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Como atiçar a brasa

 


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junho 16, 2004

Das ruas do Rio para o mundo (A praga Mazeredo se espalha)

Mazeredo_capa.jpg


Matéria publicada originalmente no jornal O Globo, no Segundo Caderno, no dia 16 de junho de 2004.

Das ruas do Rio para o mundo

BERNARDO ARAUJO

Avenida Atlântica, Praça do Lido, Nova York, Paris, Recife, Túnel Zuzu Angel, Avenida Ayrton Senna... as esculturas de Marli Azeredo, ou Mazeredo, estão por toda parte. A ponto de o RioArte, depois de alguma pressão da comunidade das artes plásticas, ter criado uma comissão para decidir o que pode e o que não pode enfeitar as ruas da cidade. Em seu ateliê na Tijuca — que lembra um barracão de escola de samba — a escultora louva a criação da comissão, enquanto fala de seus projetos para o futuro, no Brasil e no exterior.

— É ótimo que se avalie o que pode ser instalado nas ruas e praças da cidade — diz. — Sabe que eu talvez vá para Atenas? Meus trabalhos inspirados em esportes podem me levar até lá.

A enxurrada de esculturas de Mazeredo pelo Rio — e, mais tarde, por várias outras cidades — começou em 1992, quando ela foi convidada a criar o símbolo do Fórum Global, feirão multicultural e étnico no Aterro do Flamengo, que era parte da conferência Rio-92. Desde então, vive sendo chamada para apresentar outros trabalhos em público, como as esculturas em homenagem a Ayrton Senna, Zuzu Angel e a estudante Ana Carolina, morta na saída do Túnel Santa Bárbara em 1998. Mazeredo garante que apenas uma das cerca de 20 obras suas nas ruas do Rio atualmente — incluindo as 15 da exposição "Milênio", que está na Avenida Atlântica há uma semana e, informa ela, deveria ficar por um mês mas pode ser prorrogada — está lá por sugestão sua: "Vitória", na Praça do Lido.

— As pessoas vêem as minhas obras e encomendam novos trabalhos — diz ela, mostrando as autorizações da prefeitura para cada uma delas. — A escultura em homenagem a Zuzu Angel foi um pedido do instituto que leva o nome dela. Eles conseguiram a autorização, eu apenas fiz o trabalho. Eu não posso doar minhas obras à cidade, não sou rica. Esses trabalhos todos passam por auditorias, que verificam desde o gasto com material até o salário das pessoas que trabalham comigo no ateliê.

A exposição "Milênio", por exemplo, que foi autorizada pela prefeitura em 2001, acabou extrapolando o orçamento, que era de cerca de R$ 88 mil.

— É que eu acabo me empolgando, faço mais peças do que o combinado, digo que elas vão ter três metros e entrego com cinco — diz ela. — Mas não faz mal.

Embora não seja rica, Mazeredo — que começou a levar a arte a sério há 30 anos, quando abandonou a carreira de advogada e foi estudar na Escola de Belas Artes, no Parque Lage e em Paris — diz que não precisa da arte para viver. O importante é trabalhar.

— É claro que as minhas obras expostas no Rio e em outros lugares atraem muitas encomendas, que me dão algum dinheiro — admite ela. — Mas não é por isso que trabalho. Tenho 60 anos e me sinto com a vitalidade de quem tem 30. Meu marido, Toni, diz que vou trabalhar até os 90 anos. Esculpo umas 40 peças por ano, cerca de três por mês, todas ao mesmo tempo.

De fato, não faltam projetos na agenda de Mazeredo, como uma exposição em uma galeria do Marais, em Paris — "meu marchand abriu todas as portas na Europa para mim", comemora ela — uma obra na Park Avenue, em Nova York, outra na catedral de São João do Cariri, na Paraíba, e diversos projetos no Rio. Mas não na rua.

— Chega de escultura minha por aí — diz ela. — Adoro ver as pessoas interagindo com as minhas obras, como aconteceu na passagem da tocha olímpica, no domingo, mas o Brasil é muito grande, e o mundo ainda maior.

Ainda bem, para o decorador Edgar Moura Brasil.

— Esculturas como a do Túnel Zuzu Angel e a da Avenida Ayrton Senna são horríveis — diz ele. — Quem deu a essa mulher o direito de emporcalhar a cidade?

Mazeredo sabe da polêmica criada pela quantidade de obra suas nas ruas da cidade, mas se defende.

— Qualquer pessoa pode conseguir a autorização e instalar peças em lugares públicos — diz.

Um integrante da comissão de avaliação do RioArte, no entanto, diz que não é tão fácil assim.

