escrevem ao Diretor do CCBB, Marcelo Martins Mendonça, colocando sua decisão de cobrir a referida peça no Rio e retirá-la da itinerância para Brasília, caso a obra de Márcia X não seja reintegrada a mesma mostra.
Ao Sr. Marcelo Martins Mendonça
Diretor do CCBB RJ
Rua Primeiro de Março, 66 - centro
Rio de Janeiro/RJ - 20010.000
Prezado Sr. Marcelo Mendonça,
É com grande pesar e perplexidade que recebi a notícia da retirada da obra "Desenhando com terços", de autoria de Márcia X, da mostra "Erótica - os sentidos na arte", por decisão da coordenação do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.
Como artista e, em particular, integrante da exposição realizada sob curadoria de Tadeu Chiarelli, não posso deixar de manifestar meu repúdio ao ato de censura praticado sobre a obra de uma colega que foi, inclusive, contemplada recentemente com uma grande retrospectiva no Paço Imperial, também no Rio de Janeiro.
A censura perpetrada sobre a obra de Márcia X afeta não somente a imagem e a obra da mesma mas também a todos nós, artistas, na medida em que nos deixa vulneráveis a atos arbitrários de restrição de nossa liberdade de expressão. Atitudes como esta jamais poderiam ser tomadas por uma instituição pública como o CCBB, motivadas por quaisquer interesses ou critérios que não fossem os estéticos, sem um amplo diálogo com a curadoria, a classe artística, os artistas envolvidos ou seus representantes.
Quero dizer que já estou em contato com os proprietários das duas obras de minha autoria que fazem parte da mostra para que solicitem a retirada imediata das mesmas até que a obra de Márcia X volte ao espaço expositivo. Tanto os colecionadores Annelise e Juan Llerena Jr. e Nilton Campos, diretor do Museu de Arte de Ribeirão Preto, estão de acordo e dispostos a apoiar minha decisão. Estou solicitanto, inclusive, que as minhas obras não prossigam dentro da itinerância da exposição caso a obra "Desenhando com terços" não seja definitivamente reintegrada à mesma.
Sem mais,
atenciosamente,
Rosângela Rennó
PS. Este email segue com cópia para Rosana Monteiro, da gerência de eventos e Carlos Machado, assessoria de artes visuais do CCBB, os dois colecionadores envolvidos citados acima, Tadeu Chiarelli, curador da exposição e alguns dos artistas integrantes da mostra "Erótica - os sentidos na arte", Patrícia Queiroz e Expomus, Patrícia Canetti e Canal Contemporâneo, Suzana Velasco, jornalista de O Globo, Fábio Cypriano, jornalista da Folha de São Paulo e colegas da Gentil Carioca.
Ao Sr.
Marcelo Mendonça
Centro Cultural do Banco do Brasil
Rio de Janeiro
É com grande pesar que tomei conhecimento da retirada da Obra de Marcia X da Exposição Erótica que se encontra no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, neste momento.
Não poderia deixar, na qualidade de colecionadora que vem contribuindo com o empréstimo de uma das obras relevantes da artista Rosângela Rennó, que imprime especial significado à Exposição Erótica, de me manifestar contra este ato de cerceamento da liberdade de expressão artística.
Assim sendo, como manifesto contrário a esta decisão do Banco do Brasil de retirar arbitrariamente a obra de Marcia X da referida Exposição, que tomo as seguintes resoluções, já apresentadas e apoiadas pela artista Rosângela
Rennó:
1 - Solicito que o Centro Cultural do Banco do Brasil cubra a obra de minha propriedade "As Afinidades Eletivas" que se encontra em exposição na mostra Erótica, a partir desta data, com um pano preto, em sinal de luto, até que a obra de Marcia X seja reintegrada à Exposição;
3 - Solicito que no caso de não ser possível cobrir a obra, que seja retirada da sala de exposição, até reintegração da obra de Márcia X;
2 - Condiciono a participação da obra de minha propriedade à Exposição Erótica em sua itinerância para Brasília à reintegração da obra de Marcia X à mesma mostra.
Finalizando, reitero meu sentimento de repúdio a este tipo de arbitrariedade que põe em risco a independência dos Centros Culturais do Banco do Brasil em sua dinâmica de interação com a sociedade brasileira.
Annelise Davée Llerena
Prezados Rosana Monteiro e Carlos Machado
Tendo em vista a decisão da colecionadora Annelise Davée Llerena, conforme carta enviada pela mesma ao Sr. Marcelo Mendonça, diretor do CCBB do Rio de Janeiro, gostaria de saber como vamos proceder com relação ao recobrimento da obra As Afinidades Eletivas que se encontra, nesse momento, dentro de um dos cofres do 2o andar, como parte do corpo da exposição Erótica.
Gostaria que a obra fosse recoberta antes da abertura do CCBB ao público, amanhã mesmo, 3a feira. Pretendo, portanto, estar no CCBB amanhã, por volta das 11 horas da manhã.
Achei bastante acertada a decisão da colecionadora de recobrir a obra com tecido preto, sem que seja feita a retirada da obra.
Sem mais,
Atenciosamente,
Rosângela Rennó
Acho muito interessante toda essa discussão e o espaço que vem tomando nesses dias na mídia, vistos aqui pelo canal, (o caso de censura com a referida obra de marcia X), fico muito contente em ver os componetes do sistemao da arte neste atrito entre produção e circulação do objeto de arte. E a posição de rosangela rennó frente a tal situação, é muito pontual e eficaz cobrir sua obra em respeito a outra retirada.
Já estou vendo a foto da exposição estampada no jornal com as obras encobertas de preto em luto contra a retirada da obra de marcia X. _HISTÒRICO_
Por mais negativo que pareça ser o ato de retirada da obra da artista, é muito positivo essa discussão se tornar pública nesse âmbito de envolvimento entre os artistas e a população via rede de comunicação.
Mas realmente é um caso muito perigoso com ameaça de se tornar uma febre de católicos ou jesuísticos, como citado em carta do canal com o CCBB.
atenc.
traplev
Posted by: traplev at abril 26, 2006 1:48 AMÉ uma injustiça atacar o CCBB dessa maneira assim como a censura da obra de Márcia X é injusta. Sou artista baiano e todas as vezes que vou ao Rio faço questão de visitar o CCBB que deve ser um orgulho para todos nós brasileiros. Todos sabem (ou deveriam saber, antes de dizer bobagens) que o CCBB é uma entidade ligada ao Banco do Brasil. Não é independente em suas decisões, pois está vinculada à direção em Brasília. Nos jornais, o Banco deixou claro que a decisão era da presidência. Assim, o que o CCBB poderia fazer? Rebelar-se contra os seus superiores? Seria suicídio.
Propor o "enterro" simbólico do CCBB é um crime, uma afronta a essa entidade que promove e apóia a cultura brasileira - e carioca - há mais de 15 anos. Respeitem o CCBB! Atacar o CCBB é atacar todos os cidadãos que ajudaram a construí-lo ao longo desses anos. O que seria do centro do Rio se não fosse a atitude corajosa do Banco em resgatá-lo através de um prédio maravilhoso que causa inveja a todos os brasileiros que vivem em outras cidades (como eu)???
Já encaminhei vários projetos aos CCBBs e nenhum foi aprovado. Mesmo assim, continuo acreditando e confiando nessa entidade e em seus técnicos e funcionários, que são respeitados no mundo todo. Por favor, ponham a mão na consciência e tratem o CCBB com o devido respeito!
Concordo com as manifestações contra a censura. Concordo com as camisetas, com os abaixo-assinados, desde que mantenham respeito à essa entidade secular.