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junho 16, 2005
A morte do Masp por Mario Cesar Carvalho e cartas dos leitores
A morte do Masp e cartas dos leitores da Folha SP
MARIO CESAR CARVALHO é repórter especial
Matéria originalmente publicada na Folha S. Paulo, Opinião, em 13 de junho de 2005, e as cartas no Painel do leitor em 14 de junho de 2005.
"Até que enfim apareceu alguém lúcido -o jornalista Mario Cesar Carvalho- para lembrar o que está acontecendo com o Masp na sua derrocada enquanto seu presidente "passeia" pela Daslu. É o fim do mundo! Não para o presidente do Masp, é claro, que está muito bem posicionado no mercado. Onde estão os artistas para colocar a boca no trombone?"
Marcelo Gomes Sodré (São Paulo, SP)
"Queremos cumprimentar o jornalista Mario Cesar Carvalho pelo primoroso artigo "A morte do Masp" (Opinião, pág. A2, 13/6). Só faltou acrescentar que o arremedo de "neoclássico" com que o arquiteto Julio Neves vestiu o bunker Daslu sugere uma outra morte: a da arquitetura brasileira."
Ana Luiza Nobre e Otavio Leonídio, arquitetos (Rio de Janeiro, RJ)
O Masp (Museu de Arte de São Paulo) não recebeu nem um centavo de doadores privados neste ano. Talvez por isso sejam reveladoras as fotos em que Julio Neves, o presidente do museu, aparece sorrindo na inauguração da Daslu, cujo prédio foi projetado pelo arquiteto.
As fotos são reveladoras porque expõem cruamente o muro que separa os novos ricos do universo da arte: os que pagam R$ 4 mil por uma saia ou R$ 8 mil por um terno acham que não vale a pena dar um centavo para o Masp ou para qualquer outro museu.
A ascensão meteórica da Daslu e a morte lenta do Masp parecem fazer parte de um mesmo fenômeno: aquele em que a elite paulistana abandona completamente a esfera pública, o espaço de convívio com os diferentes, para se isolar em bunkers como o que abriga a Daslu.
Museus são um dos melhores indicadores da predisposição da elite para dividir um de seus bens mais valiosos: a arte. É por isso que o Brasil dos anos 70 assustava os artistas estrangeiros. Como pode um país tão pobre oferecer obras primas de Van Gogh, Cézane e Modigliani num prédio que é, ele próprio, um assombro modernista?
Esse país parece ter acabado. Desde outubro de 1994, quando derrotou José Mindlin por um voto (22 a 21), Neves promove um processo de desmonte do Masp. Trocou o piso, aposentou os cavaletes de vidro e concreto, levantou paredes e criou uma sala VIP. Por incrível que pareça, ninguém fez nada _o Patrimônio Histórico, o Ministério Público, os artistas, os colecionadores, os críticos. Neves extrai suas forças desse vácuo: há dez anos ele está na presidência do Masp.
Neves trata o prédio de Lina Bo Bardi (1914-1992) como se fosse mais uma obra dele. Não é por capricho que se quer manter os cavaletes de vidro e o piso básico do Masp. Eles narram as opções de Lina por um modernismo seco, sem adereços. Refletem as escolhas políticas da arquiteta. Lina era comunista e, no período mais negro da ditadura militar, em 1968, emprestava o canteiro de obras do Masp para Carlos Marighela, um dos guerrilheiros mais procurados, fazer reuniões da Aliança Libertadora Nacional.
Neves, amigo de infância de Paulo Maluf, não se contenta em desfigurar o museu. Quer colocá-lo à sombra de uma torre de 125 metros de altura projetada por ele. O próprio arquiteto apelidou o projeto com o inacreditável nome de 'pirocão'. A justificativa jeca para a altura é que do topo da torre daria para ver o mar em dias claros. A torre, na visão de Neves, ajudaria a levantar recursos para o Masp. O arquiteto não consegue mostrar decentemente o melhor acervo da América Latina e quer mostrar o mar? Na escala Neves, uma torre parece valer mais do que um Rafael ou um Ticiano.
Parece inacreditável, mas há tucanos lotados na administração do prefeito José Serra (PSDB) que apóiam a construção da torre. Não percebem, talvez, que o museu corre o risco de virar uma extensão dos negócios imobiliários de Neves.