— Houve uma obra do Nuno Ramos, que hoje está no Masp, em São Paulo, que não conseguiu autorização da prefeitura para ficar — lembra ele. — A Mazeredo deve conhecer muito bem os trâmites necessários para isso. Só me parece que para ela tudo é muito fácil. Deveria haver uma discussão maior em torno do que pode ficar nos logradouros públicos, para que faça sentido. Aquelas obras feias na Avenida Atlântica são um crime, e logo em um lugar tão lindo da cidade.

A escultora diz que tem a opinião pública consigo.

— Reclamaram porque não havia peças por toda a avenida, e tive que levar mais uma para lá — conta ela.

A criação da comissão certamente já é um passo à frente, mas ela ainda não está funcionando, nem se reuniu.

— Essa comissão foi inventada pelo secretário das Culturas, é um golpe de marketing que nunca vai sair do papel — diz a artista plástica Patrícia Canetti. — A prefeitura não tem dinheiro para nenhum projeto na área das artes plásticas. Quanto às obras da Mazeredo, não se trata de dizer se elas enfeitam ou enfeiam a cidade, mas de perguntar: qual a importância de uma escultura dela no desenvolvimento de nossa sociedade atual?

Alheia à discussão — que, de resto, nem começou — a escultora exibe mais um de seus projetos, esculturas de imensos guardas (estilizados, é claro).

— Eles poderiam ficar nas esquinas, para ajudar a prevenir assaltos, não acha?

Posted by Patricia Canetti at 7:15 AM | Comentários(9)
Comments

Marazêdo

Com tantos escultores brilhantes nesse país é lamentável sermos obrigados a conviver com trabalhos tão insignificantes como os dessa moça.

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Chico Fortunato at julho 22, 2004 5:52 PM

Há muito tempo venho esperando que alguém acorde para esse crime que estão cometendo contra nosso Rio de Janeiro, colocando essas esculturas de tremendo mau gosto em nossas ruas somente por ser ela uma pessoa bem relacionada, sendo amiga pessoal do político Marcelo Alencar, de onde começou toda essa história de peças em áreas públicas. Além dele, ela frequenta as altas rodas que acabam por decidir o que colocar para afrontar nossa vista.
Vamos lutar contra esse tipo de protecionismo.

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Sérgio Gonçalves at julho 22, 2004 5:53 PM

Peças de extremo mau-gosto. Até quando o Rio vai permitir essa politicagem na cultura?

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Flavia Costa at julho 22, 2004 5:54 PM

Uma sugestão: como sou de São Paulo não conheço asobras da artista em questão.
Sugiro ter o blog imagens da mesma em tamanho visível para que possamos - os não cariocas- acompanhar melhor a discussão!
Abraços,

Laurita Salles
São Paulo

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Laurita Salles at julho 22, 2004 5:55 PM

Nesta quarta feira, 16/06, passando pela Av. Atlântica, reparei numa sequência de obras dessa Mazeredo. Sinceramente, acredito que a exibição pública de obras de arte - e felizemente moramos numa cidade que sempre soube valorizar essa prática - é muito benéfica para a educação da sociedade, enriquece a cidade e
fomenta o desenvolvimento da arte nacional, pois cria demanda e estimula novos artistas a produzir. O problema é o critério adotado para essa exibição: quem é o artista escolhido, que obra é essa e o que ela acrescenta. No caso da Mazeredo, não sabemos porque tantas esculturas suas estão por aí e nem se essas peças possuem o mérito para tal.

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Pablo Lobo at julho 22, 2004 5:56 PM

Não acho que deveriamos dar tanta importãncia para a artista. o meio e o mercadao artistico tem varios nivéis. A arte não vive somente de gênios e de grandes artistas. todos os artistas em todos os níveis tem o direito de criar e de se expressar. Não concordo que ela seja atacada dessa maneira, o seu erro é tentar se colocar em um nível que está muito longe de ser o seu, e querer representar a excelente escultura brasileira. Ela deveria se contentar com o seu próprio meio. O culpado é a falta de uma política cultural( Nacional e estadual)verdadeira e contínua. Fazer Leis que permitam regulamentar não somente a colocaçaõ de esculturas em espaços públicos como projetos urbanísticos para a cidade. Criar comissões compostas por profissionais e naõ por cargos políticos. Porque dar R$ 88mil para um projeto desta artista? enquanto o espaço Sérgio Porto corta pela metade seu orçamento para as atividaes em 2004.
O que é mais feio as esculturas da Mazeredo ou o "pirocão" juntamente com os arcos em volta, que foi colocado em ipanema? Porque não aproveitar para retirar as esculturas e derrubar esse negocio horrível feito por um arquiteto que pensa que é escultor.

