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julho 30, 2019
Virginia Aita comenta Daniel Senise: A Construção da Ausência no Cine Iberê, Porto Alegre
O Cine Iberê recebe no dia 4 de agosto, domingo, às 16h, a curadora e pesquisadora em filosofia, estética e critica de arte, Virginia Aita, na sessão comentada de “Daniel Senise: A Construção da Ausência”, documentário sobre um dos mais emblemáticos pintores da chamada “Geração 80” no Brasil. Com direção de Cacá Vicalvi, o filme discute os problemas da pintura na cultura contemporânea. Parte do vídeo foi rodado em Nova York, no ateliê de Senise. Foi possível assim fazer um retrato do processo de criação do artista. A outra parte foi gravada no Rio de Janeiro, durante uma de suas aulas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O documentário traz ainda depoimentos de críticos a respeito de sua obra.
Sobre o artista
Daniel Senise ingressou em 1980, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage como aluno e, de 1986 e 1991, seguiu como professor. Na década de 1980, frequentou o ateliê de pintura livre de Luiz Aquila e integrou, com Angelo Venosa (1954), Luiz Pizarro (1958) e João Magalhães (1945), o Ateliê da Lapa. Participou em 1984 da mostra “Como Vai Você, Geração 80?”, exposição que reuniu artistas de várias tendências do momento, com objetivo de revalorizar a pintura, pesquisando novas técnicas e materiais.
No início da carreira, Senise produz obras com paisagens povoadas por formas volumosas, que ocupam a quase totalidade da tela. Esses objetos impõem-se como presenças monumentais, mas são vazios de conotações temáticas. Como observou o crítico Fernando Cocchiarale, “a pintura de Senise caracteriza-se pela ambiguidade - o artista revela e oculta, ao mesmo tempo, imagens de objetos que se aproximam daqueles cotidianos, mas não podem ser facilmente identificados. A dramaticidade de suas obras iniciais é determinada pela forma como ele articula as imagens com um tratamento volumétrico vigoroso e uma gama cromática soturna.”
A partir da metade da década de 1980, a figura não é mais tão determinante em suas telas e o uso da cor diversifica-se. O artista passa a adicionar registros da impressão de elementos extrínsecos a sua obra. Em muitos trabalhos, prepara a tela com pigmentos e a estende, ainda úmida, sobre o piso do ateliê. Ao ser descolada do chão, ela retém na superfície a marca, como uma impressão, das rugosidades do piso, incorporando também resquícios de telas anteriores. O quadro é então retrabalhado.
Senise produz um repertório de imagens que parecem desgastadas pela ação do tempo. A partir de 1989, passa a adotar, entre outros procedimentos, o uso de pregos de ferro, que deixam nas telas as marcas da oxidação. Em outras obras, emprega tintas prateadas, industriais, porque evocam uma memória distante e a sensação da imagem fotográfica.
Suas pinturas estabelecem, portanto, uma relação direta com a história da arte, com o universo das imagens e a maneira como este é percebido. Para a crítica inglesa Dawn Ades, “sua pintura pode ser compreendida em termos de equilíbrio e peso, e de presença e ausência de objetos. Suas imagens abrem-se a um vasto campo de experiências e evocações materiais e poéticas.”
O Cine Iberê tem a curadoria da realizadora e produtora audiovisual, Marta Biavaschi. O projeto tem por objetivo promover filmes que dialoguem com as exposições em cartaz na Fundação Iberê (Avenida Padre Cacique 2000, Porto Alegre, RS). "A Construção da Ausência" dialoga com a exposição Antes da Palavra.