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julho 30, 2019
Daniel Senise na Iberê Camargo, Porto Alegre
Daniel Senise traz à Fundação Iberê 1.587 estórias de vidas marcadas em lençóis brancos
A Fundação Iberê inaugura no dia 3 de agosto (sábado) a exposição Antes da Palavra, do artista carioca Daniel Senise. A abertura ocorre às 14h e pode ser visitada até 29 de setembro, no Átrio e 2º e 3º andares. Às 16h, também no Átrio, acontece um bate-papo com o artista e a curadora da exposição (50 vagas, por ordem de chegada).
Com curadoria de Daniela Labra, a mostra apresenta 23 trabalhos de Senise, entre pinturas e objetos, articulados em torno da instalação monumental "1.587" , constituída por duas grandes telas suspensas no Átrio, postadas frente a frente, cujas lonas são lençóis usados em um motel carioca e no INCA – Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. "As marcas e manchas visíveis nas superfícies das peças são prova de um tempo transcorrido que é protagonista. Nesse lugar, essa representação - como numa natureza-morta, é substituída pela temporalidade de fato, palpável, a qual exacerba um segundo paradoxo, o da representação/real, contido na obra de arte contemporânea", explica a curadora.
O título da obra decorre do cálculo de pessoas que passaram por esses lençóis ao longo de seis meses. Senise pouco interferiu na maculada imensidão branca, de onde saltam imagens mentais de estórias pessoais desconhecidas. Os números das presenças/ausências, registros, lembranças, momentos de muito amor, mas também de muita dor, impregnados nos tecidos foram alcançados com a ajuda de um matemático e nomeiam cada face da instalação: "Branco 237" refere-se à movimentação no hospital, enquanto "Branco 1.350", no motel.
Somadas, essas cifram atingem 1.587 dramas e êxtases de desconhecidos amalgamados nesta obra de aspecto solene e vertiginoso. Em Porto Alegre, por questões de adequação ao espaço, esta é uma versão reduzida do trabalho original, intitulado "2.892", criado no final da década de 1990 e exibido apenas em 2011, na Casa França-Brasil, centro do Rio.
Em diálogo com a exposição, Daniela convidou seis artistas que pensam o som não em sua estrutura melódica, mas em proposições que indicam ausência, fisicalidade, espacialidade, interrupção, silêncio, tempos alongados e outros motes integrados às ideias primordiais presentes em Antes da Palavra. São eles: Marcelo Armani, Ricardo Carioba, Raquel Stolf, Pontogor, Tom Nóbrega e Felipe Vaz.
Outra novidade da mostra é a joia feita com exclusividade por Daniel Senise para a Fundação Iberê, à venda na loja do espaço cultural. "A peça corresponde ao inverso dos nichos das placas de concreto aparente presentes na fachada da Fundação. O objeto foi moldado em um nicho próximo à entrada da arquitetura de Álvaro Siza e se encaixará perfeitamente, funcionando como uma 'chave de acesso' ao prédio", diz o artista.
No domingo, 4 de agosto, às 16h, acontece o Cine Iberê com a sessão comentada pela curadora e pesquisadora em filosofia, estética e critica de arte, Virginia Aita, de “Daniel Senise: A Construção da Ausência”, documentário com direção de Cacá Vicalvi.