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agosto 27, 2018

José Damasceno na Millan, São Paulo

Em sua primeira exposição individual na Galeria Millan, artista carioca reúne um conjunto de 11 trabalhos inéditos, entre esculturas, gravuras, pinturas e fotografia

A Galeria Millan apresenta, de 01 a 29 de setembro de 2018, a exposição Escadabstrata, a primeira individual do artista carioca José Damasceno na galeria. A mostra, que ocupa simultaneamente a Galeria Millan e o Anexo Millan, reúne um conjunto de 11 novos trabalhos de Damasceno, em diferentes formatos e suportes: são instalações, esculturas, gravuras, pinturas e uma fotografia.

José Damasceno é, por excelência, um escultor. Não só com a capacidade de produzir pequenos ou grandes objetos mas de interferir em ambientes de grande escala, de dialogar com projetos arquitetônicos e imaginar situações fabulosas, transformando a própria natureza e as funções originais das matérias e dos espaços. A ele interessa desconstruir dicotomias tradicionais, como as que separam palavra e imagem, pintura e escultura ou escultura e instalação, assim como as oposições entre dentro e fora, imagem e coisa, figura e fundo, visível e invisível.

A obra que dá título à exposição, por exemplo, é uma escada helicoidal que vai do chão ao teto da entrada do Anexo Millan. A forma da espiral traduz o movimento ascensional a partir de um ponto inicial, etapas de um processo contínuo de desdobramento e de transformação. Só que uma escala intermediária, menor do que a humana, se apresenta: miniatura gigante ou maquele multiescalar? A própria palavra que dá nome à exposição traz consigo “uma vocação de transcendência”, como diz o artista. Escadabstrata: uma palavra de encantamento? Talvez, mas certamente uma ideia-charada que traz consigo um possível estágio, nível, grau a se transpor e ascender. Uma vez pronunciada essa palavra, seu som, sua música, nos transporta a outro lugar acima e além, àquele de uma hipótese ainda por se revelar.

Outro trabalho, este no andar superior da Galeria Millan, subverte o sentido de uma parede em branco: um “Clipe” de luz neon preso no encontro de uma das paredes com o teto transforma aquela superfície em uma grande folha em branco. Já “Soundboard” faz de uma das paredes do Anexo Millan uma grande mesa de som, com 50 “teclas” feitas de calcita flutuando desordenadas naquela grande superfície plana e retangular. No mesmo ambiente, um enorme “Pião” de ferro fundido descansa em um canto, como se repousando após girar intensamente pela sala. A mostra apresenta, ainda, dois conjuntos de gravuras (“Habitat Paragráfico” e “Estudos Paragráficos III”), um conjunto de 240 pinturas feitas com giz de cera derretido (“Monitor Crayon Líquido”), uma fotografia (“Jardim Infravermelho”) e a escultura composta por 90 peças de granito negro “Sombras Figuras”, entre outras obras.

O paradoxo trazido pela ideia de um mover estático tem sido uma das principais questões da obra de José Damasceno, uma vez que o artista sempre busca uma sensação rítmica, cinética ou progressiva em superfícies, acontecimentos ou matérias congeladas. Em seu trabalho, as coisas aparentes e concretas funcionam como propulsoras de um móbil imaginário, que estaria em constante deslocamento, mas que apenas mental ou conceitualmente “aparece”. Existiria então, em sua obra, uma mobilidade e um congelamento potenciais e oscilantes, pois que o enunciado nodal do trabalho problematiza, em paroxismo, a questão do movimento.

José Damasceno (1968, Rio de Janeiro, RJ) utiliza uma grande variedade de materiais, técnicas e meios para investigar os limites da escultura. Sua poética parte do deslocamento e do estranhamento para conceber perspectivas fluidas e móveis da representação dos espaços. O artista potencializa e transforma esses espaços por meio da inserção de objetos e acontecimentos improváveis. Sua pesquisa envolve questões de superfície e profundidade, de solidez e gravidade, produzindo no espectador uma sensação física, vivencial, por meio do contato com a obra. Para a crítica de arte Ligia Canongia, o principal ponto de interesse do artista é o campo das relações mentais, que podem ser estabelecidas entre a ideia e a possibilidade de constituição formal de um objeto.

Expõe regularmente no Brasil desde 1993 e no exterior a partir de 1995. Realizou mostras individuais em espaços importantes, como Santander Cultural, Porto Alegre, RS (2015); Holborn Library, Londres, Reino Unido, e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2014); e Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha (2008), entre outros.

Representou o Brasil com Viagem à Lua, na Bienal de Veneza em 2007, e participou da Bienal de Sydney, Sydney, Austrália (2006); L’Esperienza dell’Arte na Bienal de Veneza, Itália (2005); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2003); e 30ª Bienal de São Paulo, SP (2002), além de exposições coletivas no Phoenix Art Museum, Arizona, EUA (2017); no Museum of Fine Arts, Boston, EUA (2014); Fundament Foundation, Tilburg, Holanda (2009); Centre Pompidou, Paris, França (2008); Museum of Contemporary Art, Chicago, EUA (2004); Museu Serralves, Porto, Portugal (2001); e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ (2000), entre outras.

Sua obra integra acervos permanentes, como Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, EUA; Daros Latinoamerica AG, Zurique, Suíça; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, MG; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Barcelona, Espanha; e Museum of Modern Art, Nova York, EUA.

Posted by Patricia Canetti at 1:25 PM