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Diô VIana at julho 22, 2004 5:56 PM

Prezado Diô, o culpado não é somente a falta de política cultural mas especialmente de quem, diante dela, não se mobiliza a reorganizá-la. Não penso que tenhamos aqui algo contra a senhora Mazeredo; fora o péssimo gosto para acessórios, me pareceu uma circuntante muito simpática. Mas tenho alguma coisa sim, contra obras que não representem em nada nossa cidade. E por mais que a arte pública não deva ser representada por gênios ou grandes artistas (o que não concordo), alguns equívocos não podem ser severamente repetidos no espaço da Cidade.

Ademais, entendo comissões formadas não somente por "entendidos", mas por pessoas que representem todas as parcelas da sociedade.

Podemos colocar um pano bem grande sobre o pirocão?

Protejam-se!

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: José Miranda at julho 22, 2004 5:57 PM

As esculturas de Mazeredo se integram perfeitamente à paisagem sócio-cultural desse balneário periférico em que se converteu o Rio de Janeiro. Primeiro mudemos o "cenário" (simbolicamente falando) em volta - e só então mereceremos os Amílcar da Castro, Franz Weissman e José Resende que, por antítese, nos conscientizam de nossa mediocridade contemporânea.

Postado originalmente no Blog do Canal.

Posted by: Paulo Assumpção at julho 22, 2004 5:58 PM

Quanto a Sra Mazeredo, relato que ela tem influência com o Prefeito e com o Secretário também (óbvio). Pelo que sei seu marido é funcionário da prefeitura.
Esta senhora que subcontrata escultores para realizar o que ela não sabe é antiética. Logo quando realizei as primeiras peças e as levei para as fundições recebi lá três ofertas deste tipo e as recusei, o que faço somente eu assino.
Já discuti com um escultor porque este defende esta oportunidade de negócio.
A minha colocação é simples, quem não faz o que vê, não saberá fazer o que não vê, aquilo que está nas "idéias que concebem".
Estava a procurar para saber quem é Ricardo Macieira, e pelo que vejo nas linhas escritas é de ser uma pessoa sob suspeita.
Receber dinheiro da Prefeitura do Rio por serviços prestados e fazer parte ao mesmo tempo do quadro de funcionários, como informado no site, não é lícito.
Hoje sei porque sou perseguido.
O Ricardo Macieira mentiu para o líder da Câmara dos Vereadores, este interessado em me informar datas, a fim de me provocar confusão e me impedir de participar da avaliação da tal comissão.
Com exceção da Sra.Maria Alice Saboya que me atendeu pelo telefone, pelo meu propósito de passar pelo crivo da tal comissão, todos os outros o fizeram com posturas que delineavam para o indeferimento do pleito.
Realizo esculturas há somente três anos e realizo qualquer rosto em qualquer tamanho, sendo que no tamanho de um limão em 12 horas.
Executei a escultura de João Cândido, personagem histórico do Brasil,com o rosto com dois centímetros de altura, a peça inteira com 30 cm de altura, sendo aprovada pela sua família e diversos Sindicatos e Associações do Rio de Janeiro.
Executei Tom Jobim e Vinícius de Moraes sentados a mesa de bar conversando, com 30 cm de altura, projeto para alocação no calçadão de Ipanema.
Mais de mil pessoas, moradores de Ipanema e transeuntes de lá assinaram a idéia, dentre eles Ziraldo, Lan, Aroeira, Paulo Caruso, Chico Caruso,Ziraldo, Lobão e Maurício Azedo e Paulo Cerri.
Executei a imagem de um turista extasiado com o Cristo Redentor. Devolveram-me quebrada.
Este menino secretário negou todas com argumentações pessoais e esdrúxulas, embora com a minha proposta para serem realizadas a CUSTO ZERO. Talvez pagando a inábil pseudo-artista Mazeredo seja melhor...
Assinou sozinho as três correspondências me informando da decisão como “Presidente da Comissão” sem nunca ter divulgado o regulamento adotado, data de reunião e nem os nomes dos seus integrantes, verdadeiro cheiro de covil de maracutaia.
A Comissão deveria ser composta pelos Vereadores da nossa Cidade, pelo Secretário de Educação, pelo Secretário de Urbanismo e pelo Secretário de Cultura.
O secretário de cultura não pode ser o definidor de cultura. Não tem mérito para isso.
Quem quiser ler tais correspondências e ver as peças, de corpo inteiro, me faça contato pelo e-mail valterbrito@uol.com.br

Posted by: valter brito at agosto 26, 2005 2:29 PM
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