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dezembro 15, 2005

30 anos de ousadia, por Aimée Louchard

30 anos de ousadia

Matéria de Aimée Louchard, originalmente publicada no Jornal do Brasil do dia 11 de dezembro de 2005

Escola de Artes Visuais do Parque Lage faz aniversário de olho no futuro

Como toda balzaquiana, ela chega aos 30 com algumas rugas e muitas histórias para contar. Os sinais do tempo sob a forma de rachaduras estão pelas paredes. Até passam despercebidos quando o visitante menos informado ouve as inusitadas histórias do lugar que já faz parte da História da cidade.
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage se preparou à altura das comemorações de suas três décadas de atividades. Sempre na vanguarda da arte contemporânea vai oferecer a partir de quarta-feira uma intensa convivência de passado e presente para a qual todos os cariocas estão convidados. Estão programados shows de MPB com Wagner Tizo, Roberto Menescal e Wanda Sá, exposições multimídia e até um baile de gafieira ao som do celestial saxofone do maestro Paulo Moura.

- A escola sempre teve um perfil abrangente, de amplo trânsito entre as diferentes linguagens artísticas. É um centro de difusão de arte e cultura - define o ex-jornalista, crítico de arte e atual diretor Reynaldo Roels.

Fundada em 1975 pelo artista plástico Rubens Gerchman, a EAV - que é referência de ensino de arte no Brasil e exterior - ocupa desde então o casarão neoclássico de 1922 em meio ao Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico. Criou fama pela excelência dos professores e pelo talento dos alunos. Artistas plásticos de renome internacional como Iole de Freitas, Luiz Ernesto, Anna Bella Geiger, Gianguido Bonfanti, Lena Bergstein, Daniel Feingold, Charles Watson e João Goldberg passaram por lá e retornaram na função de professores.

Destacar-se durante os cursos da EAV significa entrar no seleto grupo de artistas grifados. A cotação de um painel da ex-aluna e hoje pintora Beatriz Milhazes, especializada em grandes formatos, chegou a bater recentemente a marca das 130 mil libras numa galeria londrina. Patamares semelhantes atingem as obras do também pintor Valter Goldfarb. Ex-aluno 89 a 95 e professor de pintura da escola é o único pintor carioca da última geração com peças nos catálogos da Christie's de Nova York.

Atualmente, a escola tem 600 alunos matriculados em mais de 40 cursos teóricos e práticos, em três turnos. Há desde os tradicionais como pintura e desenho - com turmas especiais para crianças e jovens - aos mais arrojados, como os de meios múltiplos, que incluem cinema, vídeo, matriz digital e fotografia, conhecimentos super-requisitados nestes tempos de alta tecnologia.

Quem os procura é gente como Mariana Manhães, de 28 anos, que em 2002, recém-formada, decidiu engavetar o diploma de psicóloga para seguir o sonho de viver de arte. De lá para cá, fez vários cursos. Não se arrependeu. Nem concluiu o de Análise e Inserção na Produção Contemporânea, com Iole de Freitas, e já conquistou o prêmio Gilberto Chateaubriand no 12° Salão de Arte Contemporânea da Bahia, com a vídeo-instalação Movido Movente.

- Quem quer conhecer ou trabalhar com arte tem, obrigatoriamente, que passar pela EAV- decreta a jovem artista.

Quem chega acaba criando um profundo vínculo afetivo com a escola. Foi o caso, por exemplo, de Luís Pizarro, um dos expoentes da chamada geração 80, reconhecendo que entrar na escola em 81 foi um passo decisivo em sua vida e carreira.

- Tinha aulas todo dia, era um curso tipo intensivão com feras como o Áquila e o Watson - relembra o artista.

No parecer dele, o grande mérito da instituição foi dar aos artistas novatos a possibilidade de se expressarem em plena ditadura. Graças a isso, as galerias abriram as portas e se criou um público jovem para as obras de arte.

- A EAV entende que não basta o aluno decidir ser artista. Além de ensinar o ofício, a escola envolve professores e alunos num ambiente em que se vive e respira arte por 24 horas - sintetiza Pizarro.

Convicto de que só se torna artista quem é teimoso, pois a arte não é só profissão mas projeto de vida, o diretor Reynaldo Roels voltou a tecer planos para o futuro. Coisa impensável desde 2002, quando a cessão de uso do casarão, dada pelo governo federal, expirou e a burocracia estatal foi, como de hábito, empurrando tudo com a barriga para desespero dos alunos e professores, sempre temerosos de um despejo iminente.

- Felizmente, acabamos de assinar a nova cessão com o Ibama por 35 anos, renováveis por igual período, o que nos dá condição de buscar parcerias e patrocínios para obter auto-suficiência da escola - festeja o diretor.

Entre os convênios, o mais importante foi celebrado com o Museu de Arte Moderna (MAM), que permitirá, a partir de janeiro, expor as obras de alunos, previamente selecionadas por uma comissão, nas galerias do museu. Mas não é só. Com novos aportes de capital, a EAV poderá reformar e abrir de segunda a segunda a biblioteca - a única especializada em arte contemporânea da cidade -, restaurar a área de gravura - que tem no acervo preciosidades como uma prensa francesa do início do século 20 -, abrir o campo de esculturas para exposição permanente e reforçar a oficina de 3D.

O escultor Adalberto Trombetta, responsável pela parte prática da oficina, coordenada por João Carlos Goldberg, espera por este momento com ansiedade. Motivos não lhe faltam.

- A escola foi pioneira e abriu um universo de possibilidades, iniciando uma cultura de consumo para a obra de arte - diagnostica Trombetta.

Tem toda razão. Pela primeira vez, a EAV participa de um circuito internacional de exposições com 27 esculturas manipuláveis, de pequeno formato, nos mais diversos materiais, criadas por alunos do núcleo de 3 D. A exposição New Ideas in Medallic Sculpture encerrou temporada de dois meses em novembro, na Medialia Gallery, passará, ainda, pela Filadélfia e por Lisboa antes de desembarcar na EAV em outubro de 2006.

Posted by João Domingues at 3:02 PM | Comentários(1)
Comments

Parabéns amigo Trombetta entre em contato.

Abraço

PIUZINHO

Posted by: PIU - ARARAS at fevereiro 15, 2009 12:18 AM
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