Essa história melancólica parece sinalizar o nascimento de uma nova era, na qual a elite privatiza bens públicos, como os museus, ou transforma-os em acessório de seus negócios. É o custo da ignorância, não dos pobres, mas dos que estão no topo da pirâmide econômica. Como não há mecenato no país, os museus viraram a casa da sogra.
Sobre esse meu ilustre vizinho e colega de profissão... que vergonha sinto...por tanto oportunismo irresponsavel,outros monstros já surgiram, saidos da mesma prancheta,parceria nefasta entre arquitetos inescrupolosos e politicos ainda piores.Falou-se sempre desse casamento de conveniencia entre Maluf e Neves,mas na inauguração daquele castelo de horrores,a Dslulandia, só se sobressaia a nata do PSDB...mudam-se as moscas... São Paulo é o paraiso dos coniventes, de alguma forma ,todos imaginam estar fazendo parte de alguma coisa importante... se inflam para as fotos como se fossem de fato celebridades, isso é ainda mais jeca do que ver o mar da Av.Paulista. Todos querem tirar uma casquinha e tiram varias...
Sou também arquiteto e por infelicidade, vizinho de porta desse mega-empreededor politico, que faz uso desse titulo sem qualquer constrangimento. Seria impressionante esse artigo sobre a morte do Masp, se não fosse mais impressionante o silencio sobre isso nesses dez anos. O paulistano abre mão muito facilmente de seus tesouros , nunca soube valoriza-los, por isso não reinvidica nada....veremos agora o que acontecerá com a Paulista nessa reforma.
O mau cheiro do rio Pinheiros, não aparece nas fotos e tampouco na caricatura grotesca que se exibiu em todas as capas dos cadernos da Folha nesse dia historico, que foi a inauguração da Daslu. Historico sim, pois nesse dia a cidade se assume como é, mostrando sua cara esticada, desfigurada, deselegantemente enfiada em seu pretinho basico de alguns mil dolares... e sorri para os flashs, despudoradamente. A Daslu está no lugar certo.
Pra não dizer que não falei do MUBE, aquela casa de eventos do nosso bairro chic...
Sobre esse meu ilustre vizinho e colega de profissão... que vergonha sinto...por tanto oportunismo irresponsavel,outros monstros já surgiram, saidos da mesma prancheta,parceria nefasta entre arquitetos inescrupolosos e politicos ainda piores.Falou-se sempre desse casamento de conveniencia entre Maluf e Neves,mas na inauguração daquele castelo de horrores,a Daslulandia, só se sobressaia a nata do PSDB...mudam-se as moscas... São Paulo é o paraiso dos coniventes, de alguma forma ,todos imaginam estar fazendo parte de alguma coisa importante... se inflam para as fotos como se fossem de fato celebridades, isso é ainda mais jeca do que ver o mar da Av.Paulista. Todos querem tirar uma casquinha e tiram varias...
Sou também arquiteto e por infelicidade, vizinho de porta desse mega-empreededor politico, que faz uso desse titulo sem qualquer constrangimento. Seria impressionante esse artigo sobre a morte do Masp, se não fosse mais impressionante o silencio sobre isso nesses dez anos. O paulistano abre mão muito facilmente de seus tesouros , nunca soube valoriza-los, por isso não reinvidica nada....veremos agora o que acontecerá com a Paulista nessa reforma.
O mau cheiro do rio Pinheiros, não aparece nas fotos e tampouco na caricatura grotesca que se exibiu em todas as capas dos cadernos da Folha nesse dia historico, que foi a inauguração da Daslu. Historico sim, pois nesse dia a cidade se assume como é, mostrando sua cara esticada, desfigurada, deselegantemente enfiada em seu pretinho basico de alguns mil dolares... e sorri para os flashs, despudoradamente. A Daslu está no lugar certo.
Pra não dizer que não falei do MUBE, aquela casa de eventos do nosso bairro chic...
brilhantes, as considerações. pérolas, as formas. couro de jacaré, a realidade.
Posted by: Luis Andrade at julho 2, 2005 2:26 AMInfelizmente nosso patrimônio fica em segundo plano quando se pode aproveitar da imagem e prestígio. Sou estudante de arquitetura e é triste acompanhar o empreendedorismo a que está se destinando.
Posted by: Ana Paula Silva at julho 10, 2005 12:44 AM