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maio 8, 2019
Fábio Baroli na Zipper, São Paulo
À primeira vista, a instalação de pinturas de Fábio Baroli na Zipper Galeria pode parecer uma abordagem naturalista de um artista que é reconhecido pela representação de cenas cotidianas do interior brasileiro e da figura humana. Na nova série de trabalhos, ele toma como ponto de partida as paisagens características da Mata Atlântica, visando uma construção poética a partir de referências de vegetações nativas do Brasil. Porém, trata-se apenas do ponto de partida: em Selva-Mata – a primeira individual dele na galeria – Fábio Baroli usa a pintura como método para refletir sobre a ação antrópica no meio ambiente.
Com texto crítico de Mario Gioia, a exposição inaugura no dia 11 de maio, às 12h. O artista cria uma paisagem inventada no andar superior da Zipper, um site specific que expande a pintura das telas às paredes do espaço expositivo. “O intuito é estabelecer a intercomunicação, por meio da arte, entre as complexas e sensíveis relações do ser humano e suas ocupações, em seu amplo sentido de posse, ofício e lugar”, observa.
Como é próprio no trabalho do artista, as pinturas revelam marcas de edição (montagens, colagens, intervenções e interrupções) que aludem à característica da editoração gráfica, revelando uma das leituras do artista em relação à ação antrópica sobre o meio natural. A escolha do tema na nova série se deu da perspectiva da redução dos espaços naturais, tendo como paradigma a drástica diminuição das áreas de Mata Atlântica ocorridas desde a colonização europeia até a atualidade. “No fundo, é uma paisagem humana, uma narrativa não linear. O olhar pode partir de qualquer ponto da instalação”, comenta.
A exposição “Selva-Mata” fica em cartaz até 8 de junho.
Sobre o artista
Descendente do ramo genealógico iniciado no Brasil por Almeida Júnior (1850-1899), o trabalho do artista Fábio Baroli (Uberaba, 1981; vive e trabalha em São Paulo) expressa uma visão de mundo ancorada na vivência interiorana e no imaginário regional. Gêneros tradicionais — como retrato, paisagem e natureza-morta — se misturam à cenas do cotidiano do artista em pinturas com gestos bruscos e marcantes, em trabalhos que revelam marcas de edição (montagens, colagens e intervenções) características de programas digitais. A apropriação e a referência da imagem fotográfica fazem parte do processo do artista. Vencedor dos prêmios Funarte de Arte Contemporânea (2011) e Marcantonio Vilaça (2013), o trabalho de Fábio Baroli consta em coleções como MAM Rio, Museu de Arte do Rio e Museu Nacional de Brasília. Principais exposições individuais: Goliath, MuseumsQuatier, Viena (2017); Deitei pra repousar e ele mexeu comigo, CCBB Brasília (2016); Muito pelo ao contrário, CCBNB, Fortaleza (2014); Vendeta: a Intifada, Funarte, Recife (2013). Principais exposições coletivas: Contraponto, Museu Nacional de Brasília (2017); É tudo nosso, Casa da Cultura da América Latina, Brasília (2017); Vértices – Coleção Sérgio Carvalho, Centro Cultural Correios, Braslília, Rio de Janeiro e São Paulo (2015/2016); Prêmio Aquisições Marcantonio Vilaça, Museu de Arte Moderna MAM Rio, Rio de Janeiro (2013).
Texto crítico: Mario Gioia
Mario Gioia (São Paulo, 1974), curador independente, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) e faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas, além do acompanhamento crítico da coletiva Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010). Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016). É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009.